Da série: Contos Fantásticos
Logo ao dar entrada no hotel na cidade de Nova York, dei
de cara comigo. Lá estava eu, sentado na poltrona do saguão, vestindo paletó
azul marinho e calça cinza, como eu uso, e gravata de laço duplo, do jeito que
eu gosto. Fui ao meu encontro e ele sorridente cumprimentou-me.
“Você veio para o Congresso do Padrão Standard?”,
perguntou-me o eu americano. “Sim, vim aprender alguma coisa com vocês”,
respondi humilde. Expliquei que eu era brasileiro e representante da Associação
Brasileira dos Clones Standard - ABCS, e estávamos enfrentando sérios problemas
no Brasil. “Aqui também”, disse ele, “o padrão standard tem o maior número de
clones nos Estados Unidos e muitos dos nossos estão exercendo profissões do
padrão popular, o que é um absurdo. Se não fosse a vinda de latinos e asiáticos
do padrão popular a crise seria muito maior”.
Na conversa, contei que a situação no Brasil era meio
diferente. A maioria da população era constituída de clones do padrão popular.
Um pequeno número de pais conseguia dinheiro suficiente para comprar DNA do padrão
standard para seus filhos, pois o SUS só oferece padrão popular, e a bolsa
família não é estendida às pessoas do padrão standard. “Quantos padrões existem
no Brasil?”, perguntou-me. “Inicialmente, respondi, copiamos o modelo americano
de três padrões somente: o Máster, o Standard, e o Popular. Mas o governo achou
pouco e criou o Top Máster, especial para funções de presidentes da república,
de multinacionais, de estatais, ministros da Justiça e do Estado, banqueiros,
senadores, conselheiros da Petrobrás e alguns jogadores midiáticos de futebol.
O padrão máster ficou reservado para deputados, juízes, procuradores, promotores,
governadores, executivos de multinacionais, diretores de empresas brasileiras
de grande porte, advogados criminalistas e técnico-professores de futebol”.
“Bem, disse ele, pelo menos o padrão standard continua bem
diversificado no seu país. Todas as demais funções intelectuais permanecem
restritas ao nosso padrão”. “É verdade”, concordei, “mas houve uma pressão dos
representantes do padrão popular e agora surgiu um projeto de lei criando um
novo padrão de clones, inferior ao popular, já apelidado pelo povo de padrão
bundão. Já imaginou? Se este projeto for aprovado os populares vão querer
aumentar de status e atuarem nas funções do standard”.
O eu americano ficou calado, pensativo, da mesma forma que
eu me comporto quando estou refletindo, ou quando estou na privada.
Aproximei-me e disse: “Bom tempo aquele em que as pessoas nasciam naturalmente
e com a inteligência que Deus lhes deu”.
“Não fale assim!”, alertou-me nervoso, “Isso é conversa de conspiração terrorista!
O FBI anda investigando uma contaminação do DNA com os genes do suposto
falecido Bin Laden! A barra está pesada por aqui!”.
E como sempre eu faço quando estou apreensivo, alisou os
cabelos e apertou o nó da gravata. Confesso que não fui com a minha cara; como
eu sou medroso! Característica típica do padrão standard!
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