sábado, 30 de julho de 2011

Manicômio Fiscal XXIII

Cenário: Gabinete do Secretário. Personagens: Secretário e a sua Secretária (dona Linda).
Sobe o pano.
Dona Linda (entrando no Gabinete) – Ué! O senhor já está aí? Estava tudo trancado, pensei que o senhor ainda não tinha chegado...
Secretário – Tranca a porta, tranca a porta! Isso... Pois é, agora estou chegando às seis horas, ainda não tem ninguém rodeando a Prefeitura.
Dona Linda – Puxa! Tão cedo! Está com muito trabalho?
Secretário – Não é isso não. Agora nós vamos seguir outra forma de trabalho...
Dona Linda – Eu vou ter que chegar às seis? O senhor sabe...
Secretário – Não!! A senhora continua chegando no horário normal. Eu é que vou chegar mais cedo.
Dona Linda – Por quê?
Secretário – Novas regras, e preciso da senhora para seguir as novas regras.
Dona Linda – Que regras?
Secretário – Bem, em primeiro lugar a porta da minha sala tem que estar sempre trancada à chave. Só eu e a senhora temos chave desta sala, não é isto?
Dona Linda – A faxineira da noite também tem...
Secretário – Vai lá e pega a chave! A limpeza será feita de dia e, presta atenção, sempre na sua presença!
Dona Linda – Tenho que ficar tomando conta?
Secretário – Exatamente! A senhora entendeu.
Dona Linda – Mas não entendo o motivo, Secretário.
Secretário – Dona Linda, presta atenção, estamos numa fase muito perigosa, é muita gente na espreita, procurando descobrir alguma coisa, farejando escândalo...
Dona Linda – Mas aqui não tem nada dessas coisas, Deus nos livre!
Secretário – Eu sei!! Mas essa gente é muito maldosa e hoje em dia tudo é corrupção, corrupção. Basta ser uma autoridade e já tem pecha de ladrão!
Dona Linda – Eu também? Eu não sou autoridade...
Secretário – A senhora também! Pode não ser autoridade, mas essa gente não quer saber! Só quer falar mal, apedrejar, não importa a quem atinja! Vão chamar a senhora de cúmplice, de laranja, de não sei mais o quê.
Dona Linda – Deus me livre, Secretário! A minha igreja me expulsa, ou vai querer aumentar o dízimo... não sei...
Secretário – Pois é isso! Temos que tomar o máximo de cuidado! Aliás, procure uma firma que faz varredura, pra vasculhar a sala, ver se tem microfone escondido, gravador, troço no telefone, varrição completa! Veja, por exemplo, aquela foto do Prefeito ali na parede... O olho esquerdo dele não parece esquisito... Parece uma microcâmara filmadora...
Dona Linda – Não é não, Secretário, é só cocô de mosca... Pode deixar, vou procurar a tal firma...
Secretário – Mas faça logo! Outra coisa, a partir de agora não estou pra ninguém, menos pro Prefeito é claro. Você diz que não estou, pega recado e depois me diz.
Dona Linda – O senhor não vai atender mais ninguém?
Secretário – Pessoal da casa posso chamar, pessoal de fora ninguém!
Dona Linda – Ih! Por falar nisso, o seu amigo, Tião Empreiteiro está aí fora, quer falar com o senhor...
Secretário – O QUÊ!!! Você disse que eu estava?
Dona Linda – Não! Eu nem sabia que o senhor estava aqui.
Secretário – Corre lá!! Diz que não estou e você nem sabe se venho hoje!
Dona Linda – Mas, Secretário, o seu Tião não é seu amigo de longa data?
Secretário – Autoridade não pode se dar ao luxo de ter amigos, Dona Linda. Ainda mais de fornecedor da Prefeitura... Se alguém me pegar conversando com ele, estou frito... Vai lá, diz-que-saí!! Diz-que-saí!! E tranca a porta!
(Dona Linda vai se retirando, mas, ao chegar em frente da porta, dá uma parada)
Dona Linda – Ah Secretário, ia me esquecendo... Ué! Onde o senhor se meteu?
Secretário – Estou aqui, embaixo da mesa. Depois que ele for embora, me avise pra que eu possa sair daqui.
Desce o pano.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Manicômio Fiscal XXII

