sexta-feira, 31 de agosto de 2012

O custo do automóvel no Brasil

Para incentivar o consumo interno, o governo federal promove, de vez em quando, ofertas de reduções do IPI. No caso de veículos, a redução atual é a seguinte:
Carro de até 1000 cc – IPI de 37% passou para 30%;
Carro acima de 1000 cc até 2000 cc – IPI de 41 – 43% passou para 35,5 – 36,5%;
Utilitários – IPI de 34% passou para 31%.

Tais reduções propiciaram uma queda média máxima de uns 10% no preço de venda do carro, a depender do tipo do veículo. Por exemplo, um Fiat Mille Fire 1.0 que custava ao redor de R$23.650,00, passou para R$21.360,00 (10,72% de diferença); um Logan Expression 1,6 que custava ao redor de R$32.820, passou para R$30.490,00 (7,64% de diferença); um Nissan Sentra 2.0, que custava ao redor de R$52.990,00 passou para R$48.790,00 (diferença de 8,61%).

A verdade, porém, é que, mesmo assim, o preço de carro no Brasil é alto demais se comparado com outros países. E o motivo maior dessa exagerada diferença é justamente a carga tributária. Enquanto no Brasil a carga tributária dos veículos chega a ultrapassar o percentual de 40% do preço do veículo, nos Estados Unidos o percentual oscila de 6% a 9%. Nos demais países, a média percentual alcança a faixa de 16%. Esta é uma das razões por que um carro, como o Nissan Frontier custa R$121.390 no Brasil, e nos Estados Unidos o seu preço é de R$63.450 (dólar convertido na base de R$2,02). Ou seja, quase a metade do preço.

Fica, então, a pergunta de um leigo em econometria e política econômica: em vez de ficar fazendo promoções temporárias de redução de imposto, com vistas a aumentar o consumo, por que não reduzir logo a alíquota de uma vez por todas? Não teríamos assim um fluxo normal de consumo, sem a necessidade de incentivos ocasionais?

Os especialistas em mercado dizem que a política de preço de um produto depende da concorrência e da elasticidade da demanda. Em outras palavras, uma empresa não pode aumentar desmedidamente o preço de seus produtos (e assim maximizar seus lucros) sem manter equilíbrio em relação aos preços de produtos similares concorrentes; e não pode deixar de avaliar a demanda de compradores, que pode aumentar ou diminuir em função do preço ofertado. 

A dizer com isso que a margem de lucro das empresas vai depender da política adotada na fixação do preço, isto é, de olhos na concorrência e na demanda. Evidente que todas as empresas almejam um lucro cada vez maior, mas a ambição do lucro maior não significa necessariamente aumentar o preço de seus produtos. Há casos em que a redução do preço de venda, em vez de prejudicar a margem de lucro, pode proporcionar maiores ganhos em volume.

Algumas décadas atrás, a japonesa Honda entrou no mercado americano com um política agressiva de venda, com preços inferiores aos dos concorrentes locais. Foi uma grita geral de protestos dos americanos nacionalistas, mas a Honda foi um sucesso de venda. Qual foi a política da Honda? Produzir em escala uma maior quantidade possível de carros, manter a qualidade e diminuir o custo por produto, podendo, assim, vendê-lo por preço inferior ao da concorrência. E manteve uma margem pequena, mas razoável, de lucro para ganhar na quantidade, no volume de venda.

Mas tudo gira em torno de um planejamento de marketing, sério, criterioso e formulado para produzir efeitos durante um longo ou médio prazo. Seria cabível, então, considerar que essa redução do IPI, de 7 a 8%, veio representar uma redução de uns 10% no preço do carro? É certo que não! As montadoras deram apenas uma resposta promocional, para efeito de uma comercialização momentânea, aproveitando-se até para aliviar seus estoques de alguns modelos mais problemáticos de venda.

A verdade é que as montadoras não irão reformular suas políticas de preço por motivos ocasionais ou passageiros. Preço é assunto de vital importância para elas, e não ficarão brincando de trocar suas políticas ao sabor de eventos efêmeros. Podem, sim, reformular seus preços diante de uma mudança firme e permanente nos seus custos, a permitir-lhes uma revisão do mercado como um todo.

Em conclusão, se o governo adotar de forma segura e firme, sem provocar sustos e dúvidas angustiosas aos empresários, uma política de custo tributário menor e permanente da carga tributária, fatalmente a política de fixação de preço (e de lucro) das empresas será reexaminada e direcionada ao aumento do volume de suas vendas, e proporcionando, assim, aumento de produção e, consequentemente, de emprego. Talvez assim pudéssemos ter preços de veículos no Brasil mais compatíveis aos preços lá de fora.

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