segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Manicômio Fiscal XXXV

Cenário: Sala de Reuniões de uma Fundação Municipal. É a primeira reunião da nova diretoria, tendo assumido a presidência a Senhora Etelvina Durona. Personagens: os membros da nova diretoria.
Sobe o pano:
Etelvina Durona – Nesta primeira reunião, eu gostaria de estabelecer certas regras que deverão ser cumpridas por todos. A primeira regra é a seguinte: eu quero ser tratada de Presidenta e não de Presidente.
Diretor de Educação – Desculpe, mas na condição de Diretor Educacional não posso concordar. As palavras terminadas em “nte” são neutras e o que importa é o artigo que antecede: o presidente, ou a presidente.
Etelvina Durona – Estou me lixando com isso! A ordem é esta: chamar-me de Presidenta, está claro?
Diretor de Educação – A senhora quer dizer “está clara”. A sua ordem está clara!
Etelvina Durona – Tanto faz claro ou clara, a ordem é esta! Aproveito para estabelecer a segunda regra: tudo que a Prefeita pedir tem que ser atendido. E não se esqueçam que ela é uma pedinte contumaz.
Diretor de Educação – A senhora quis dizer “pedinta”! De acordo com a sua primeira regra, a Prefeita é pedinta, como a senhora é Presidenta.
Etelvina Durona – Está bem, que seja pedinta. Gostaria de informar que a minha amiga de longa data, a Virgolina Lapidosa, será a Chefe do meu Gabinete.
Diretor de Educação – Deveremos tratá-la de Chefe ou de Chefa?
Etelvina Durona – Chefa? Existe essa palavra?
Diretor de Educação – Da mesma forma que Presidenta...
Etelvina Durona – Você está me deixando irritada com essas observações. Eu quero que todos os dirigentes aqui presente dêem o exemplo!
Diretor de Educação – Como eu sou o único homem aqui presente, as demais são dirigentas e não dirigentes.
Etelvina Durona (irritadíssima) – Você está querendo gozar com a minha cara! Não suporto mais a presença de sua pessoa!! Está demitido!!!
Diretor de Educação – Demitida!!! A minha pessoa está demitida!!! Pode me mandar embora, mas não tolero erro de concordância!
Desce o pano.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Manicômio Fiscal XXXIV

Cenário: Sala de Atendimento da Prefeitura. Personagens: Atendente e um cidadão.
Sobe o pano.
Atendente – Bom dia, em que posso servi-lo?
Cidadão – Eu queria me inscrever como profissional autônomo.
Atendente – Muito bem (operando o computador)... pode sentar-se... estou entrando no CNAE... ótimo! Qual é a sua atividade?
Cidadão – Ladrão.
Atendente – Hem? Desculpe, não entendi. Perguntei qual é a sua atividade!
Cidadão (calmo, com as mãos cruzadas sobre a mesa) – Pois eu respondi, sou ladrão.
Atendente – Há-há-há, o senhor está brincando...
Cidadão – Não estou não! Eu sou ladrão.
Atendente – O senhor por certo está falando no sentido figurado...
Cidadão – Deixa explicar: a minha atividade é de enganar os outros para proveito próprio. Ou seja, em português claro, eu sou ladrão.
Atendente – Mas eu não posso escrever aqui a atividade de ladrão. Nem tem no CNAE!
Cidadão – E o que é esse tal de CNAE?
Atendente – Ora, é o Cadastro Nacional de Atividades Econômicas, do IBGE.
Cidadão – E não tem ladrão? A atividade mais comum no Brasil? Já vi que esse tal de CNAE não está bem feito...
Atendente – Ladrão é uma atividade ilícita, não pode estar no CNAE!
Cidadão – E o que é que tem aí, neste tal de CNAE?
Atendente – Ora, tem todas as atividades lícitas: médicos, advogados, engenheiros...
Cidadão – Tudo ladrão! Estou vendo que esse tal de CNAE bota apelido às espécies de ladrões: médicos ladrões, advogados ladrões, engenheiros ladrões...
Atendente – O que é isso, meu amigo? Eu nunca vi um engenheiro ladrão!
Cidadão – O senhor vive aonde? E essas obras mal feitas, prédio caindo, material vagabundo, superfaturamento?
Atendente – São exceções! São casos excepcionais! A maioria não rouba!
Cidadão – Desculpe, mas, na verdade, a maioria ainda não sabe roubar. Quando pega experiência, vira ladrão. E como já tenho experiência, eu quero me registrar na verdadeira profissão que exerço, ladrão.
Atendente – Por acaso, o senhor é engenheiro?
Cidadão (tirando documentos da pasta) – Se o senhor quer um apelido, pode escolher: eu tenho aqui vários diplomas, olha só, engenheiro, médico, dentista, advogado, contador, tudo falso, é claro.
Atendente – Tudo falso!? O senhor confessa que todos esses diplomas são falsos?
Cidadão – E daí? Eu já disse que sou ladrão e o senhor não quer aceitar a minha profissão verdadeira.
Atendente – Olha, meu senhor, eu não sou da polícia pra ficar investigando se um diploma é falso ou não. Se o senhor não dissesse nada, eu faria o registro em qualquer uma dessas profissões, mas como o senhor me disse que tudo é falso, eu não posso aceitar.
Cidadão – E como ladrão também não pode?
Atendente – Não pode não senhor!!
Cidadão – Bem, neste caso eu tenho de escolher outra profissão?
Atendente – Exatamente! Mas que não exija diploma!
Cidadão – Tudo bem (pensando)... Por acaso esse tal de CNAE tem a profissão de político?
Desce o pano.