Lá no passado do qual ninguém se
lembra, havia um sambinha carnavalesco que dizia “Si te va à Rio” etc. e tal, versão francesa da marchinha "Madureira Chorou". Não sei francês o suficiente para afirmar que o a antes de Rio tem crase
ou não tem, mas a tradução deve ser: “Se tu vais ao Rio” (a gente cantava Riô).
Bem, naquele tempo vir ao Rio era
sempre uma festa. Os franceses adoravam a cidade, sempre alegre, acolhedora, de
uma bagunça muito bem organizada. Agora, a coisa mudou: não somos mais aquele
povo boboca e ingênuo, que recebia os estrangeiros educadamente e não se
importava quando um francês maluco se banhava pelado em Copacabana. O carioca
ria da cena e dizia que na França era assim mesmo. No verão de Paris, um monte
de franceses nadavam pelados no Sena, sempre havia um entendido a explicar. O
povo se divertia com as extravagâncias dos gringos.
Agora, não. Se francês for nadar
pelado suas roupas são furtadas. Carioca não é mais otário. Se estrangeiro
bobear no calçadão é roubado e, se resistir, esfaqueado. Se antes o gringo
pedisse caipirinha no bar, recebia a mistura de cachaça com limão. Agora recebe
álcool com um limão faz tempo cortado, estragado e armazenado em latões. O
comerciante não é mais correto e gentil. Não perde uma oportunidade para passar
o estrangeiro para trás. O negócio é faturar.
O francês quando chegava era
atendido por um taxista que conduzia o passageiro pelo caminho certo, e lá
chegando, ele próprio carregava a bagagem até a recepção do hotel. Agora, roda
a cidade como se fosse um passeio turístico e, se o passageiro bobear, foge com
as malas. O carioca não é mais aquele bobo de antigamente. Agora, só tem
esperto.
A velha cidade bucólica permitia
passeios pela floresta da Tijuca. Passeavam vestidos com roupas de caçadores,
pois temiam apenas a presença de uma onça. Agora, floresta quase destruída e
onça morta, são atacados por bichos de duas pernas. Deu mole, perdeu!
Se antes uma epidemia de tifo
quase assustou os gringos, hoje os perigos são mais sofisticados. Juntaram-se
aos bichos humanos os mosquitos, todos organizados para chupar o sangue dos
visitantes. Do arcaico tifo oferecemos agora o dengue, zika, microcefalia e
outras variedades de doenças. O Rio se modernizou!
Então, se te va à Rio, não pense que o Rio é aquele da marchinha, do
passeio inocente à Madureira, das praias cariocas e de Búzios. Já foi o tempo
de Bardot! O carioca não é mais aquele bobalhão simpático. Ele aprendeu. Tu
vais ser recebido por um povo ressentido, amargurado e revoltado. E fortemente
armado!
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