No terreno da minha casa tenho um
pé de lima da pérsia, cajueiro, açaí, jabuticaba, pitanga, acerola, tangerina,
lichia, mamão e cupuaçu. Cercado de muros é o meu mundo vegetal, onde minhas
plantas vivem rodeadas de outros muros, de outros mundos, de outras espécies,
das quais desconhecem o modo que levam a vida, e não se importam por não lhes
dizer respeito. Às vezes, uma folha se libera ao vento, ultrapassa o muro e vem
cair no mundo das minhas plantas. E elas nem se comovem diante do indício de
vida vegetal do outro lado do muro. Pelo contrário, irritam-se com aquela
invasão e desejam somente que a folha seja varrida ao lixo.
Cuido das minhas plantas com zelo
e paciência. De vez em quando, tenho de acrescentar terra nova com insumos. A
terra se esgota. Diariamente, cada uma recebe um balde de água. Quando chove,
dispensa-se. O meu prazer é vê-las desabrochar felizes, mas nem consigo saber
se são realmente felizes, por causa dessa vida enfurnada que levam.
As plantas não me conhecem, embora
tivesse sido eu que as plantei e que as mantenho vivas. Eu sou o criador, fui
eu que as criei, mas quando me aproximo elas se calam, não conversam comigo, talvez
pela descrença da minha existência, ou pelo simples fato de não saber como
comunicar-se. Elas me ignoram, apesar de todo o amor que sinto por elas. Nunca
lhes faria mal, porém, se eu deixar de regá-las, de enriquecer a terra, quem
sabe, com fome ou doença elas voltem suas atenções para mim?
Não conversam comigo, mas lhes
dou todas as oportunidades. Procuro atrair suas atenções, falo sobre o tempo,
do sol inclemente e dos trovões ameaçadores, eu procuro mostrar a vida que
levam e, de vez em quando, canto para elas, ao som dos pássaros que as procuram.
Mesmo assim, elas se calam, recusam os meus convites. Seria bom se o criador
pudesse ouvi-las, talvez alguns agradecimentos, talvez alguns reclamos, talvez
alguns desejos que eu pudesse atender. Eu até as entenderia melhor e, quem
sabe, ajudar-lhes-ia mais ainda. Talvez, preocupadas com a labuta diária, de
alimentar-se, de gastar energia ao produzir suas flores e frutos, do ataque das
formigas e dos pulgões, enfim, preocupadas com a rotina cansativa de suas
existências, elas me deixam de lado, como se o criador fosse um ser imaginário,
somente vivo nos seus pesadelos, ou lembrado nos momentos de desespero.
E seria tão fácil conversar
comigo, o criador, eu as entenderia da forma que desejassem, por meio de vozes,
pensamentos, gestos ou pequenos sinais. Eu gostaria de ouvi-las, assim, como se
fosse uma boa prosa, e mesmo que não entendessem minhas palavras, poderiam se
expressar na forma de uma oração brotada no âmago de seus seres.
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