sábado, 29 de março de 2014

A Exposição Nacional da Burocracia

Como tudo no Brasil, a primeira Exposição Nacional da Burocracia foi realizada em São Paulo, dali irradiando efeitos em todo o país. A Exposição foi um sucesso!

Eu não podia estar ausente de tão grandioso evento, e já no primeiro dia compareci empolgado e disposto a conhecer todas as novidades e progressos da burocracia nacional. Não me arrependo!

Na entrada, centenas de stands, do lado direito e esquerdo de quem entra, de diversas empresas de sistemas e consultorias, todas a ofertarem excelentes serviços de burocracia ou de fórmulas maravilhosas de enganar os burocratas. Uma delas apresentava uma ferramenta de duplicação de certidões negativas autenticadas e ninguém conseguia distinguir a original das cópias, inclusive a autenticação cartorial. Algo fantástico!

Em outro stand um vendedor alardeava no microfone: “Quem quer concorrente em licitação? Temos concorrentes para todas as modalidades e de empresas de reputação ilibada!”. Comprei três propostas de cursos e quatro de consultorias tributárias. As propostas vêm com selo de garantia e validade por um ano. Assim, quando a prefeitura quiser fazer uma licitação de um curso ou de uma consultoria, já tenho, de pronto, os concorrentes, todos, é lógico, com preços acima do meu.

Outro stand que despertou a minha atenção foi de uma empresa que vendia “Certidões Esdrúxulas”, denominação usada por ela. São certidões interessantes que, às vezes, o serviço público exige, como, por exemplo, “Certidão de Veracidade das Outras Certidões”, uma certidão a certificar que as outras certidões que constituem o processo são verdadeiras. Ou, então, a “Certidão de Filiação Comprovada”, uma certidão a provar que você é verdadeiramente filho ou filha daquela mãe. Disse-me o vendedor que não tinha certidão de pai, porque é inconstitucional, segundo o famoso jurista Florisvaldo Borboleta, especialista em art. 5º da Constituição Federal.

Outra empresa vendia uma certidão chamada “Certidão Global”. Uma certidão que globaliza todas as demais. Não sei se as prefeituras aceitariam essa certidão, porque o volume de papéis na licitação seria muito reduzido, ficando um processo magrinho, magrinho. E o pessoal da licitação só gosta de processo gordão, cheio de papéis inúteis. Por isso, não comprei a Certidão Global. Mas a ideia não é ruim. 

Gente! Muita coisa interessante! Máquina para montar carimbos falsos, máquinas de selos e estampilhas, todos falsos, é evidente, a “fábrica” de certidões, a emitir todas e quaisquer certidões que o serviço público exigir. E até um profissional autônomo (paga ISS fixo) que exerce a profissão de Falsificador de Assinaturas. Ele falsificou a minha assinatura em dois segundos! Impressionante!

Saí muito animado! Finalmente, a burocracia entra no ritmo da modernidade!  


terça-feira, 25 de março de 2014

Notícias tupiniquins



Instituições religiosas

O Brasil tem hoje 55.166 instituições religiosas organizadas.
O Brasil tem hoje 33.837 entidades sindicais.
O Brasil tem hoje 40.195 cooperativas.

A conclusão do idiota aqui é a seguinte: o brasileiro é religioso, cooperado e sindicalizado, exatamente nesta ordem.

Os Milionários

O Brasil tem hoje 194.300 milionários (patrimônio acima de US$ 1 milhão).
A previsão é de que o Brasil terá em cinco anos 5.940 super ricos (patrimônio acima de US$30 milhões). Será o sexto país do mundo em número de ricaços, abaixo apenas dos EUA, Japão, China, Alemanha e Reino Unido.
Importante: os números acima não alcançam laranjas e dinheiro escondido no colchão.

Os Bancos

Examinando os números de somente cinco Bancos, a receita proveniente de serviços (não considerando receitas financeiras) somou R$ 54,840 Bilhões! E apresenta uma despesa total de Imposto sobre Serviços no valor de R$1,469 Bilhão, o que representa 2,67% da receita de serviços.
Se os Bancos tivessem recolhido o imposto na alíquota de 5% (que a esmagadora dos Municípios adota para Bancos) o valor do ISS teria sido de R$ 2,742 Bilhões. Houve, portanto, uma aparente evasão de imposto no valor de R$ 1,273 Bilhão! E apenas numa amostragem de cinco Bancos.

Cartões de Crédito/Débito

As duas maiores operadoras de cartões de crédito e débito capturaram o valor de R$ 639,900 Bilhões em transações financeiras em 2012. Obtiveram uma receita líquida de R$ 8,578 Bilhões! O valor do Imposto sobre Serviços recolhido foi de... Não sei! Essa informação não consta dos Demonstrativos. Será que recolheram alguma coisa?

De resto...

É o resto mesmo.


quarta-feira, 19 de março de 2014

Mensagens no contracheque

Segundo notícia no Jornal Valor, uma construtora foi condenada a pagar indenização por danos morais a todos os seus funcionários, por causa de uma mensagem que fez constar dos contracheques, que dizia: “Não desanime, pois até um pé na bunda te empurra pra frente”.

Os funcionários não gostaram e o caso foi parar no Tribunal Superior do Trabalho, onde os ministros, por unanimidade, reprovaram o ato, dizendo a ministra relatora que o conteúdo da frase é “rude e inapropriado para o ambiente do trabalho”. Cada funcionário vai receber um valor aproximado do salário mínimo, a título de indenização.

Por certo, um funcionário do Departamento de Pessoal quis fazer graça e o idiota imprimiu aquela frase nos contracheques. A esta altura, foi ele que, provavelmente, levou um pé na bunda e perdeu o emprego.

