Da série: Contos Fantásticos
Um
supermercado desabou em pleno dia esmagando centenas de pessoas. Veio a
polícia, o corpo de bombeiros, ambulâncias e jornalistas. Cercaram o local da
tragédia com cordões de isolamento. E veio o Prefeito, logo cercado pelos
jornalistas na tentativa de obter alguma informação que explicasse o
desabamento.
Somente
bombeiros tiveram permissão de entrar nos escombros do prédio. As lajes
sobrepostas deixavam em certos lugares um pequeno espaço pelo qual os bombeiros
se esgueiravam abaixados, arrastando-se
ou de cócoras. O objetivo principal era o de procurar sobreviventes. Objetivo
secundário era o de transportar os mortos para fora.
Um jornalista,
mais afoito, resolveu, na confusão, entrar nos escombros junto aos bombeiros.
Ninguém o percebeu e ele, arrastando-se entre as lajes, conseguiu ingressar
naquele espaço espremido e de escuridão apavorante.
Cheio de
horror encontrava pedaços de corpos por toda parte. Um cheiro nauseabundo o fez
vomitar. Mesmo assim, tentou transcrever no seu bloco de anotações tudo aquilo
que sentia naquele cenário dantesco. Percebeu, então, que esquecera ou perdera
a caneta.
- Ei! Você! Me
joga essa cabeça aí!
O jornalista
levou um susto. Procurou a origem da voz e conseguiu visualizar um bombeiro
próximo.
- Falou
comigo?
- Claro! Não
tem mais ninguém aqui! Me joga essa cabeça que está aí do seu lado.
O jornalista
avistou uma cabeça humana decepada ao seu lado. Angustiado, segurou
cuidadosamente a cabeça pelos cabelos ensanguentados e, arrastando-se, levou-a
até o bombeiro. O militar pegou-a satisfeito e a jogou num saco.
- Ótimo! Só
falta um pé esquerdo para completar um corpo. Você viu um pé esquerdo por aí?
- Não! Você
teria uma caneta pra me emprestar?
O bombeiro
olhou-o desconfiado.
- Pra quê você
quer uma caneta?
- Sou
jornalista e preciso fazer algumas anotações.
O bombeiro deu
um sorriso.
- Eu tenho uma
caneta aqui no bolso, mas a empresto se você me der um pé esquerdo.
O jornalista
irritou-se.
- Eu não tenho
pé esquerdo nenhum! Me empresta essa droga de caneta!
O bombeiro não
gostou da resposta.
- Ei cara!
Mais respeito! E sem pé esquerdo não empresto coisa nenhuma!
O jornalista
tentou tirar à força a caneta do bolso do bombeiro e os dois rolaram no chão
sangrento numa luta brutal e descontrolada.
Bem mais
tarde, quando saiu a relação dos mortos, o nome do jornalista estava
incluído. Foi o mais fácil de ser
reconhecido, pois era o único corpo intacto.
Faltava-lhe somente o pé esquerdo.
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