Seu Zezinho morreu. Enquanto dormia, a morte sempre à espreita deu o bote fatal e pegou-lhe desprevenido. A morte é sorrateira e ardilosa, ataca quando menos se espera.
Seu Zezinho era o Seu Broa das
minhas histórias da comunidade. Era meu amigo. Era nosso costume sentar-se no
banco da praia e olhar o mar. Sem conversas e vontade de puxar assunto, como se
comportam os amigos. Pessoas amigas não precisam conversar, o importante é
estar reunidas. Ficávamos lado a lado por um bom tempo a zelar pelo oceano profundo,
assim, como se estivéssemos recolhidos às nossas orações. E depois de um longo
passar das horas, Seu Zezinho comentava, com sua voz mansa e macia: “vem um
sudoeste aí”. E bom tempo depois, eu retrucava: “vai trazer chuva”. Uma gaivota
plainava no vento, de olho nos peixes. Na praia, um casal de gaviões bicava
areia, para ajudar a moela esmagar os alimentos.
Seu Zezinho era um homem do mar,
cheirava à maresia e tinha a pele curtida pelo sol. O seu rosto, enrugado na
rusticidade do tempo. Nunca vi Seu Zezinho de camisa: somente bermuda e
descalço. Às vezes, eu o surpreendia a cantarolar, soltando uns gemidos para o
mar. Talvez se lembrasse do seu tempo de pescador em mar alto. Um canto para deixar
o mar calmo e sonolento. Uma vez, ele me disse: “o mar é bom, mas tem pavio
curto, não deve ficar aborrecido”.
Seu Zezinho não mais pescava em
mar alto. A idade e a bolsa família convenceram-no a desistir. Fazia, agora,
uns biscates nas pedras da praia, com pesca de linha. Vendia os peixes nas
barracas e comia alguns. Sua vida seguia o remanso das ondas tranquilas, que se
estendiam na areia e, depois, desistiam de avançar e recuavam.
Seu Zezinho, o seu Broa, morreu.
O banco da praia está vazio, mas as gaivotas lá estão, plainando ao vento, os
gaviões a bicar os grãos de areia. O mar, ah o mar, ele não parece o mesmo.
Deve estar aborrecido. Eu também estou aborrecido, sentado no banco e sem
ninguém para conversar.
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