segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Fui eleito! (e agora?)

O candidato eleito, após abraços e comemorações, entra no radical processo de mudanças comportamentais, reagindo agora de forma bem diferente ao receber os que lhe procuram, reduzindo drasticamente o grupo que o cerca, fechando-se em copas diante de eventuais intrusos e inoportunos visitantes.
           
Durante a campanha, cada presença valia um voto, ou mais de um voto, o remédio era estender a mão, trocar beijos e abraços, a necessária paciência, se tudo faz parte do jogo democrático.  Mas, vencido o jogo, o que surge à frente, ao lado do prêmio do poder assegurado, é uma pesada carga de avaliações, de dúvidas, de confrontos.

Apesar de cada vez mais cercado de pessoas (prefeito eleito goza do milagre da multiplicação de amigos), o eleito passa a sofrer de um mal comum aos líderes: a síndrome da solidão na tomada de decisões. Pode pedir opiniões e sugestões a todos do seu grupo, pode até não pedir, pois as opiniões e sugestões virão naturalmente sem a necessidade de provocá-las, mas a decisão é indelegável, esta é a sua responsabilidade.

Assim, estão os prefeitos eleitos, após as incertezas da campanha e as alegrias da conquista, perguntando aos seus botões: o que fazer agora? Como cumprirei as promessas de campanha?

Drucker dizia que os gerentes eficazes fazem primeiro as primeiras coisas, e uma coisa de cada vez. A primeira coisa que um prefeito eleito deve fazer é conhecer a sua nova casa e como vem sendo administrada.

Em relação à área financeira, o prefeito eleito precisa, basicamente, saber o seguinte:

1) Balanço das contas orçamentárias, verificando se há "estouro" de saldos ou aqueles que não irão suportar até o final do ano;
2) Volume de recursos empenhados, liquidados e pagos, observando que "liquidados" e "pagos" podem não ser necessariamente a mesma coisa. Um empenho pode estar completo, liquidado, mas ainda não pago;
3) Restos a Pagar processados e aqueles não processados. É preciso muito cuidado com processos de pagamentos parados ou "esquecidos" nas gavetas, ou indevidamente arquivados.
4) Processos de cobranças ainda não transitados em julgado, contra a Prefeitura;
5) Relação dos precatórios e respectivos prazos de pagamento;
6) Situação dos contratos de fornecimento de produtos e serviços indispensáveis, com as datas dos respectivos vencimentos.

Além disso, está na hora de examinar a situação jurídica dos tributos do próximo exercício, inclusive a análise do rol de isenções, anistias e remissões, se existente. Não podemos esquecer que os preparativos de lançamento do IPTU do primeiro exercício já devem estar acontecendo, receita a repercutir no seu primeiro ano de mandato. Além do IPTU, temos os lançamentos de valores fixos do ISS e das taxas anuais.

Ao lado de tais problemas, temos outros. A esta altura, as equipes de primeiro e segundo escalão já devem estar resolvidas, ou, pelo menos, acertadas na cabeça do prefeito eleito. Mas, e o resto? Escolher a equipe é uma decisão difícil e muito delicada. Neste momento, estão aguardando a sua decisão:

1) Membros da família que querem um emprego;
2) Amigos dos membros da família que anseiam por um emprego;
3) Correligionários políticos que aguardam suas nomeações;
4) Parentes, amigos e conhecidos de correligionários políticos que desejam um emprego;
5) Servidores públicos municipais que apoiaram o eleito e agora consideram justo receberem nomeação para algum cargo de chefia ou assessoria gratificada.

Administrar esse volume de pedidos requer alta dose de argúcia por parte do prefeito eleito, principalmente habilidade em saber esquivar-se dos incapazes, incompetentes e dos desonestos. Está na hora de inaugurar a resposta do "NÃO!", ou do "INFELIZMENTE, NÃO É POSSÍVEL".

Às vezes, os capazes, competentes e honestos não estão tão próximos e tão ansiosos de lograrem oportunidades de cargos e funções. Neste momento, o maior dom do prefeito eleito será saber alcançar com suas vistas todos aqueles que realmente serão produtivos, úteis e eficazes em sua gestão.


(este artigo foi escrito em 2005, reeditado em 2012 e continua fresquinho).

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