“As notícias, quando são sempre
as mesmas, depois de algum tempo se tornam entediantes”, disse Umberto Eco em “Cemitério
de Praga”. E, assim, como ninguém mais quer saber da tragédia de Mariana
(exceto as pessoas que estão sofrendo na carne), do impich da Presidente, da
desfaçatez do tal Cunha, da roubalheira geral, dos maus tratos às esposas (o
castigo da infidelidade é o escárnio da indiferença), a morte dos cinco rapazes
(no Brasil, assassinar cinco seria considerado chacina se as vítimas fossem brancas),
enfim, tanta coisa ruim acontecendo que o melhor é esquecer. Não ler as
manchetes dos jornais, passar vazado pela página dos cansativos artigos
retóricos (como são chatos esses atuais articulistas de jornais, meu Deus do
céu!), e procurar nas entrelinhas alguma coisa interessante.
E foi aí que encontrei a Operação
Picanha!
A imprensa noticiou que um
Auditor da Receita Federal recebia peças de carne de um frigorífico para não
autuá-lo. Denunciado, a Polícia Federal montou a Operação Picanha, e depois de
demorada investigação prendeu o esfomeado servidor público. O caso ocorreu na
bela cidade de São José do Rio Preto, cidade que possui umas três excelentes
churrascarias.
A Polícia apreendeu uma
ilustrativa tabela de preços da propina na casa do carnívoro:
Infração
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Propina
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Não cumprir obrigação acessória
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Uma costela inteira de boi gordo
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Receber mercadoria sem nota fiscal
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Dez quilos de picanha maturada
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Vender sem nota fiscal
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Dez quilos de picanha e dez quilos de fraldinha
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Receber boi sem registro
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“Mix” de costela, picanha, filé e miolo de
alcatra
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Receber uma boiada sem registro
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Um traseiro completo desossado
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Segundo depoimento de vizinhos, o
guloso auditor fazia churrasco em todos os fins de semana e convidava todo mundo.
Há fortes suspeitas, mas que não foram comprovadas, de que havia também propina
de carvão e cerveja.
Ele foi condenado a oito anos de
reclusão e sem direito de comer carne na prisão. Não lhe deram nem o direito da
delação premiada. Se assim lhe fosse permitido, ele poderia devolver um espeto
de coração de galinha. E já temperado.
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