Ao assistir o filme Marco Polo na
Netflix, o Khan dos mongóis disse uma frase interessante: “Se você mentir para
mim, você passará vergonha; se você mentir duas vezes para mim, eu passarei
vergonha”. Ou seja, se alguém conta uma mentira, o ouvinte pode até acreditar,
mas quem deve sentir vergonha é quem mentiu. Porém, se o mentiroso lhe repete a
mentira é por que subestima a sua inteligência ao ponto de acreditar naquela
mentira. A vergonha será sua.
O nosso mundo gira em torno da
mentira. Diariamente, recebo mensagens absurdas e mentirosas via web, e a minha
única defesa é o simples gesto de deletar. De tanto insistirem nas mesmas
mentiras, eu me sinto envergonhado por me considerarem um idiota que possa dar-lhes
crédito.
São dezenas e dezenas de
mensagens diárias mentirosas. Uma senhorinha insiste em querer aumentar o meu
pênis, como se me conhecesse nas intimidades. Outro quer aumentar as minhas
vendas, como se eu fosse comerciante. Outro cara quer “agitar as minhas
noites”, como se eu procurasse agitação na hora de dormir. Uma mulher quer
acabar com as minhas enxaquecas, coisa que eu nunca tive. Fico envergonhado, e
vou deletando tudo rapidamente antes que a minha mulher leia tais mensagens e
me olhe desconfiada.
E agora, telefonemas de políticos
para angariar votos. Aquelas mensagens gravadas. “Caro amigo niteroiense, conto
com o seu voto para ajudar-me a limpar a nossa cidade!”. Eu já me sinto vestido
de gari e varrendo a cidade ao lado do futuro prefeito. Se ao varrer o meu
quintal já me vem dor nas costas, imagine varrer as ruas!
Aquele nazista, o tal de Goobels,
disse (se não for mentira de alguém) que “uma mentira contada muitas vezes se
torna realidade”. Acho que o nazistão estava errado. A mentira se torna
verdadeira quando o mentiroso de tanto contar a mesma mentira passa a acreditar
que é verdade. O fator principal não está, portanto, em quem ouve, mas em quem
conta.
Ainda bem que a maioria dos
mentirosos tem memória curta. Eles mentem e depois esquecem a mentira contada.
Mas existem alguns mentirosos que se lembram de suas mentiras e vivem
repetindo-as, até se tornarem realidade, pelo menos para eles.
E a mentira me vem à cabeça
justamente nesse período conturbado da política nacional. De tanto serem
repetidos, alguns chavões se instalaram em nossos cérebros. “Pedalada” (todo
mundo fala em pedalada, mas pouquíssimos sabem o que é isso); “responsabilidade
fiscal” (a maioria pensa que é a conduta de um Fiscal); “reforma tributária”
(uns pensam que é acabar com a tributação e outros pensam que a política
tributária atual é culpa dos últimos governantes que apenas cumpriam a
Constituição); “acordo de leniência” (a maioria do povo pensa que é acordo de
saliência, de safadeza). Bem, talvez seja isso mesmo.
Rodeado, assim, de tanta mentira,
já estou realmente acreditando que preciso aumentar o meu tubo urinário,
transformar-me em comerciante e trocar o meu colchão por um vibrador! Sem
esquecer-me de me livrar dessa terrível enxaqueca que nunca tive.
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