Fui convidado a fazer um discurso na formatura de mestrado de uma turma de servidores municipais, fato por si só a me deixar em dúvida sobre a seriedade do curso. Tentei alertar os formandos sobre o grave erro de convidar-me, mas estavam resolutos e firmes neste propósito inusitado. Aliás, ao implorar que me desconvidassem e ter explicado o motivo, o pessoal já começou a rir, a considerar o meu pedido, feito seriamente, eu juro, uma piada inicial, assim, como se eu já estivesse treinando o falatório.
Bem, assumida a integral responsabilidade da turma, só me resta comparecer e discursar. O problema, porém, é o tema: falar o quê? Andei pensando em desejar a paz mundial, mas poderiam confundir com concurso de Miss Universo. Outro gancho seria conclamar a todos os formandos que fizessem um esforço para mudar o mundo. Tremenda besteira, pois se ninguém consegue mudar nada, como querer que os coitados mudem o mundo? Lembrei-me do Presidente Obama, ao discursar para alunos, incentivá-los a se tornarem pessoas melhores. Não! É outra besteira totalmente vazia e desprovida de sentido.
Falar o quê? Dizer que eles ganham pouco e o melhor a fazer é procurar outro emprego? Que o curso de mestrado nada irá representar de melhoria salarial na Prefeitura? Que o diploma servirá apenas para currículo? E que os políticos, atualmente em governo municipal, estão pouco se lixando pelos servidores? Não! Acho que o discurso fica muito forte e gravemente pessimista.
Falar o quê? Dizer que a população precisa de servidores mais capacitados? Não! Pura demagogia. Por mais capacitado, o servidor estará sempre subordinado a chefias temporárias, sazonais, que chegam de paraquedas e vão embora pelas portas dos fundos. Alguns até com boa vontade e ideais positivos, mas a boa vontade se fenece ao encontrar os obstáculos costumeiros e os ideais se evaporam diante da cruel realidade dos governos municipais. E os servidores lá permanecem, talvez iludidos com o sobrevôo de novos paraquedistas.
Falar o quê? Dizer que as Prefeituras estão se modernizando, assumindo novos ares de eficiência, transformando-se em exemplo de qualidade de gestão e presteza no atendimento à população? E neste sentido, os servidores serão benquistos aos olhos de todos, passando a ser um orgulho trabalhar na Prefeitura? Não! O discurso seria otimista demais, sonhador demais. Muito nobre orgulhar-se da função, embora recebendo um salário vil, todavia, prever a satisfação no emprego através de previsões quiméricas, é risco de sair vaiado.
Falar o quê? Bem, talvez seja, realmente, mais recomendável pedir a paz mundial, conclamar a todos um esforço para mudar o mundo e incentivá-los a se tornarem pessoas melhores. E no final, contar a velha e surrada piada do sujeito que entrou tranquilamente no hospital com uma faca cravada na barriga. O médico, espantado, perguntou: “Isso não dói?” E o sujeito respondeu: “Só quando rio, doutor”. Por certo, ninguém vai rir da piada, para não sentir dor na barriga.
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