Cenário: sala do Chefe da Fiscalização. Personagens: Chefe e Fiscal.
Sobe o pano.
Fiscal – Bom dia, chefe, você me chamou?
Chefe – Bom dia, Machadão, eu quero falar com você... Senta aí, por favor.
Fiscal – Algum problema?
Chefe – Você lembra a nossa conversa de um tempo atrás, quando eu disse que você deveria ser mais objetivo ao lavrar um auto de infração?
Fiscal – Lembro muito bem, e estou seguindo suas ordens...
Chefe – Acho que não... Estou aqui examinando esse processo, que você autuou o Mercado Sai de Baixo...
Fiscal – Foi impugnado?
Chefe – Ainda não e nem teve tempo, a notificação foi entregue ontem.
Fiscal – Então qual é o problema?
Chefe – O problema é aquele antigo, Machadão, essa forma de você redigir o auto.
Fiscal – Está errado?
Chefe – Veja o que você escreveu no histórico (lendo): “Ao transpor os umbrais do Mercado...” Umbrais, Machadão?
Fiscal – Sim! Não ficou bonito? Vou chamar de quê, se não é porta ou portaria? Umbral significa entrada, mas a palavra umbrais tem mais força do que entradas, você não concorda?
Chefe – Deixa eu continuar (lendo): “... Os umbrais do Mercado, deparei-me, oh Deus, com dísticos dependurados como um céu de estrelas...”
Fiscal – Não ficou bonito? Aliás, eu aí fiz uma pequena homenagem a Silvio Caldas, lembrando Chão de Estrelas, uma jóia da nossa música, você não concorda?
Chefe – Meu amigo Machadão, eu concordo, mas prestar homenagem na lavratura de um auto? Você não acha meio despropositado? E essa interjeição: oh Deus, pra quê isso?
Fiscal – Ora, chefe, pra dar força ao sentido, pra expressar o meu espanto.
Chefe – Machadão, Machadão, você não precisa exprimir espanto, você tem que se restringir ao fato e à sua irregularidade. O auto tem que ser impessoal!
Fiscal – Desculpe, chefe, mas discordo. O Fiscal tem que manifestar suas emoções, seus sentimentos, se não for assim o nível cai. Se o auto tem que ser impessoal, daqui a pouco não vão precisar de Fiscal, o computador emite e pronto!
Chefe – Pois este é o caminho, Machadão! Criar uma uniformidade, um padrão...
Fiscal – E onde fica o estilo de cada Fiscal? Aquele toque pessoal?
Chefe – O auto não é lugar para estilo, para toque pessoal!
Fiscal – Bem... Você é quem manda... Eu discordo, mas vou seguir suas ordens.
Chefe – Eu gostaria que você entendesse o motivo e não apenas cumprir ordens.
Fiscal – Tudo bem. Então me faz um favor, me devolve o processo do Bar Eu Bebo Sim... Se você não gostou desse, por certo não vai gostar do outro...
Chefe – Por quê?
Fiscal – Porque eu lavrei o auto em forma de soneto, dois quartetos e dois tercetos, tudo rimado, como manda o figurino! Ficou uma beleza, mas se você não gosta, paciência, eu mudo.
Desce o pano.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Manicômio Fiscal XXI

