Ontem não tive maior espaço para explicar a plataforma de governo dos dois candidatos a vereador aqui da comunidade, Chinelinho e Índio da Verdura. Não que me interessa promessas de políticos, mas importante conhecer as diretrizes filosóficas dos nossos candidatos, se socialista ou liberalista, ou nem uma coisa nem outra, quem sabe uma nova ideologia possa surgir na cabeça desses insignes candidatos à vereança. Afinal, ainda acredito no surgimento de um novo e revolucionário pensamento político depois da derrocada do comunismo burocrático e do capitalismo canibal. E tudo começa na vereança, geralmente o marco inicial da carreira política.
Chinelinho é mais rico de ideias, talvez por sua atividade profissional de biscateiro, pau pra toda obra, como dizem aqui os comunitários. Uma de suas promessas de campanha é o (desculpe a expressão) “Guarda-Merda”. Seria um triciclo com um tambor na traseira a ser utilizado como depósito da gordura recolhida das caixas, trabalho executado pela Prefeitura. Muito interessante a ideia, pois um dos problemas na limpeza das caixas de gordura é justamente saber onde despejar o material retirado. Comentei ao Chinelinho que as senhoras ficariam constrangidas em solicitar os serviços do Guarda-Merda, por causa do nome, expressão chula e desagradável. Ele me respondeu que a comunidade adotará a sigla, GM, e ninguém vai se lembrar que GM significa Guarda-Merda.
Ao perguntar sobre o custo do serviço, Chinelinho explicou que a Prefeitura cobrará uma taxa, cuja denominação jurídica será “Taxa de Armazenamento da Merda Domiciliar” – TAMD, e o valor seria calculado por quantidade de litros de merda recolhidos. Vocês pensam que Chinelinho é bobo? Nem um pouco.
Índio da Verdura vive em torno de sua profissão, comercialização de legumes, verduras e hortaliças. Por isso, sua plataforma política está assentada na produção e consumo de tais produtos. Quando soube do projeto GM do concorrente Chinelinho, propôs uma coalizão política pela qual sairia um projeto de lei conjunta, estabelecendo que os materiais armazenados no Guarda-Merda fossem usados nas hortas comunitárias como adubo natural. “O doutor já se imaginou comendo uma verdura que cresceu viçosa da própria merda que o senhor mesmo evacuou?”, perguntou o candidato naturalista-ecologista. Fiquei imaginando...
Perguntei se as hortas comunitárias não prejudicariam o seu negócio de vender verduras. Disse que não, explicou que ao ser eleito deixaria de vender verduras, galgaria novas posições, um atravessador, quem sabe, sempre gostou da palavra atravessador, embora não saiba o seu significado. Faria a administração das hortas comunitárias, controlaria a produção, teria caminhões para transportá-la, empregados e assessores, instalaria sacolões, teria contador, faria registro no super-simples, já ouvira a respeito, sonegaria impostos, o seu celular, quando tivesse, seria grampeado... E segurando a bicicleta das verduras com as mãos trêmulas e olhando para o céu com aqueles olhos enviesados, ele disse: “Eu tenho um sonho...”. Cheguei a me arrepiar, parecia Martin Luther King.
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