segunda-feira, 1 de agosto de 2016

A arte da mentira

Ao assistir o filme Marco Polo na Netflix, o Khan dos mongóis disse uma frase interessante: “Se você mentir para mim, você passará vergonha; se você mentir duas vezes para mim, eu passarei vergonha”. Ou seja, se alguém conta uma mentira, o ouvinte pode até acreditar, mas quem deve sentir vergonha é quem mentiu. Porém, se o mentiroso lhe repete a mentira é por que subestima a sua inteligência ao ponto de acreditar naquela mentira. A vergonha será sua.

O nosso mundo gira em torno da mentira. Diariamente, recebo mensagens absurdas e mentirosas via web, e a minha única defesa é o simples gesto de deletar. De tanto insistirem nas mesmas mentiras, eu me sinto envergonhado por me considerarem um idiota que possa dar-lhes crédito.

São dezenas e dezenas de mensagens diárias mentirosas. Uma senhorinha insiste em querer aumentar o meu pênis, como se me conhecesse nas intimidades. Outro quer aumentar as minhas vendas, como se eu fosse comerciante. Outro cara quer “agitar as minhas noites”, como se eu procurasse agitação na hora de dormir. Uma mulher quer acabar com as minhas enxaquecas, coisa que eu nunca tive. Fico envergonhado, e vou deletando tudo rapidamente antes que a minha mulher leia tais mensagens e me olhe desconfiada.

E agora, telefonemas de políticos para angariar votos. Aquelas mensagens gravadas. “Caro amigo niteroiense, conto com o seu voto para ajudar-me a limpar a nossa cidade!”. Eu já me sinto vestido de gari e varrendo a cidade ao lado do futuro prefeito. Se ao varrer o meu quintal já me vem dor nas costas, imagine varrer as ruas!

Aquele nazista, o tal de Goobels, disse (se não for mentira de alguém) que “uma mentira contada muitas vezes se torna realidade”. Acho que o nazistão estava errado. A mentira se torna verdadeira quando o mentiroso de tanto contar a mesma mentira passa a acreditar que é verdade. O fator principal não está, portanto, em quem ouve, mas em quem conta.

Ainda bem que a maioria dos mentirosos tem memória curta. Eles mentem e depois esquecem a mentira contada. Mas existem alguns mentirosos que se lembram de suas mentiras e vivem repetindo-as, até se tornarem realidade, pelo menos para eles.

E a mentira me vem à cabeça justamente nesse período conturbado da política nacional. De tanto serem repetidos, alguns chavões se instalaram em nossos cérebros. “Pedalada” (todo mundo fala em pedalada, mas pouquíssimos sabem o que é isso); “responsabilidade fiscal” (a maioria pensa que é a conduta de um Fiscal); “reforma tributária” (uns pensam que é acabar com a tributação e outros pensam que a política tributária atual é culpa dos últimos governantes que apenas cumpriam a Constituição); “acordo de leniência” (a maioria do povo pensa que é acordo de saliência, de safadeza). Bem, talvez seja isso mesmo.

Rodeado, assim, de tanta mentira, já estou realmente acreditando que preciso aumentar o meu tubo urinário, transformar-me em comerciante e trocar o meu colchão por um vibrador! Sem esquecer-me de me livrar dessa terrível enxaqueca que nunca tive. 

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