Cenário: Gabinete do Secretário Municipal de Fazenda. Personagens: Secretário e empresário local.
Sobe o pano.
Empresário – Como vai? Eu estava com o Prefeito e ele me mandou falar com você pra resolver um problema.
Secretário – Pois não, pode sentar-se... Qual é o problema?
Empresário – É pra você cancelar o IPTU do meu terreno ali da Avenida Central... Aquele que fica do lado do meu supermercado... Sabe qual é?
Secretário – Sei... Um terrenão vazio...
Empresário – Este mesmo! São dez mil metros de área, mas todo murado!
Secretário – Eu sei... Fica em frente do Banco do Brasil...
Empresário – Isso!! Você pode providenciar o cancelamento do IPTU, eu estou com um pouco de pressa...
Secretário – Mas... Não entendi... Cancelar o IPTU por quê?
Empresário – Ora, porque é uma propriedade de produção agrícola... Você não sabia?
Secretário – Agrícola? Olha, isso é novidade...
Empresário – É claro! Pouca gente sabe por que ele é todo murado e ninguém vê o que eu faço lá dentro.
Secretário – E o que o senhor faz?
Empresário – Ora, cultivo abóboras!
Secretário – Abóboras? Ali no terreno?
Empresário – Exatamente! Puxa! Eu devia ter lhe trazido uma bela moranga! Uma moranga na carne seca é uma delícia... Depois eu mando o rapaz lhe trazer uma.
Secretário – Obrigado, mas eu não posso cancelar o IPTU... É um terreno urbano! Está localizado bem no centro da cidade, na avenida principal!
Empresário – Que é isso, Secretário! Não estou aqui pra ensinar pai nosso ao vigário, você sabe que área de produção agrícola não paga IPTU, paga ITR!
Secretário – O terreno é cadastrado no INCRA?
Empresário – É claro! Não sou bobo! Está tudo direitinho no INCRA.
Secretário – Mas meu senhor! Aquele terreno é um dos mais valorizados da cidade!
Empresário – Um dos mais não! O mais valorizado!! Já recusei milhões por ele!!
Secretário – E mesmo assim o senhor não quer pagar o IPTU?
Empresário – Lógico que não!! Lei é lei!
Secretário – E quanto o senhor produz de abóboras?
Empresário – Bem... Mais ou menos duas por mês...
Secretário – Duas toneladas?
Empresário – Não!! Duas dúzias. E vendo tudo para o meu supermercado...
Secretário – Que fica do lado do terreno...
Empresário – Exatamente! Não tenho nem despesa de frete.
Secretário – E o senhor paga o ITR?
Empresário – Claro que não!! Eu sou isento.
Secretário – Isento?
Empresário – Isso! Isento! Eu sou um pequeno produtor rural. Mas veja logo esse cancelamento por que eu estou com um pouco de pressa... Posso usar o meu celular?
Desce o pano.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Manicômio Fiscal XX

Cenário: Rua principal de pequena cidade. Personagens: Fiscal antigo e contribuinte cuja empresa vivia irregular, não sabendo quanto recolher de tributos, e, por isso, sempre pedindo ajuda ao Fiscal para fazer as contas e emitir as guias. Os dois se encontram.
Sobe o pano.
Fiscal – Seu Beneplácito!! Há quanto tempo!!
Contribuinte – Uma eternidade! Seculum Seculorum!!
Fiscal – Distanciou-se da Prefeitura...
Contribuinte – Milhas e milhas, estou navegando em outros mares! E o senhor continua na Prefeitura?
Fiscal – Continuo, mas estou para me aposentar... Vou dar lugar a sangue novo.
Contribuinte – Sangue dos jovens!! Sangue novíssimo, jorrando nas veias!!
Fiscal – É verdade, mas ainda inexperientes...
Contribuinte – Experiência zero!! Reprovados em curso a distância!!
Fiscal – Mas acabam aprendendo...
Contribuinte – Aprendem tudo!! São verdadeiros computadores! Digitou, salvou, gravou!!
Fiscal – Seu Beneplácito, que ninguém nos ouça, mas como são orgulhosos esses Fiscais novos...
Contribuinte – Soberbos!! Se ufanam pelos corredores!! Estufam o peito como pombas no cio!!
Fiscal – Mas deixa pra lá, o problema não é nosso...
Contribuinte – Muito pra lá!! O problema é lá da Austrália, do Japão!!
Fiscal – Mudando de assunto, e o Prefeito atual, o que o senhor acha dele?
Contribuinte – Isso mesmo, vamos mudar de assunto, e o Prefeito?
Fiscal – Meio confuso...
Contribuinte – Está totalmente perdido! Está controlando marimbondo no escuro!
Fiscal – E muda de partido, depois volta...
Contribuinte – Vai e volta! Casa e separa, casa e separa! Uma paranóia conjugal!
Fiscal – Ele está num dilema...
Contribuinte – Já é trilema, um polilema!! É lema pra tudo que é lado!
Fiscal – O que salva é que ele está grudado com o Governador...
Contribuinte – Unha e carne!! São irmãos gêmeos!!
Fiscal – Por isso, eu acho que ele não sai mais do PMDB...
Contribuinte – Não sai mesmo!  Está encravado no PMDB! Uma rocha firme!
Fiscal - Mas se não derem espaço, ele se manda...
Contribuinte - Abanando lencinho branco! Beijinho, beijinho, tchau, tchau!
Fiscal – Bem... E a sua firma? Continua a desordem...
Contribuinte – Desordenada! Destramelada! Uma bagunça generalizada!!
Fiscal – Desculpe lhe dizer isso, mas o senhor tem mania de não cumprir as instruções do Contador...
Contribuinte – Eu sou um verdadeiro maníaco!! Atropelo tudo, misturo tudo!
Fiscal – É um problema de gestão, seu Beneplácito.
Contribuinte – Já é um problema de congestão! De diarréia gerencial!!
Fiscal – O senhor sabe que pode sempre contar com a nossa ajuda, sem interesse algum de nossa parte.
Contribuinte – Totalmente desinteressada! O senhor é um magnânimo! Deveria receber o prêmio do BED!!
Fiscal – BED?
Contribuinte – Benfeitor dos Empresários Desorganizados!!
Fiscal – Mas, então, o senhor nunca mais foi à Prefeitura...
Contribuinte – Morro de saudades!! As lágrimas borbotam!!
Fiscal – Por que, então, o senhor não volta mais lá?
Contribuinte – Porque agora eu sou do Simples Nacional!!
Fiscal – Ahh...
Desce o pano.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Manicômio Fiscal XIX

