Dizem que brasileiro tem memória curta. Não é assim:
o ser humano, em geral, não gosta de guardar na memória os momentos ruins de
sua vida; apaga-os discretamente, de modo a garantir no futuro que aquele
momento não existiu. A única lembrança de coisa ruim ainda guardada na memória
do brasileiro foi o 7 a 1 da Alemanha. Mesmo assim, já tem gente que jura de
mãos juntas que aquela goleada nunca houve e não passa de invenção da imprensa.
Todos sabem que o processo de impeachment da
Presidente Dilma foi instaurado em razão de irregularidades administrativas
cometidas durante a sua gestão, mas, na verdade, o efeito propulsor foi a
péssima atuação do seu governo.
Em defesa da boa memória, cabe aqui registrar que a
expressão “pedalada fiscal” foi usado pela primeira vez no dia 23 de janeiro de
2014, no artigo ‘O ano com 13 meses’, do excelente jornalista Ribamar Oliveira,
publicado no Jornal Valor naquela data. O termo pegou e foi usado,
posteriormente, no relatório do Tribunal de Contas da União.
Também em defesa da boa memória, vale relembrar que
o ex-presidente Lula estava muito preocupado ao assumir o seu primeiro mandato,
em 2003, em razão das ameaças da burguesia nacional de fechar as portas de suas
empresas, causar desemprego e outras coisas. Veio daí a decisão do governo em
manter, pelo menos inicialmente, a política econômica adotada no governo FHC,
com a ortodoxa gestão econômica da dupla Palocci/Meirelles, o que proporcionou,
realmente, maior credibilidade do seu governo perante a assustada burguesia
empresarial brasileira.
Mas, havia outra ala governamental doida para se
ver livre daquela dupla, acusada de práticas neoliberais que, se de um lado
dava firmeza a posição econômica e fiscal, do outro lado ‘esquecia’ as
promessas de avanços sociais tão divulgadas na campanha eleitoral do PT. Essa
ala de oposição interna cresceu de poder nos gabinetes governamentais, com a
nomeação da Dona Dilma, em 2005, para chefiar a Casa Civil. Inimiga da dupla
Palocci/Meirelles divulgou logo um relatório em que a acusava de impedir os
investimentos sociais com aquela política firme de segurar despesas (curioso
que anos depois chamou o Joaquim Levy para segurar as contas, coisa que não
tolerava anteriormente).
A briga interna foi vencida por Dona Dilma e seus
asseclas, derrubando Palocci e Meirelles. Entrou Guido Mantega, menina dos
olhos da Chefe da Casa Civil. A mudança foi radical: o plano de ajuste fiscal
de longo prazo foi rasgado e no seu lugar entrou em vigor a chamada “Nova
Matriz”, cuja regra básica era, na realidade, investir tudo que for possível
nos avanços sociais, pois o recurso Deus provê.
E no início até que Deus fez a sua parte. Mas os
desmazelos foram tantos que o nosso Pai cansou de subsidiá-los. Já no segundo
mandato de Lula o desastre se anunciava, porém ainda era possível retirar água
no fundo do poço. E no período da Dona Dilma uma das soluções encontradas foi
repassar compromissos financeiros para os bancos estatais, além de sugar ao
máximo o sangue das empresas estatais, principalmente da Petrobrás. Surgiram,
então, as pedaladas fiscais e outras falcatruas.
É chato ficar lembrando-se de coisas desagradáveis,
além da goleada de 7 a 1. Mas, será mesmo que o Brasil perdeu de 7 a 1 da
Alemanha? Já estou duvidando...
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