O empresário no gabinete do prefeito:
- É como eu digo, prefeito! A fábrica que
construirei aqui transformará a sua cidade!
O prefeito dá um sorriso acanhado, passa a mão na
cabeça, examina o empresário de cima a baixo, e diz:
- Isso é muito bom! Mas me diga, por favor:
transformação pra melhor ou pior?
O empresário dá uma gargalhada sonora.
- Claro que pra melhor! A cidade vai crescer,
prosperar!
O prefeito se remexe na cadeira, coça os olhos, dá
outro sorriso e diz:
- Olha, o senhor não repara não, somos tudo matuto,
o senhor é lá da capital...
O empresário dá um sorriso complacente.
- Ora, não é assim, prefeito... Quando a fábrica
estiver funcionando, o senhor não reconhecerá mais a sua cidade!
- Uai sô! Pois é isso que me preocupa, sabe? Já
estou vendo um monte de caminhão passando nas nossas ruas, tudo empoeirado, uma
zoeira danada...
O empresário intervém:
- Aí está! A cidade com dinamismo, pujante! Não
será mais esse lugar lúgubre, sonolento!
- Esse tal de lug eu não sei, mas aqui todo mundo é
sonolento mesmo. Eta povo com vontade danada de dormir! Gosta de dormir de
noite, gosta de dormir depois do almoço. E pra dormir tem que ter sossego.
- Ora, o povo se acostuma! Ainda mais com o
dinheiro girando na cidade!
O prefeito arregala os olhos:
- Dinheiro girando? Que trem doido! Vai ter dinheiro
assim, pra todo mundo?
O empresário procura não se impacientar.
- É o jeito de dizer, prefeito. O dinheiro vai
circular, todos vão ganhar!
- Todos quem? O senhor disse que vai trazer tudo de
fora, até os empregados.
O empresário dá um pigarro.
- Sim, mas o comércio local vai vender mais...
O prefeito se recosta na cadeira.
- Ah, se tiver mais gente comprando, o Zeca do
armazém vai aumentar os preços. Aquele Zeca é esperto pra diabo! O povo vai ter
que pagar mais caro!
O empresário não desiste.
- E o ICMS que o município vai ganhar? A receita
vai aumentar!
O prefeito se debruça na mesa para enrolar um
cigarrinho de palha.
- Aqui em Minas são quase mil municípios. Esse tal
de ICMS é repartido, repartido até ficar uma migalhinha pra cada um... Depois,
vou ter de calçar as ruas por causa do estrago dos caminhões... O senhor paga o
calçamento?
O empresário já não está tão confortável.
- Bem, a gente pode pensar nisso no futuro...
O prefeito aperta.
- E o senhor ainda quer isenção de ptiú, de ISS da
construção da fábrica... Vai pelo menos pagar a taxa de coleta de lixo?
O empresário se entusiasma.
- Essa taxa eu pago, sim senhor! Pagamentos
pontuais!
O prefeito fica acendendo o cigarro de palha e
puxando fogo.
- Isso é bom. Pena que não cobro essa taxa aqui na
cidade. O povo não gosta de pagar taxa.
O empresário já está nervoso.
- Então, institui a taxa! Meu advogado ajuda a
fazer o projeto!
O prefeito dá uma baforada no cigarro.
- O melhor a fazer é o seguinte: o senhor conhece o
Município de Pirulito, aqui do lado?
- Não, não conheço...
- Pois é, o senhor vai lá e propõe a construção da
fábrica em Pirulito. O prefeito de lá, meu adversário político, adora essas
coisas de modernidade.
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