A moda agora é programa de
cozinhar! A Televisão está cheia desses programas, tipo Masterchef Inglaterra,
Masterchef Canadá, Masterchef Austrália, Masterchef Afeganistão, ou apresentação
de artistas preparando comida na cozinha. No caso dos artistas, fica fácil
observar que eles não têm a mínima intimidade com a tal arte culinária. Todos
maquiados, cabelos escovados, unhas bem feitinhas, e fingindo que cozinham.
Tive que rir quando uma artista deu um pulinho de susto quando o óleo da
frigideira chiou forte na fervura.
O pior é que essa moda chegou
aqui em casa. Leilane, minha esposa, resolveu ser masterchef e não perde um só
programa do gênero. Assiste a todos e conhece os concorrentes ao prêmio do
melhor prato, da Austrália à Sumatra, de Nova York à Tegucigalpa, já tem os seus
favoritos e torce por eles. Sofre quando perdem, vibra quando vencem.
Mas, o pior de tudo é que ela
resolveu fazer da nossa cozinha um laboratório de pesquisa culinária. Passa o
dia anotando as receitas no seu tablete para depois preparar a comidinha
escolhida. Até aí nada de mais, se não fosse eu a cobaia!
Sento-me à mesa com uma fome de
anteontem (à lá Chico Buarque) e ela me avisa sorridente: “Hoje eu fiz um
troquetone pituchini flambado Lumiére. Quero que você prove e dê uma nota”. Meu
Deus! E eu, garfo e faca nas mãos, vejo-a depositar à minha frente, um pratinho
com o tal pituchini não sei o quê. Aliás, pratinho coisa nenhuma! A comida vem
num pires, de tão pouquinho que é. Uma coisinha no meio, uns rabiscos dos
lados, um filete fininho de pimentão amarelo e outras coisinhas a enfeitar o
prato, isto é, o pires. O pimentão foi a única coisa que consegui identificar.
Ela põe o prato e aguarda
ansiosa, esfregando as mãos, a minha nota. Por favor, entendam a dramaticidade
da situação: se eu der nota ruim ela vai se zangar e ficar de mal comigo o
resto do dia. E quem sabe (maldição!), até divórcio! E eu não posso perdê-la! Tenho,
então, que ser parcial na nota. Com todo o cuidado, escolho uma espécie de borboleta de
cor vermelha e levo à boca. Tento mastigar, mas o negócio é duro e não cede.
Suspendo a respiração e engulo. Por pouco não engasgo. Consigo falar: “Está
bom! Muito bom!”. Ela me olha irritada: “Roberto, você comeu a borboleta de
plástico. Era só enfeite!”.
Pensa que ela desiste? De jeito
nenhum. “Coma o troquetone!”. Bebo três copos de água e enfrento aquilo que ela
denomina de troquetone (ou coisa parecida). Tinha gosto de gelatina de salmão. “Excelente!
Nota 10!”. Ela fica toda satisfeita. “Amanhã vou preparar uma gurrupela de
sachí venturini. Você vai adorar!”.
Ah que saudade do feijão com
arroz, bife acebolado, farofa e ovo estrelado em cima do arroz. E uma bananinha
para completar. Uma saladinha de tomate e alface, bastante azeite, sal a
gosto... Um macarrão a bolonhesa, carne bem moída e temperada, queijo ralado em
cima... Ou, quem sabe, bife de panela, batatas coradas, angu de milho...
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