sexta-feira, 28 de junho de 2013

Vamos organizar as passeatas!

Alguns setores do governo estão pensando (eu apoio!) em estabelecer normas legais que regulamentem e disciplinem as passeatas. As manifestações populares estão, realmente, muito bagunçadas e precisam de maior organização.

Segundo a proposta as passeatas serão enquadradas em uma das seguintes modalidades:

A) Passeata-Família – Serão realizadas no horário matinal, permitindo-se a presença de crianças e bebês. Caso as famílias queiram levar as babás, será expressamente proibido o uso de uniformes, devendo as empregadas vestirem shorts ou bermudas, e usar sandália de dedo. Os passeantes poderão colorir o rosto com tintas verdes e amarelas, inclusive das crianças, desde que os produtos usados sejam previamente aprovados pela Vigilância Sanitária. São proibidas bandas de música e blocos de samba acompanhando a passeata. Se for dia de sol, recomenda-se o uso de protetor solar de textura leve e fácil absorção. As empresas fabricantes de protetor solar poderão participar de licitação para vender os seus produtos no local da passeata. Os passeantes poderão cantar, mas de preferência o hino nacional, sendo admitidos os hinos de clubes e o hino à bandeira. O hino da independência é proibido porque a maioria não sabe a letra, confundindo “Já podeis” com “Japonês”.

B) Passeata-Passeio – Serão realizadas no horário diurno, não podendo ultrapassar o horário das dezoito horas. Os participantes poderão usar bicicletas, motos e carros, permitindo-se o uso de buzina de forma moderada. Serão proibidas aparelhagens de som com barulho estridente nos veículos, fixando-se o limite de sessenta decibéis. A Guarda Municipal deverá portar aparelhos para aferição do som. Crianças serão permitidas, desde que façam a passeata nos bancos de trás dos veículos, em cadeirinhas aprovadas pelo DETRAN. Será proibido cantar, podendo os passeantes fazer exclamações, tipo UUUH! AI Ó! QUE LINDO! E outras equivalentes. Os adolescentes poderão usar celular, smartphone e equipamentos similares, desde que, a cada dois minutos, olhem a frente para não esbarrar em ninguém ou cair num precipício.

C) Passeata-happy-hour – Serão realizadas no horário noturno, depois das dezoito horas. Os participantes poderão portar cartazes, de cartolina ou de isopor, anunciando suas reivindicações, em letra de fôrma e escrita legível. Estão proibidas expressões individualistas, tais como “ESTOU AQUI!” ou “ME FILMA!”. Os passeantes não poderão carregar pedras, pedaços de pau ou de ferro e usar máscara ninja ou de lutador do MMA, UFA e outras categorias. Poderão gritar palavras de ordem, evitando palavras de baixo calão. Somente poderão quebrar vitrines das lojas que fixarem cartaz informando: “Aceita-se quebra-quebra”. Os passeantes deverão seguir em fila tripla indiana, em caminhada e sem correr, respeitando os sinais de trânsito. O policiamento poderá lançar balas de borracha, respeitando uma distância mínima de vinte metros. O INMETRO deverá disponibilizar Fiscais para efetuar a medição da distância. Spray de pimenta somente será usado quando acompanhado de feijoada. Permite-se na Bahia o acompanhamento de acarajé. A Polícia fará a repressão a pé, ou em cavalo cedido pela Polícia Montada Canadense, que possui equinos gentis e educados. Os passeantes deverão inscrever-se na Prefeitura e requerer “Cartão Magnético de Manifestante”, com direito a passe livre em qualquer transporte público. Para obter o Cartão, o manifestante pagará uma taxa de expediente anual no valor de dez reais. Os Bancos poderão fornecer o cartão, com direito a um limite de crédito, pela bandeira Visa ou Mastercard.

Esses setores do governo só não sabem se encaminham ao Congresso tais propostas via projeto de lei, ou se fazem um plebiscito. Talvez consultem o Supremo Tribunal Federal.  

Os impostos e a locação de bens móveis

Os impostos no Brasil estão estruturados em dois grandes grupos:
A) Impostos que incidem sobre o patrimônio e renda;
B) Impostos que incidem sobre a produção e circulação.