Mas, não deixa de ser interessante inscrever nos holerites algumas frases de incentivo e encorajamento aos funcionários. No caso de servidores públicos, poderíamos dar exemplos de frases incentivadoras. Seguem algumas:

“Faça de conta que cada pessoa que você atenda é a sua mãe”

“Não deixe para amanhã o que pode ser resolvido hoje”

“Não esqueça que desacatar o público também é crime”

“A sua autoridade é proporcional aos seus atos educados de conduta”

“Se você tem dúvidas na interpretação da lei, imagine o contribuinte”

“A multa não é uma regra; é uma exceção da regra”

Ou, então, algumas frases do tipo Barão de Itararé:

“De onde menos se espera, daí é que não sai nada"

"Sábio é o homem que chega a ter consciência da sua ignorância"

“Não é triste mudar de ideias, triste é não ter ideias para mudar"

“Tenha uma assinatura simples; mais fácil de ser copiada no cartão de ponto”

“Se você acordar aborrecido, não vá trabalhar; se você acordar feliz, fique em casa e curta a família”

"Tudo seria fácil, se não fossem as dificuldades"

"Este mundo é redondo, mas está ficando muito chato"

"O fígado faz mal à bebida"

“Se o sintoma persistir, tire uma licença médica”

“Prorrogue a licença médica, se o sintoma não persistir”.


segunda-feira, 17 de março de 2014

Novidades na Comunidade

Faz tempo a comunidade não é assunto neste antro de intrigas e considerei dever moral retornar ao tema. Talvez alguém se lembre do Seu Broa e a ideia de explorar o óleo do “Pré-Sol”, com barquinhos recolhendo o óleo a boiar nas águas límpidas da nossa praia, óleo vazado dos tanques dos navios e plataformas que resolveram jogar âncoras aqui no litoral e transformar a nossa praia em base marítima de operações de limpezas navais.

Pois saibam que mesmo sem apoio do BNDES o negócio deu certo! Seu Broa e um grupo de meninada remam seus barcos todas as manhãs, antes do sol nascer (vem daí o ‘pré-sol’) e enchem dúzias e dúzias de garrafas pet com o precioso líquido... Tudo bem, misturado com água, mas a proporção de óleo é o que conta.

Numa dessas manhãs, dei uma escapada e fui fingir que fazia a caminhada na orla, quando encontrei o Seu Broa, sentado no banco de costume e olhando o mar, também como de costume. Sentei-me ao seu lado. E ele, sem me olhar, foi dizendo:

“Sabe, doutor, estou muito preocupado com este negócio. Confesso que não sabia como é complicado ser empresário”.

“Mas o senhor não está vendendo toda a produção?”, perguntei.

“Estou! Um posto de gasolina compra tudo, não me pergunte o destino que ele dá ao meu óleo. Mas, agora, o cliente está pedindo nota fiscal. O recibinho que eu passava não serve mais, a coisa está crescendo”. E ficou olhando o mar.

Uns cinco minutos depois, eu perguntei:

“O que o senhor pretende fazer?”

“O Seu Manoel da Padaria me deu o endereço de um contador e fui lá conversar com ele. Um sujeito estranho... Disse que eu devo ser gay para ter nota fiscal”.

“Ser gay?”, perguntei espantado.

“Pois é, ele disse que todos os microempreendedores são gay... Olha, doutor, eu respeito todo mundo e cada um que faça o que quiser do seu corpo, mas não tenho mais idade de boiolar por aí”.

Entendi, afinal, o que ele estava dizendo.

“Não, seu Broa, não é gay, é MEI! Ele falou que o senhor tem que se inscrever no MEI, Microempreendedor Individual”.

Finalmente, ele me olhou.
“Desculpe, doutor, mas eu entendi perfeitamente. Acho que é mais uma cota a favor de minorias, como o governo está fazendo... Cota para os pobres, cota para os negros, cota para os deficientes, e, agora, cota para gays. Minha patroa, que assiste novela, me disse que a Globo está apoiando”.

Tentei explicar.

“Não é não, Seu Broa! O senhor pode ficar tranqüilo que ninguém vai obrigá-lo a ser gay”.

Por me levar em conta, ele finalmente acreditou.

“Tudo bem, obrigado pelo esclarecimento, mas esta exigência era a menos complicada, porque ser gay não deve ser uma coisa tão chata assim... Eu não conheço nenhum que foi e depois desistiu. Em toda a minha vida nunca conheci um ex-gay, ou nome parecido. Mas deixa pra lá! Problema maior é que ele disse que um mundaréu de gente vai começar a se meter no meu negócio. Uma tal de Brama vai querer projeto de sus-ten-ta-bi-li-da-de e-co-ló-gi-ca, tive que escrever esse palavreado, e olha que eu não bebo Brahma, só cachaça. Vou ter que pagar um monte de letrinhas, ICM, INENÉ, CSLELÉ, CONFINS do Juda e muito mais que já esqueci, o alfabeto era completo, tinha até ipisilone. Ele disse que o governo vai ser o meu sócio nos ganhos. Ainda tenho que preencher um tal de RAIS que me parta, por causa da meninada. Estou quase desistindo”. E ficou olhando o mar.

Tentei animá-lo.

“Não é bem assim. O programa do MEI é bem fácil e o senhor não vai pagar tantas letrinhas assim”.

Ele não se convenceu.

“Sei não, o meu lucro vai sumir e tem outras coisas esquisitas...”

“Que coisas?”

Ele deu um muxoxo.

“O contador, aquele sujeito estranho, me disse que está tentando descobrir o meu CANAI para enfiar o seu CENEPEJOTA! Nunca mais eu volto lá, doutor... Quem tem CANAI tem medo, sei lá o tamanho desse CENEPEJOTA”.