quinta-feira, 21 de abril de 2016

O impeachment e lembranças amargas

Dizem que brasileiro tem memória curta. Não é assim: o ser humano, em geral, não gosta de guardar na memória os momentos ruins de sua vida; apaga-os discretamente, de modo a garantir no futuro que aquele momento não existiu. A única lembrança de coisa ruim ainda guardada na memória do brasileiro foi o 7 a 1 da Alemanha. Mesmo assim, já tem gente que jura de mãos juntas que aquela goleada nunca houve e não passa de invenção da imprensa.  

Todos sabem que o processo de impeachment da Presidente Dilma foi instaurado em razão de irregularidades administrativas cometidas durante a sua gestão, mas, na verdade, o efeito propulsor foi a péssima atuação do seu governo.

Em defesa da boa memória, cabe aqui registrar que a expressão “pedalada fiscal” foi usado pela primeira vez no dia 23 de janeiro de 2014, no artigo ‘O ano com 13 meses’, do excelente jornalista Ribamar Oliveira, publicado no Jornal Valor naquela data. O termo pegou e foi usado, posteriormente, no relatório do Tribunal de Contas da União.

Também em defesa da boa memória, vale relembrar que o ex-presidente Lula estava muito preocupado ao assumir o seu primeiro mandato, em 2003, em razão das ameaças da burguesia nacional de fechar as portas de suas empresas, causar desemprego e outras coisas. Veio daí a decisão do governo em manter, pelo menos inicialmente, a política econômica adotada no governo FHC, com a ortodoxa gestão econômica da dupla Palocci/Meirelles, o que proporcionou, realmente, maior credibilidade do seu governo perante a assustada burguesia empresarial brasileira.

Mas, havia outra ala governamental doida para se ver livre daquela dupla, acusada de práticas neoliberais que, se de um lado dava firmeza a posição econômica e fiscal, do outro lado ‘esquecia’ as promessas de avanços sociais tão divulgadas na campanha eleitoral do PT. Essa ala de oposição interna cresceu de poder nos gabinetes governamentais, com a nomeação da Dona Dilma, em 2005, para chefiar a Casa Civil. Inimiga da dupla Palocci/Meirelles divulgou logo um relatório em que a acusava de impedir os investimentos sociais com aquela política firme de segurar despesas (curioso que anos depois chamou o Joaquim Levy para segurar as contas, coisa que não tolerava anteriormente).

A briga interna foi vencida por Dona Dilma e seus asseclas, derrubando Palocci e Meirelles. Entrou Guido Mantega, menina dos olhos da Chefe da Casa Civil. A mudança foi radical: o plano de ajuste fiscal de longo prazo foi rasgado e no seu lugar entrou em vigor a chamada “Nova Matriz”, cuja regra básica era, na realidade, investir tudo que for possível nos avanços sociais, pois o recurso Deus provê.

E no início até que Deus fez a sua parte. Mas os desmazelos foram tantos que o nosso Pai cansou de subsidiá-los. Já no segundo mandato de Lula o desastre se anunciava, porém ainda era possível retirar água no fundo do poço. E no período da Dona Dilma uma das soluções encontradas foi repassar compromissos financeiros para os bancos estatais, além de sugar ao máximo o sangue das empresas estatais, principalmente da Petrobrás. Surgiram, então, as pedaladas fiscais e outras falcatruas.

É chato ficar lembrando-se de coisas desagradáveis, além da goleada de 7 a 1. Mas, será mesmo que o Brasil perdeu de 7 a 1 da Alemanha? Já estou duvidando...

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