Às vezes exagero nas ironias e depois fico com remorso. Um desses casos é o de falar mal do ensino público, não como crítica ao Poder Público por sua inoperância e desfaçatez na gestão da educação, não há qualquer resquício de remorso neste aspecto, mas em relação ao próprio Ensino Público por sua vital importância no futuro do nosso País.
Podem torcer o nariz os modernistas, mas sou de um tempo em que o Ensino Público era referência de qualidade e de rigor. Na minha cidade, o Colégio Nilo Peçanha, Escola Pública do Estado, era o ponto mais alto de conceito exemplar de ensino. Nós, que não conseguíamos ingressar no Liceu por deficiências nossas, olhávamos com profunda admiração (e certo grau de inveja) os alunos daquela Escola, quando passavam por nós, vestidos com aquele uniforme impecável, inconfundível.
Na minha rua havia uma escola pública (acho que ainda existe), cujo nome era, ou é, Baltazar Bernardino. Por despeito, nós chamávamos os alunos da Escola de “Besta Burro”, por causa do BB de seus uniformes. E eles circulavam com a cabeça erguida e peito estufado, orgulhosos, realmente eles eram bestas, aqueles caras metidos, mas de burro não tinham nada.
O único do nosso grupo de amigos que estudou no Baltazar Bernardino foi o Pitéu. Passou em primeiro lugar no vestibular de Física na Universidade Federal. Não tinha nada de cota, passou por estudo mesmo! Deu um banho no resto da nossa turma de escolas particulares.
Quem não queria nada com a hora do Brasil estudava nos colégios particulares PP (pagou passou). Bem, deve-se ressaltar que nem toda escola particular era PP, havia, sim, escolas particulares muito boas, algumas até a rivalizar com as públicas. Escola Pública não era lugar de mediocridade, quem não estudava era reprovado, e com dois anos de reprovação era expulso. Não tinha conversa, não tinha chororó de mãe, não tinha ameaça ou pressão aos professores.
Ah, os professores! Quando entravam na sala os alunos se levantavam em sinal de respeito. Hoje são recebidos com vaias e saraivada de bolinhas de papel ou de coisa pior. Os professores estão desmoralizados, ridicularizados e desprezados. Além de ganhar um salário vergonhoso, são obrigados a tolerar as agressões, verbais e físicas, que sofrem. São de tal forma humilhados que acabam vencidos e não mais se importam em ensinar. Simplesmente cumprem horário.
Sou do tempo em que os professores, além de ensinar, educavam os alunos. Questões sobre a moral, a ética, a cidadania, a civilidade eram abordadas nas salas de aula, não importava a matéria ministrada por eles. Não dizer que não havia maus alunos, farristas e bagunceiros (eu era um deles), mas fazíamos as nossas artes escondidos dos professores e o mais distante possível de seus olhares. Sabíamos que, se pegos, a punição viria incontinenti, imperdoável. E não foi por tais punições e rigor que se criou uma geração de debilóides e pervertidos. O desencanto está nas escolas atuais, verdadeiras casas de tolerância, no sentido, é claro, de tolerar, aceitar, submeter-se aos ditames de uma “política” educacional frouxa e corrupta.
Até hoje, já velho, ainda me lembro dos nomes dos meus professores em minha infância e adolescência. Ainda me lembro de seus ensinamentos, suas regras de memorização. Quem pode se esquecer do TUTANUCA do Professor Portugal Neves, para decorar as tribos indígenas (Tupis, Tapuias, Nuaruaques, Caraíbas). E as fórmulas de teoremas do Professor Rego Melo? E o mapa de rios do Professor Vieira? E as técnicas de desenho do Professor Jardim?
Mas não se preocupem com este tom nostálgico. Afinal, são apenas reminiscências de um velho.
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