Os impostos que incidem sobre o patrimônio e a renda são os seguintes:
- Imposto sobre a renda e proventos – IR;
- Imposto sobre a propriedade territorial rural – ITR;
- Imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana – IPTU;
- Imposto sobre a transmissão causa mortis e doação de bens e direitos;
- Imposto sobre a transmissão inter vivos de bens imóveis e de direitos reais sobre imóveis – ITBI;
- Imposto sobre a propriedade de veículos automotores – IPVA;
- Imposto sobre grandes fortunas (que não está vigorando).

Os impostos que incidem sobre atividades econômicas são os seguintes:
- Imposto sobre produtos industrializados – IPI;
- Imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e serviços de comunicação e transporte intermunicipal e interestadual – ICMS;
- Imposto sobre operações de crédito, câmbio e seguro e sobre operações relativas a títulos e valores mobiliários – ISOF;
- Imposto sobre serviços de qualquer natureza – ISS;
- Imposto sobre importação de produtos estrangeiros;
- Imposto sobre exportação de produtos nacionais ou nacionalizados.

Como se vê tudo está bem cercado: se você tem um carro, paga imposto; tem uma casa, paga imposto; tem um sítio, paga imposto; ganha uma herança, paga imposto; compra uma casa, paga imposto. Se você recebe salário, paga imposto, na medida do aumento do seu patrimônio. De outro lado, qualquer atividade econômica que você exerça, paga imposto. Se você industrializa produto e o vende, paga impostos (IPI e ICMS); se você revende mercadoria, paga imposto; se você pega empréstimo no banco, paga imposto; se você importa produto, paga imposto; se você exporta produto, paga imposto; se você presta serviço, paga imposto.

Importante: estamos tratando apenas de impostos. Existem outros tributos, que são as taxas e as contribuições. Você paga taxa de coleta de lixo, você paga contribuição de iluminação pública, além de pagar a conta de luz; você paga taxa de fiscalização, se tiver estabelecimento comercial. Em alguns Estados têm até taxa de Bombeiro, mesmo que você não tenha necessitado dos serviços do Corpo de Bombeiros. Taxas e Contribuições formam um enorme cardápio, mas você não pode escolher qual pagar, a cobrança é compulsória, uma espécie de restaurante self-service, mesmo que escolha somente alguns pratos, você paga por tudo que está disponível.

Tudo amarradinho? Nem tanto. Se você exerce atividade de locação de bens móveis, não paga imposto (estou falando de locação de bens móveis, e não de imóveis). Por exemplo, uma multinacional locadora de veículos não paga imposto no exercício de sua atividade. Por quê? Porque a atividade econômica de locação de bens móveis não se enquadra em nenhum dos impostos de produção e circulação. Em outras palavras, uma manicure paga ISS, porque presta serviço; uma locadora não paga ISS, porque locação não é serviço. Aliás, locação não é nada, não é indústria, não é instituição financeira, não é comércio, não é serviço. Por isso, locadora de veículos não emite nota fiscal, goza de uma ‘imunidade’ graças ao próprio arcabouço do sistema tributário. Não é, pelo menos, curioso?

Justamente por essa razão, o enorme crescimento do grupo econômico de locação no Brasil. Serviço de terraplanagem é agora locação de máquinas; serviço de transporte de carga é agora locação de caminhões; serviço de arrumação de carga é agora locação de guindastes; exploração de casas de festas é agora locação de casa; hospedagem é agora locação de dormitório; estacionamento é locação de vaga. Serviço de turismo é agora locação de ônibus. Até serviço de fornecimento de mão de obra é agora locação de pessoal. Meu Deus! Até gente estão alugando!

Chamam isto de elisão fiscal. Mas você pode chamar de outra coisa, uma expressão menos jurídica e mais chula, que nenhum político vai se incomodar.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Efeitos do dia de fúria na comunidade

Depois das violentas manifestações da população da comunidade, o seu Manuel, dono da padaria e líder político da situação, reapareceu e marcou uma reunião tripartite: políticos da situação; assessores dos políticos da situação e puxa-sacos da oposição. Compareceram: Daniel da banca de jornal; Índio das Verduras e Chinelinho, os dois únicos candidatos a vereadores da comunidade na última eleição; o Brilhantina, padeiro do seu Manuel; e Dóris Day, a lourinha caixa da padaria. O Henheco, o extremista, não compareceu por estar em local ignorado e não sabido.

Seu Manuel fez um discurso emocionante, que levou Dóris Day às lágrimas. Disse, inicialmente, que respeitava e aceitava as manifestações do povo, mas, por precaução, contratou cinco seguranças fortemente armados e alugou um caminhão pipa para jogar água nos manifestantes não muito pacíficos.

