quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Conversa para micros acionistas da Petrobrás

Tanta confusão, tanta roubalheira, e os pequeninos acionistas da Petrobrás não sabem se devem desfazer-se de suas ações ou mantê-las sob o otimismo de dias melhores. A não ser que o aplicador esteja realmente necessitado, ninguém deve vender ações na baixa. Mas, a pergunta ansiosa dos acionistas é se a Petrobrás terá dias melhores e renascerá das cinzas.

Neste aspecto, sempre bom lembrar que a Petrobrás tem excelentes reservas de óleo e gás, tecnologia de ponta, além de contar com um ótimo quadro de profissionais, pessoas dignas e sérias que tentam esquecer a humilhação que estão sofrendo, dedicando-se ao máximo nos seus trabalhos.

Bem, apesar dos rombos em suas contas como está a saúde da Petrobrás? Vou usar aqui um pouco do meu conhecimento em análise financeira que vem lá dos velhos tempos que trabalhei no Citibank.

O Balanço do 3º Trimestre de 2014, agora apresentado, mas ainda sem o abono da empresa de auditoria, apresenta uma situação tanto preocupante, em minha opinião. Vejam abaixo alguns números na comparação do Balanço de 2013 com o de 2014 (posição de setembro/14), tudo em milhões de reais:

Geração Bruta de Fundos:
Lucro Líquido (antes do IR e dividendos)                                                   13.464 (fonte)
Necessidades operacionais de capital de giro – curto prazo                        20.220 (uso)
Necessidades operacionais de capital de giro – longo prazo                        6.739   (uso)
Necessidades líquidas de capital de giro                                                    13.495

Fontes não operacionais de recursos:
De Curto Prazo                                                                                        (7.451)  (uso)
De Longo Prazo (excluindo provisões)                                                     13.781 (fonte)
Empréstimos e Financiamentos                                                                 63.890 (fonte)
Fonte Bruta de Caixa:                                                                              71.049

Usos em Investimentos e Ativo Permanente (excluindo intangíveis)           45.126 (x)
Geração Operacional e Não Operacional de Fundos:                              25.923
(x) Não considerei a depreciação por falta de informação.

Observa-se a enorme dependência da empresa na obtenção de fundos externos para manter os seus investimentos e aquisições de ativo permanente. Aliás, parte do financiamento do capital de giro também é sustentada por empréstimos. Uma das razões é o valor incipiente do lucro. No resultado de setembro/2014, o lucro representou 5,33% das vendas, enquanto que em 2012 o percentual foi de 7,44% e em 2013, 7,54%. Opa! O lucro está caindo e isso não é bom (menos lucro, menos dividendo).

O patrimônio líquido em setembro registrava o valor de R$362.240 milhões. Valor impressionante, mas o passivo somava R$438.130 milhões. Mais impressionante ainda. A dizer, então, que o índice “Leverage” atinge 1,20. Ou seja, para cada 1 real próprio, a empresa deve 1,20. Este índice de endividamento vem crescendo, mansa e perigosamente:
2012 – 1,02; 2013 – 1,15.

A piorar, a empresa declara que 31 dos seus ativos apresentam valor contábil superior ao valor justo (valor de mercado), totalizando um montante de perda aparente de R$88,6 bilhões. Todavia, 21 dos seus ativos registram valores abaixo ao de mercado, totalizando R$27,2 bilhões. Em resumo, há uma “desvalorização” de R$61,4 bilhões no Imobilizado da empresa.

O que fazer com essa perda? Por enquanto, nada, pois a contabilidade precisa de documentação formal para lançamento. Contudo, se o ativo permanente da Petrobrás está superestimado em R$61,4 bilhões, a contrapartida seria a redução de igual valor no patrimônio líquido, com uma conta de provisão de perdas ou coisa parecida.

De qualquer forma, se assim fizesse o patrimônio líquido da Petrobrás seria reduzido para R$300 bilhões, e o Leverage daria um pulo para 1,46, o que daria indícios de forte descapitalização e maiores dificuldades de conseguir novos financiamentos externos.

Em suma, a Petrobrás não está ardendo de febre, mas o termômetro acusa uns 38º, que já é febre. Urge mudanças!

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