O sol reinava. O calor se
alastrava. As conversas se arrastavam. Em monossílabos. Sem afirmações, fatos
novos, sem qualquer convicção. O desgaste das conversas inúteis. O garçom não
era mais chamado, apenas um breve sinal com a mão indicava o pedido de mais uma
cerveja. Os copos se esvaziavam sem maiores explicações ou motivos. Os olhos
nos copos, as mãos no copo, a boca no copo. O cansaço de não fazer nada.
Praia vazia. No quiosque do
calçadão apenas eles três, quase deitados nas cadeiras dobráveis. Protegido na
cobertura do quiosque, o garçom dormitava debruçado sobre o balcão. Mas, de vez
em quando, olhava para a mesa dos três, a vigiar os sinais de pedidos. Quando
via um braço estendido, em esforço sobre-humano levantava-se a pegar mais uma
garrafa e levá-la à mesa.
Os três suavam em sonolência. O
suor pingava sobre a mesa e escorria nas pernas. Alguns murmúrios a comprovar
que ainda estavam vivos.
Foi, então, que passou sobre eles
um elefante voando. O animal batia freneticamente as orelhas que o sustentava
no ar. Flap, flap, flap, o barulho das orelhas em movimento. Um deles, com
esforço hercúleo, levantou a cabeça e olhou o elefante voando. Os outros dois,
de má vontade, fizeram o mesmo, a acompanhar o voo do animal até ele sumir no
horizonte e o som das orelhas reduzir-se a nada, a voltar o domínio do
silêncio.
Voltaram-se à posição anterior,
cabeça baixa a olhar o copo. O garçom dormitava sobre o balcão. Até o mar
dormia, sem ondas e o refluxo das marolas.
Mas, aos poucos, um barulho veio
crescente, aumentando e aumentando. Era uma manada de elefantes que surgia no
céu. Cada elefante batia com força suas orelhas, a tromba reta para frente. Um
barulho ensurdecedor. Flap, flap, flap, o chão tremia, a mesa tamborilava, a
garrafa de cerveja balançava perigosamente.
Com os olhos semicerrados os três
olharam o céu e acompanharam a manada voando. Passava exatamente sobre as suas
cabeças. Cada um a segurar o seu copo com uma das mãos e a outra a proteger a
garrafa. Flap, flap, flap, os elefantes voavam em revoada organizada, a seguir
o seu rumo, obcecados, como se fosse a fatalidade de seus destinos.
E assim como o elefante
precursor, a manada foi sumindo no horizonte, sumindo, sumindo até desaparecer.
E o silêncio voltou a dominar.
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