sábado, 23 de abril de 2016

Si te va à Rio



Lá no passado do qual ninguém se lembra, havia um sambinha carnavalesco que dizia “Si te va à Rio” etc. e tal, versão francesa da marchinha "Madureira Chorou". Não sei francês o suficiente para afirmar que o a antes de Rio tem crase ou não tem, mas a tradução deve ser: “Se tu vais ao Rio” (a gente cantava Riô).

Bem, naquele tempo vir ao Rio era sempre uma festa. Os franceses adoravam a cidade, sempre alegre, acolhedora, de uma bagunça muito bem organizada. Agora, a coisa mudou: não somos mais aquele povo boboca e ingênuo, que recebia os estrangeiros educadamente e não se importava quando um francês maluco se banhava pelado em Copacabana. O carioca ria da cena e dizia que na França era assim mesmo. No verão de Paris, um monte de franceses nadavam pelados no Sena, sempre havia um entendido a explicar. O povo se divertia com as extravagâncias dos gringos.

Agora, não. Se francês for nadar pelado suas roupas são furtadas. Carioca não é mais otário. Se estrangeiro bobear no calçadão é roubado e, se resistir, esfaqueado. Se antes o gringo pedisse caipirinha no bar, recebia a mistura de cachaça com limão. Agora recebe álcool com um limão faz tempo cortado, estragado e armazenado em latões. O comerciante não é mais correto e gentil. Não perde uma oportunidade para passar o estrangeiro para trás. O negócio é faturar.

O francês quando chegava era atendido por um taxista que conduzia o passageiro pelo caminho certo, e lá chegando, ele próprio carregava a bagagem até a recepção do hotel. Agora, roda a cidade como se fosse um passeio turístico e, se o passageiro bobear, foge com as malas. O carioca não é mais aquele bobo de antigamente. Agora, só tem esperto.

A velha cidade bucólica permitia passeios pela floresta da Tijuca. Passeavam vestidos com roupas de caçadores, pois temiam apenas a presença de uma onça. Agora, floresta quase destruída e onça morta, são atacados por bichos de duas pernas. Deu mole, perdeu!

Se antes uma epidemia de tifo quase assustou os gringos, hoje os perigos são mais sofisticados. Juntaram-se aos bichos humanos os mosquitos, todos organizados para chupar o sangue dos visitantes. Do arcaico tifo oferecemos agora o dengue, zika, microcefalia e outras variedades de doenças. O Rio se modernizou!

Então, se te va à Rio, não pense que o Rio é aquele da marchinha, do passeio inocente à Madureira, das praias cariocas e de Búzios. Já foi o tempo de Bardot! O carioca não é mais aquele bobalhão simpático. Ele aprendeu. Tu vais ser recebido por um povo ressentido, amargurado e revoltado. E fortemente armado!

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