Em razão das críticas relativas à mobilidade, vai instalar um bicicletário na frente da padaria, e não cobrará pedágio dos usuários, pelo menos por enquanto. Vai disponibilizar, também, um aparelho manual de encher pneu para quem quiser. O aparelho vai ficar no caixa da padaria e amarrado com uma corda, para ninguém roubar.

Em relação à saúde, prometeu não reaproveitar mais os copos de plásticos descartáveis. A partir de agora, os copos usados serão jogados no lixo. E ali mesmo deu ordem ao Brilhantina para não tirar meleca quando estivesse preparando a massa do pão. Com um sorriso matreiro, seu Manuel disse que ninguém sabia disso, mas ele sabia. E mais uma nova ordem sobre o pão: os fregueses que encontrassem cocozinho de rato no pão poderiam levar de volta e trocar por outro, desde que estivessem intactos, sem nenhuma mordidinha.

A respeito da educação, prometeu não falar mais palavrão aos fregueses, exceto aqueles mais triviais e usados no convívio da família. “Afinal, porra, esses palavrões saem naturalmente”, explicou seu Manuel. Dóris Day aproveitou para pedir que ninguém mais passasse a mão na bunda dela, mas a moção foi rejeitada por unanimidade.

E, finalmente, seu Manuel conclamou o povo a fazer um plebiscito para mudar algumas regras tradicionais. Disse ele: “O problema não está na gestão, mas nas regras que somos obrigados a cumprir”. Citou, como exemplo, alguns jornais caluniosos que o Daniel estampava na banca. “Esses jornalecos devem ser proibidos, pois só sabem criticar nossa gestão”. Mencionou Henheco: “pessoas do tipo deste Henheco devem desaparecer da face da terra. São venenosos e perigosos”. E, por fim, pediu ao povo que ficasse em suas casas ou na igreja, fazendo suas orações, em vez de sair às ruas e correrem o risco de ser assaltados. “Somente saiam às ruas para comprar pão e nos dias de eventos artísticos”. E prometeu um show na praia com a banda de pagode Tring Ling.

Todo mundo saiu satisfeito da reunião, mas com uma sensação de que faltou alguma coisa.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

SUS ou SUIUS?

O paciente vai ao Posto de Saúde e é atendido por um médico cubano.

Paciente – Bom dia, doutor, eu não estou passando bem, acho que estou gripado.

Médico – Influenza?

Paciente – Não senhor! Não sou de me influenciar por ninguém! Estou encatarrado!

Médico - Oh si! Esfriamiento!

Paciente - Ao contrário! Estou me sentido quente.

Médico - E la presion?

Paciente - Prisão? Eu nunca fui preso, doutor!

Médico - No entiendo.

Paciente - Quem não entende sou eu, eu nunca fui preso.

Médico - Usted quer un abogado ou un médico?

Paciente - Afogado? Eu nem gosto de praia!

Médico - Oh si! Estás soleado...

Paciente - Mas o que o meu sapato tem com isso?

Médico - No sé.

Paciente - Meu Deus, que confusão. Vou embora. Hasta la vista doutor!

Médico - Espero que tengas una pronta mejoria

O paciente procurou a Enfermeira-Chefe para reclamar.

Paciente – Eu não entendo nada que aquele médico diz!

Enfermeira – Isso acontece, mas já estamos resolvendo.

Paciente – Resolvendo como?

Enfermeira – Nós estamos importando tradutores paraguaios.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Dia de fúria na comunidade

A vida seguia tranquila, mas eu pressentia algo no ar. Todos ordeiros, a comprar o seu pão, a passear na praia, a ler os jornais na banca, compras no mercadinho, Índio das Verduras a pedalar o seu triciclo, Chinelinho a desentupir caixas de gordura, tudo em ordem, ou melhor, tudo ordenado e sem perspectivas de progresso. Havia no ar uma brisa de tensão que eu sentia até nos bons dias e como vai do pessoal. Uma espécie de ressentimento ou inconformismo com o andar das coisas.