Cenário: Repartição da Fiscalização de Posturas. Personagens: Fiscal e uma idosa senhora, magrinha e pequenina, toda vestida de preto e portando bolsa a tiracolo e um guarda-chuva, apesar do dia ensolarado e céu azul de brigadeiro. Ela se expressava em tom baixo, mas de forma clara e incisiva.
Sobe o pano.
Senhora – Bom dia, cavalheiro. Estou aqui para fazer denúncias. Eu me chamo Senhorita Dulce, mais precisamente, Maria Dulce. Moro no bairro do Sofrimento, na Rua do Calvário.
Fiscal – Bom dia, dona Dulce. Qual é a denúncia?
Senhora – Bem, vamos ver...
(E retirou da bolsa um grosso livro de capa preta).
Senhora (folheando o livro) – Em primeiro lugar, vamos tratar do morador da casa número 102. No dia 18 deste mês, ele jogou um sofá velho no canal do rio. Precisamente, às 6 horas e quatorze minutos.
Fiscal – A senhora viu?
Senhora – Claro que eu vi. Faço plantão na janela da minha casa a partir das 6 horas e anoto todas as irregularidades. O senhor não vai tomar nota?
(O Fiscal, em tanto constrangido, puxa uma folha de papel e finge anotar).
Senhora – Acredito que uma folha somente não vai ser suficiente, mas se o senhor tiver uma letra miudinha, talvez seja possível.
Fiscal – Tem mais denúncias?
Senhora – Eu estou apenas iniciando. No dia 20 deste mês, mais precisamente, às 21 horas e vinte e dois minutos, um bêbado passou cantando alto na rua. Vestia bermudas e estava sem camisa, apesar da friagem da noite.
(O Fiscal fingia que tomava nota).
Fiscal – Mais alguma coisa?
Senhora – São inúmeras denúncias... Este mês foi rico em irregularidades... No dia 21, às 15 horas e oito minutos, o carteiro bateu palmas na casa de número 108 e entregou correspondência ao proprietário. Este, ao examinar a correspondência, rasgou uma delas. Consegui enxergar, com o uso do meu binóculo, que parecia ser o carnê do IPTU.
Fiscal – A senhora tem certeza?
Senhora – Tenho certeza, levando em conta o fato de que, naquele dia, o carteiro entregava o carnê do IPTU em todas as casas. Mas, é bom o senhor anotar o agravante.
Fiscal – Que agravante?
Senhora – Não só rasgou, mas jogou na rua o carnê rasgado.
(E assim, a dona Dulce foi relatando todos os fatos apurados. Quase duas horas depois, ela encerra a narrativa).
Senhora – Bem, são essas as irregularidades do momento.
(Ufa! Pensou o Fiscal).
Fiscal – Está certo, dona Dulce, vamos ver o que poderemos fazer em relação às suas denúncias... Muito obrigado e tenha um bom dia.
Senhora – De fato, tenho que retornar, porque deixei a minha empregada me substituindo na janela, e ela tem ainda que arrumar a casa.
Fiscal (levantando-se) – Perfeitamente! Um bom dia pra senhora...
Senhora – Um momento, por favor. Gostaria que o senhor lesse tudo que anotou, porque no caso de qualquer coisa errada, podem me acusar de mentirosa, e isso eu não admito.
Desce o pano.

