A excelente Jornalista Maria
Cristina Fernandes (os seus artigos no Jornal Valor são imperdíveis) relata o
drama do capoteiro Jorge Blanco, intimado no dia 26 de fevereiro passado para
depor na Justiça. O Senhor Blanco é humilde morador no bairro de São Geraldo em
Belo Horizonte e sua renda oscila na faixa de R$ 4 mil.
Perplexo com aquela intimação, o
capoteiro ficou sem dormir os sete dias que se seguiram até a data marcada para
comparecimento. Pediu socorro a um jovem advogado seu conhecido e lá foram os
dois, no dia 4 de março, prestar depoimento no Ministério Público Federal.
Numa enorme sala, repleta de
Procuradores, todos ouviram a voz do Juiz Moro em videoconferência, a dizer
que, na condição de testemunha, o Senhor Blanco estava comprometido a dizer a
verdade, só a verdade, apenas a verdade. Não pediram para jurar com a mão sobre
a Bíblia, parece que esse costume foi abolido.
Nas perguntas iniciais logo
perceberam que se tratava de um equívoco. O Senhor Jorge Blanco era capoteiro
desde criança, não tinha nível superior, nunca ouvira falar da existência de um
Banco chamado Schahin e não era argentino. Percebeu-se, assim, que o ex-diretor
do Banco Schahin, o argentino Jorge Blanco era outra pessoa. Um mero erro de
homônimos.
Mas, antes de chegarem a essa
brilhante dedução, sem dúvida extraída de uma mente extraordinária, o capoteiro
foi ameaçado a ser conduzido à Curitiba onde corria a ação criminal,
provavelmente a ferros e acompanhado pelo japonês.
Depois que o capoteiro e o seu
jovem advogado, ambos gaguejando (e quem não gaguejaria diante da voz impoluta
do Juiz Moro?), explicaram que “blanco não era pleto”, um enorme silêncio dominou
o recinto. O Juiz Moro perguntou se alguém queria se pronunciar. Os
Procuradores, antes tão falantes e pomposos, calaram-se, olharam para suas
próprias mãos e alguns se levantaram para beber um cafezinho.
Até o momento em que o Juiz Moro
caiu na gargalhada, e todos riram (menos o capoteiro e o seu advogado) e o
ambiente tenso foi descontraído. Liberaram, então, o intimado. E NINGUÉM PEDIU
DESCULPAS AO SENHOR JORGE BLANCO!!
(Recomendo a leitura do artigo de
Maria Cristina Fernandes no jornal Valor, de 10/03/2016).
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