A vida política na comunidade é centralizada em alguns. Daniel, o jornaleiro, é oposição, mas vive do agrado do seu Manuel, o dono da padaria, que cede espaço para instalação da banca. Seu Manuel é o líder político da situação e sabe controlar a oposição abrindo a torneira das dádivas aos oposicionistas nos momentos propícios, quando a pressão aumenta. Quando Daniel começa a reclamar muito (preço do pão, do cafezinho, da dose de cachaça), a torneirinha se abre e Daniel ganha alguma coisa e se cala. E tudo continua na mesma, pois sem a gritaria da oposição a comunidade não se alardeia.

Daniel, o opositor, na verdade sempre fez oposição para fins de benefício próprio, todo mundo sabe disso, mas ninguém comenta. Há, também, o Henheco, o eletricista, este um radical opositor, um extremista, como dizem, adversário do seu Manuel e do próprio Daniel, a espernear contra as injustiças tidas e havidas na comunidade, mas suas palavras vão ao vento, recebidas com deboche e desdém pelas classes dominantes. Alguns ouviam as palavras de Henheco, matutavam sobre o assunto e, diante das reprovações das lideranças, ficavam quietos, afinal, essas coisas de política são complicadas e quem sou eu para discordar se esses políticos são tão queridos e com alto grau de aprovação popular. Contudo, de qualquer forma, ficavam pensando no que ouviram.

O estopim da confusão foi o aumento de vinte centavos no quilo do pão. Daniel, que aspirava ampliar o seu espaço para vender cigarro na banca, em frontal concorrência com a padaria do seu Manuel, pisou fundo na reclamação e todos ouviam e concordavam. Seu Manuel chamou Daniel para conferenciar e tudo se acalmou, a banca de jornal venderia os seus cigarros e o aumento do pão se justificava com o aumento da farinha de trigo, seu Manuel não tinha culpa, problema do mercado global do trigo, todo mundo sabe disso.

Dona Margarida foi comprar pão e não tinha dinheiro suficiente, faltavam os vinte centavos, ficou sem pão e saiu desiludida da padaria. Seu Broa, que estava na fila do pão, e amigo de Dona Margarida, não se conformou e ofendeu o seu Manuel. Seu Manuel respondeu com palavras de baixo calão. Tristão, pescador, não gostou e chamou seu Manuel para briga. A turma do deixa disso interveio e cada um foi para o seu lado.

De tarde, uma turma se reuniu em frente da padaria. Alguns gritavam, alguns pegaram pedras. A primeira pedra lançada desencadeou o conflito. O grupo apedrejou a padaria, a banca de jornal do Daniel, o Mercadinho, até o triciclo do Índio das Verduras. A turma seguiu pelas ruas quebrando tudo que podia ser quebrado, veio a polícia e foi alvejada também, porque todos a considerava a representação material de um poder estabelecido, ora escondido e que não dava as caras.

No dia seguinte, seu Manuel jogou a culpa do conflito no Daniel; Daniel jogou a culpa no Henheco. Henheco não jogou a culpa em ninguém, porque estava em local ignorado e não sabido. Ficamos sem eletricista.

domingo, 16 de junho de 2013

Futebol: definições de um leigo absoluto














- O que é futebol?
- Futebol é um esporte onde um grupo de jogadores fica chutando a bola para os seus companheiros, pra lá e pra cá, enquanto os jogadores adversários tentam pegá-la.

- Quem vence o jogo?
- Quem ficar mais tempo com a bola nos pés.

- Quem é o juiz?
- Juiz é o sujeito que fica cronometrando o tempo em que cada grupo ficou de posse da bola. Quando o jogo fica chato é ele quem decide terminá-lo.

- Quem é treinador?
- É um sujeito que fica ao lado do campo dizendo pra quem o seu jogador deve chutar a bola.

- Quem é o goleiro?
- Goleiro é o único jogador que pode pegar a bola com as mãos.

- Qual é a função do goleiro?
- São três: rebater a bola com as mãos quando esta vem em sua direção; dar um chutão pro meio do campo; e repor a bola quando esta vai para fora.

- O que é baliza?
- É um retângulo de pau ou ferro, protegido por uma rede.

- Pra que serve a baliza?
- Para o goleiro guardar toalha e garrafinha de água. A rede serve para evitar que a bola vá para longe do campo.

- O que é gol?
- Quando o jogador não tem pra mais ninguém chutar a bola, ele pode chutar em direção do goleiro. Se a bola entrar no interior da baliza é gol.

- Qual é a consequência do gol?
- O jogador que fez o gol é obrigado a fazer gestos esquisitos, dançar e abraçar os companheiros, tudo conforme uma coreografia previamente ensaiada.

