Nesta longa existência de quase-carioca (chamo de quase-carioca aqueles que residem, como eu, na região metropolitana do Rio de Janeiro), sofri apenas um assalto: levaram o meu carro numa das ruas de São Gonçalo. No dia seguinte, os ladrões deixaram o veículo quase no mesmo local do assalto, inteirinho, com os documentos e equipamentos nos seus devidos lugares, e tanque cheio! Pode-se dizer, então, que não foi um roubo, mas um empréstimo, porém solicitado de forma inconveniente, com arma na cabeça e palavras grosseiras. Caberia, no caso, um pouco mais de educação aos ladrões, saber pedir com modos gentis, o que afastaria a conotação de roubo e transformar-se num simples pedido de empréstimo, ao qual eu poderia até aceder, se os argumentos da urgência no uso do carro me convencessem. Mais uma vez, comprova-se a necessidade de os governantes investirem na educação.
Se fui vítima uma única vez de roubo, o mesmo não posso dizer de furtos e estelionatos. As tentativas são diárias e persistentes, às vezes logradas com êxito pelos meliantes, quando me pegam desprevenido ou desatento. A Internet, por exemplo, é hoje o grande veículo de tentativas de furtos e estelionatos, com a entrada caudalosa de mensagens simuladas nos meus endereços digitais, todas com a intenção de ludibriar-me e surrupiar os meus dados cadastrais e, consequentemente, meu patrimônio. Por isso, tornou-se um hábito ajoelhar-me, antes de ligar o computador, e orar a Deus para que eu não caia na tentação de abrir uma daquelas armadilhas que me são ofertadas. Todo o dia tem uma tentadora maçã suculenta, que me é satanicamente oferecida, a qual se deve resistir bravamente com a ajuda do Profeta, abençoado seja Ele. E para esse tipo de tentativa criminosa, não há proteção policial ou judicial que o ampare, você só tem a proteção divina, o quanto nos basta.
Sou vítima de inúmeros e incontáveis furtos neste sofrido cotidiano. O meu plano de Internet é de 100 mega e só recebo 20, embora pague por 100, o que me é justificado pelos laboriosos atendentes telefônicos da quadrilha, com suas complexas explicações técnicas, todas plenamente aceitas por este ignorante no assunto. Mas, confesso, sempre que desligo o telefone me sinto mais uma vez ludibriado. E por não ter soluções terrenas, faço minha oração ao Profeta, que Deus O tenha.
Outros furtos estão nas contas mensais. A conta de luz, por exemplo, tenho dúvidas se é uma caixa de pandora ou uma caixa preta. Não há mês que bata o consumo apurado e cobrado com os meus controles. Pois é, acho que sou um dos poucos a controlar aquele “velocímetro” do relógio, anotando o consumo. E se reclamar, os atendentes da quadrilha vão me convencer que o meu controle é que está errado, o melhor é procurar um professor de matemática elementar.
Outro furto normal que sofro nas contas é aparecer coisas estranhas não adquiridas. A TV a cabo, por exemplo, lançou na minha conta um pacote de “Filmes Adultos”. O que seria isso? Telefonei e vim a saber que se tratava de filmes de sexo livre. “Mas, eu disse ao atendente telefônico, isso eu já tenho nos filmes normais, assistidos em qualquer horário, o que não falta neles são cenas de sexo explícito”. E o atendente da quadrilha garantia que eu comprei o tal pacote. Perguntei: “Escuta, essas ligações não são gravadas? Pois me mande a gravação do meu pedido!”. E ele desligou, assim, abruptamente, sem mesmo perguntar se eu desejava mais alguma coisa. Outra vez, a falta de educação!
Pois bem, para não dizer que a ironia voa sozinha, sem conclusões concretas, recomendo ao governo instituir o FUNDEQ, tal qual FUNDEF e FUNDEB. O FUNDEQ seria o Fundo de Educação às Quadrilhas, com o intuito de prover de educação as quadrilhas que nos roubam, furtam e fraudam. Sentimo-nos mais satisfeitos quando somos roubados com educação e gentileza, isso é um fato incontestável, a notícia do roubo não sai nos jornais e nem integra as estatísticas de crime.
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