domingo, 3 de julho de 2011

Manicômio Fiscal XVIII

Cenário: Terminal Rodoviário de um Município. Personagens: Fiscal de Posturas (apelidado pelos colegas de “Muralha”), Despachante da empresa de ônibus e Motorista do ônibus.
Sobe o pano.
Fiscal – Oh Excelência! Venha aqui, por favor!
Despachante (aproximando-se) – O senhor me chamou?
Fiscal – Sim, Excelência.
Despachante – Eu não sou Excelência...
Fiscal – Eu chamo todo mundo de Excelência, entendeu?
Despachante – Por quê?
Fiscal – Porque na rua eu nunca sei quem é quem. Um dia, eu chamei um cara de você e ele era juiz, me deu uma descompostura... Reclamou na chefia... Pra não dar mais confusão, chamo todo mundo de Excelência, entendeu agora?
Despachante – Perfeitamente... O que o senhor deseja?
Fiscal – Avise àquela Excelência ali que ele parou o ônibus no lugar errado. Está fora da sinalização.
Despachante – Pode deixar, vou avisar ao Motorista.
(O Despachante afastou-se e foi conversar com o Motorista. O Fiscal percebeu o Motorista gesticulando e olhando raivoso para ele. O Despachante retornou).
Despachante – O Motorista disse que está no lugar certinho.
Fiscal – Oh Excelência! Por acaso eu sou cego? Olha a faixa amarela e me diz se o ônibus não está em cima da faixa.
Despachante – É um pouquinho só, não está atrapalhando ninguém.
Fiscal – Está sim! Está me atrapalhando! Se tem faixa é pra obedecer! Manda a Excelência acertar o ônibus se não eu vou autuar!
Despachante – Está certo, vou falar com ele.
(O Despachante afastou-se e foi conversar com o Motorista. O Fiscal, de longe, observa. O Motorista esbraveja, entra no ônibus e dá um arranco, recua e põe o ônibus no lugar correto. Sai do ônibus e grita olhando o Fiscal).
Motorista – Fiscal de merda!! Só aporrinha a gente! Não tem o que fazer!
(O Fiscal ouviu e aproximou-se do Motorista).
Fiscal – Por acaso, vossa Excelência está se dirigindo à minha pessoa?
Motorista – A você e a todos de sua laia!
Fiscal – Vossa Excelência sabe o que é desacato à autoridade?
Motorista – Que autoridade? Autoridade de merda que você é!!
Fiscal – Se o senhor não se desculpar, serei obrigado a autuá-lo.
Motorista – Não vou me desculpar porra nenhuma, ta entendendo?
Fiscal – Vossa Excelência não vai depois reclamar, está certo?
Motorista – Vai autuar a sua mãe!!
Fiscal – Então, Vossa Excelência está autuada!
(E disparou um violento soco no nariz do Motorista, que se esparramou no chão, com o rosto ensanguentado. O Despachante veio correndo).
Despachante – O que aconteceu?
Fiscal – A Excelência aí me desacatou e eu fiz a autuação. E avise a todas as Excelências que estão aí me olhando... Se estacionar fora da faixa eu autuo.
(E o Fiscal Muralha foi embora tranquilamente).
Desce o pano.