- E se o jogador errar o gol?
- Ele tem que passar as mãos na cabeça, olhar pro céu e fingir que está se lamentando.

- O que é falta?
- Falta é quando um jogador cai no chão e finge estar sentindo dores, interrompendo o jogo. Se o jogador der um grito de dor muito alto e souber contorcer-se no gramado, o juiz levanta um cartão amarelo para o adversário mais próximo.

- E cartão vermelho?
- Neste caso, o jogador que está fingindo sai de campo na padiola, e o adversário é expulso, com direito de xingar o juiz.

- Quem é jornalista esportivo?
- É aquele que assistiu a um jogo que ninguém viu.

- O que é impedimento?
- Bem, isso é a única coisa que até agora não entendi.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Discurso aos formandos

Fui convidado a fazer um discurso na formatura de mestrado de uma turma de servidores municipais, fato por si só a me deixar em dúvida sobre a seriedade do curso. Tentei alertar os formandos sobre o grave erro de convidar-me, mas estavam resolutos e firmes neste propósito inusitado. Aliás, ao implorar que me desconvidassem e ter explicado o motivo, o pessoal já começou a rir, a considerar o meu pedido, feito seriamente, eu juro, uma piada inicial, assim, como se eu já estivesse treinando o falatório.

Bem, assumida a integral responsabilidade da turma, só me resta comparecer e discursar. O problema, porém, é o tema: falar o quê? Andei pensando em desejar a paz mundial, mas poderiam confundir com concurso de Miss Universo. Outro gancho seria conclamar a todos os formandos que fizessem um esforço para mudar o mundo. Tremenda besteira, pois se ninguém consegue mudar nada, como querer que os coitados mudem o mundo? Lembrei-me do Presidente Obama, ao discursar para alunos, incentivá-los a se tornarem pessoas melhores. Não! É outra besteira totalmente vazia e desprovida de sentido.

Falar o quê? Dizer que eles ganham pouco e o melhor a fazer é procurar outro emprego? Que o curso de mestrado nada irá representar de melhoria salarial na Prefeitura? Que o diploma servirá apenas para currículo? E que os políticos, atualmente em governo municipal, estão pouco se lixando pelos servidores? Não! Acho que o discurso fica muito forte e gravemente pessimista.

Falar o quê? Dizer que a população precisa de servidores mais capacitados? Não! Pura demagogia. Por mais capacitado, o servidor estará sempre subordinado a chefias temporárias, sazonais, que chegam de paraquedas e vão embora pelas portas dos fundos. Alguns até com boa vontade e ideais positivos, mas a boa vontade se fenece ao encontrar os obstáculos costumeiros e os ideais se evaporam diante da cruel realidade dos governos municipais. E os servidores lá permanecem, talvez iludidos com o sobrevôo de novos paraquedistas.

Falar o quê? Dizer que as Prefeituras estão se modernizando, assumindo novos ares de eficiência, transformando-se em exemplo de qualidade de gestão e presteza no atendimento à população? E neste sentido, os servidores serão benquistos aos olhos de todos, passando a ser um orgulho trabalhar na Prefeitura? Não! O discurso seria otimista demais, sonhador demais. Muito nobre orgulhar-se da função, embora recebendo um salário vil, todavia, prever a satisfação no emprego através de previsões quiméricas, é risco de sair vaiado.

Falar o quê? Bem, talvez seja, realmente, mais recomendável pedir a paz mundial, conclamar a todos um esforço para mudar o mundo e incentivá-los a se tornarem pessoas melhores. E no final, contar a velha e surrada piada do sujeito que entrou tranquilamente no hospital com uma faca cravada na barriga. O médico, espantado, perguntou: “Isso não dói?” E o sujeito respondeu: “Só quando rio, doutor”. Por certo, ninguém vai rir da piada, para não sentir dor na barriga.

sábado, 1 de junho de 2013

Manicômio Fiscal – O ISS (II)

O cidadão comparece no setor de Atendimento da Prefeitura:

