Foi assim: o meu voo de Porto Alegre para Brasília, dia 28 de julho, foi cancelado e a TAM providenciou a alteração, colocando-me no voo do dia seguinte. Paciência, essas coisas acontecem. Mas, a própria TAM marcou o meu assento ao lado da saída de emergência! Importante: no voo cancelado, o meu assento estava marcado na fila 2, longe, portanto, das saídas de emergência.
Ao entrar na aeronave,
obedeci ao que estava no bilhete, sentando-me no lugar determinado. Quando
todos os passageiros já ocupavam os seus lugares, um meninote da chamada
tripulação dirigiu-se a mim e perguntou: “O senhor tem mais de 60 anos?”. “Tenho”,
respondi. E ele, todo pomposo, fazendo alarde de sua notória importância: “Então,
o senhor não pode sentar aí! Queira se levantar e procurar outro assento!”.
Respondi: “Não saio, não. Quem me colocou neste assento foi a TAM”. E ele: “Se
o senhor não quer sair por bem, vou chamar a segurança”. E lá foi ele, todo afoito,
a procura da tal segurança, para me retirar por mal.
Fiquei no meu lugar,
aguardando a chegada da dita segurança. Falei à senhora do lado: “Quando a
segurança chegar, a senhora se abaixa pra não levar bordoada”. Tensão a bordo,
todos aguardando a segurança. Quem chegou foi uma moçoila, que se autodenominou
“Chefe da Tripulação”. “O comandante mandou dizer que, enquanto o senhor não
sair daí, ele não sai com a aeronave”. Perguntei: “Mas, por que eu tenho de
sair daqui?”. Ela, de nariz empinado: “Porque o senhor não tem condições
físicas para manejar a saída de emergência!”. “E como a senhora sabe que eu não
tenho condições físicas para manejar a saída de emergência?”, perguntei,
realmente curioso em saber como aquela moçoila poderia conhecer as minhas
condições físicas. Ainda pensei, “será que ela me viu fumando lá fora, na
entrada do aeroporto?”. Ou, então, “será que eu estou andando curvado e ainda
não percebi?”. “Será que estou babando?”. Passei discretamente a mão na minha
boca. Não estava babando.
Não era nada disso, ela
esclareceu: “Porque o senhor é idoso!”. E acrescentou: “A ANAC proíbe idoso de
sentar nas saídas de emergência”. Resolvi, então, sair do lugar para não
prejudicar os demais passageiros. Ela me conduziu para outra fila, avião
lotado, e perguntou a uma senhora: “A senhora tem mais de 60 anos?”. A senhora
respondeu: “Tenho 58 anos”. E a chefete do tripulacho: “Então, a senhora troca
de lugar com esse senhor”. E a senhorinha, coitadinha, magrinha, franzina,
andando com dificuldades, foi para o meu lugar. Para quem não sabe, a locomoção
da porta de emergência representa uns 15 quilos de empuxo. Eu carrego um
botijão de gás, levo nos braços três sacos de carvão, de 6 quilos cada um. Será
que aquela senhorinha, de 58 anos de idade, ainda consegue levantar um botijão
de gás? E a minha esposa? Com 62 anos de idade, corre 14 quilômetros
diariamente. E troca o gás, com a maior facilidade. A conclusão: 60 anos é,
realmente, o limite da capacidade física de cada um?
Sentei-me no novo assento,
peguei o meu cartão de fidelidade e coloquei toda a minha força nas mãos para
rasgar o maldito plástico. Consegui! Quando o meninote passou por mim, mostrei
a ele o cartão rasgado e disse: “Consegui rasgar o cartão da TAM com as mãos.
Tente fazer o mesmo com o seu!”. Ele passou vazado.
O tripulacho da TAM tentou
repassar a responsabilidade dos seus atos à Agência Nacional de Aviação Civil –
ANAC, mas essa agência em nenhum momento diz que os passageiros idosos podem
ser constrangidos ou humilhados. Pelo contrário, a ANAC estabelece normas
especiais para proteção das pessoas com deficiência, com idade igual ou
superior a 60 anos, gestante, lactante ou pessoa com mobilidade reduzida. Essas
pessoas compõem um grupo que a ANAC denomina de PNAE. Diz a agência que o PNAE
tem atendimento prioritário. Poucos sabem, por exemplo, que o PNAE goza de um
desconto de 80% por excesso de bagagem para o transporte de equipamentos
médicos.
A TAM não segue a ordem
de questionar o PNAE, antes de embarcar, sobre as suas condições físicas, até
mesmo para saber se ele pode, ou não, viajar junto às saídas de emergência. Aliás,
a regra da ANAC sobre a vedação nas saídas de emergência está claramente
voltada ao PNAE que sofre de alguma deficiência, pois diz que essas pessoas
devem ter assentos especiais, junto ao corredor, dotados de descansos de braços
móveis, sendo vedada sua localização nas saídas de emergência. Ora, nunca a TAM
me disponibilizou assentos especiais, justamente pelo fato de eu não precisar, por
enquanto, de tais benefícios.
E mais ainda: a ANAC
autoriza piloto de aeronave comercial com idade de até 65 anos. E a própria
ANAC esclarece: “Os estudos
concluíram, também, que a capacidade psicofísica de uma pessoa não está
restrita somente ao fator idade e sim a vários outros fatores”. Ora,
esses estudos só servem para pilotos de avião?
Postei hoje no Controle de Qualidade do Facebook algo que aconteceu comigo semelhante ao ocorrido com você. No dia 04 do mês de julho do ano de 2016 no voo JJ 3519 da linha área Latam Airlines, trecho Brasília / BSB – Vitória/ES, portador do bilhete do ETKT nº 49572131734614, Sequence nº 94, após embarque ocupou o assento 12 “C” corredor, que, como dito antes, lhe fora reservado por ocasião do check-in. Me perguntaram se tinha mais de 60 anos, como a respostas foi afirmativa me disserem que não poderia viajar ali e que deveria mudar de assento. No meu caso até o comandante da aeronave veio me dizer que teria de mudar de assento, perguntado o porquê, a resposta foi que há uma determinação (Resolução) da ANAC que coloca homens e mulheres com idade igual ou superior a 60 anos no rol de passageiros com necessidade de assistência especial. Eis a explicação. Por fim, fui discriminado, constrangido, tratado como um incapaz, um estorvo, em profundo desrespeito ao Estatuto do Idoso e à Constituição Federal. Enfim, se é verdade que a ANAC autoriza piloto de aeronave comercial com idade de até 65 anos, cujo argumento é que estudos indicam de forma conclusiva que a capacidade psicofísica de uma pessoa não está restrita à sua idade cronológica, mas a vários fatores, dentre eles a idade biológica. Tal como você arguiu, pergunto: esses estudos só servem para pilotos de avião? Idosos do Brasil, unamo-nos!
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