Da
série: Conversas de Botequim
- Fala meu amigo! Como vai a força?
- Fora a zica, perna inchada, varizes, dor nas juntas, hemorroida e
lumbago, vai tudo bem.
- É a idade, professor. Que cachaça é essa?
- Estou bebendo a Porto Morretes, envelhecida em carvalho. Excelente!
- Garçon! Me serve por favor a Porto Morretes que o amigo está
bebendo.
- Como vai a sua Prefeitura?
- Ano difícil, não é professor? Mas, até que estamos segurando a onda,
cortando algumas coisas dali, algumas coisas daqui, controlando as despesas,
vai andando...
- Têm prefeituras que já estão atrasando os salários...
- Eu sei, mas espero não chegar a esse ponto. Pelo menos, aqui a
política ainda está calma.
- Sem coxinhas e petralhas para tumultuar...
- Exatamente! O povo daqui está mais preocupado com a produção,
rezando para que chova no momento certo e que não caia o preço das commodities.
- A soja vai bem?
- Vai. O problema maior ainda é o escoamento; sem ferrovias, estradas
em péssimo estado, frete caro, essas coisas.
- E a receita?
- O repasse do ICMS continua firme. O ISS aumenta com os serviços
terceirizados. O IPTU na mesma. O problema maior está no ITR porque os
proprietários rurais não aceitam o aumento nos valores venais da terra nua.
Estou sofrendo uma pressão danada!
- Você não criou uma comissão técnica para avaliar o preço da terra?
- Pois é! Criei, mas eles querem continuar com os preços do tempo do
INCRA. Querem continuar pagando R$1 mil por hectare de terra plana quando o
preço hoje atinge uns R$4 mil ou mais!
- E eles são poderosos...
- Bota poderoso nisso! Os sindicatos rurais mandam na cidade!
- E como você está conduzindo a coisa?
- Procuro negociar, mas não posso abaixar as calças!
- Tem razão, Prefeito. Duvido que eles vendam as terras por R$ 1 mil o
hectare...
- Claro que não! Na verdade, nem por R$ 4 mil! Tem terra aqui que está
valendo uns R$ 10 mil o hectare, dependendo da extensão da área total.
- Nossa! É dinheiro!
- Pois é. Tem fazenda que vale R$ 1 bilhão e o dono diz que vai
quebrar se pagar o ITR que estamos cobrando. Brincadeira!
- Puxa, até mesmo aqui, neste oásis brasileiro, temos problemas.
- Isso mesmo, professor! Mesmo sem coxinhas e petralhas!
- Então, vamos brindar: que os coxinhas e petralhas fiquem distantes!
- Amém, professor! Já me bastam os sindicatos!
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