- Bom dia, eu quero me inscrever como profissional autônomo.
- Profissional autônomo? Pra quê?
- Ora, sei lá, me disseram que é obrigatório...
- O senhor tem loja?
- Não, eu trabalho em casa, no quintal.
- Gozado... Pera aí... O JOÃO!!! A GENTE INSCREVE PROFISSIONAL AUTÔNOMO? O senhor aguarda um pouquinho, o João entende dessas coisas.
(Aparece o João)
- O que foi?
- Este senhor quer se inscrever como profissional autônomo - é aqui mesmo?
- O senhor quer alvará?
- Não! O contador me disse que preciso me inscrever como profissional autônomo.
- O senhor tem loja?
- Eu já disse a essa senhora que não. Eu trabalho em casa...
- Mas pra quê o senhor quer se inscrever como profissional autônomo?
- Oh meu Deus, eu sei lá! O contador me mandou... Disse que eu tenho que pagar ISS!
(A Atendente interfere)
- Ih, já sei! O meu cunhado se inscreveu lá no INSS!
- Não senhora! O INSS eu pago em carnê. O contador disse que eu tenho que pagar também o ISS!
(O João parece que entendeu)
- Ah! Está certo! Mas o senhor tem que tirar também o alvará da loja!
- Mas que loja? Eu não tenho loja!
- Se o senhor não tem loja, como vai prestar serviço?
- Eu já disse! Eu trabalho em casa!
(A Atendente está aflita)
- O que nós vamos fazer, João?
- Pera aí, vou falar com o chefe.
(João se retira)
- O senhor pode aguardar aqui ao lado? Eu preciso continuar atendendo a fila.
(O cidadão aguarda. Vinte minutos depois, volta o João)
- O chefe perguntou se o senhor é estabelecido.
- Estabelecido? O que isso quer dizer?
- Bem, se o senhor for estabelecido vai precisar de alvará.
- Ah, estabelecido é quem tem estabelecimento? Pois não tenho estabelecimento! E agora?
- Pera aí, vou dizer ao chefe que o senhor não é estabelecido.
(João se afasta. Quinze minutos depois, retorna)
- O senhor devia ter dito logo que não era estabelecido. O senhor não precisa de alvará, basta se inscrever.
- E é isso que eu estou dizendo desde o início. Como faço para me inscrever?
- O senhor preenche essa ficha de cadastro, tem caneta? Aqui não tem nenhuma, tinha uma amarrada no barbante, mas cortaram o barbante...
- Pode deixar, eu tenho caneta.
(O cidadão preenche a ficha cadastral e entrega à Atendente)
- Eu vou precisar de cópia da carteira de identidade, CPF, comprovante de residência e cópia do registro de sua profissão no Conselho da categoria.
- Eu tenho tudo aqui, menos esse registro no Conselho. Minha profissão não tem Conselho.
- Não tem Conselho? Ora, toda profissão tem... CRC, OAB, CREIA, tem um monte de Conselhos.
- Minha senhora, eu sou Marceneiro e Marceneiro não tem Conselho.
- Gozado... Pera aí... O JOÃO!!! ELE NÃO TEM CONSELHO!! O senhor aguarda um pouquinho, o João entende dessas coisas.
(Reaparece o João)
- O senhor não tem Conselho de classe?
- Que eu saiba, não. Eu sou Marceneiro, tenho o curso técnico...
- O senhor trouxe cópia do diploma?
- Está aqui.
(João examina o diploma)
- É, acho que está certo. Vou ver qual é o código de Marceneiro aqui na lista de serviços.
(João examina uma longa lista de serviços)
- Gozado, aqui na lista não tem Marceneiro. Pera um pouco, vou falar com o Chefe.
(João se retira)
- O senhor pode aguardar aqui ao lado. Preciso continuar atendendo a fila.
(O cidadão aguarda. Meia hora depois, João retorna)
- Meu amigo, realmente não tem Marceneiro na lista de serviços. O Chefe perguntou se pode inscrevê-lo como Carpinteiro. Carpinteiro tem na lista.
- Mas eu sou Marceneiro, não sou Carpinteiro!
(A Atendente dá uma risadinha)
- Eu pensava que era tudo a mesma coisa.
(O cidadão está irritado)
- Pois não é! São profissões diferentes!
(João resolve)
- Bem, meu amigo, a situação é a seguinte: Carpinteiro paga ISS, Marceneiro é isento. O senhor escolhe.
- Já que sou isento, eu quero uma certidão que ateste a minha isenção.
(A Atendente interfere)
- Ah, isso eu sei! O senhor entra com requerimento no protocolo, pedindo a isenção. Mas não deixa de juntar a cópia do seu alvará.