sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

A crise da energia – uma entrevista surrealista

- Qual foi o motivo do apagão que sofremos?
- É bom deixar claro que não sofremos um apagão. Tivemos apenas um corte geral na distribuição da energia elétrica.
- E qual foi o motivo desse corte na distribuição da energia elétrica?
- Um motivo simples: consumo maior que a oferta, mas nada que venha a nos preocupar.
- A oferta, então, está baixa?
- Em absoluto! O consumo é que está alto! Mas está tudo sob controle.
- Se está tudo sob controle, qual foi a solução encontrada?
- Cortar energia, comprar energia de países vizinhos, procedimentos meramente rotineiros.
- Vai haver, então, racionamento?
- Claro que não! Racionamento está fora de cogitação!
- E se o consumo continuar em alta?
- Neste caso, aplicaremos os procedimentos de rotina: um cortezinho aqui, outro ali, uma comprinha na Argentina, no Paraguai... Mas nada de racionamento!
- E o que vai ser feito para reduzir o consumo?
- Nada! O povo tem direito de consumir energia!
- O governo vai continuar reduzindo tributo dos aparelhos eletrodomésticos?
- Essa política foi muito bem recebida pela população. Vamos aguardar o novo período eleitoral. Tudo no seu devido momento.
- O senhor não acha que cortar o fornecimento, assim, de forma repentina, é pior do que programar um racionamento?
- Meu caro, apagão e racionamento são palavras fortes e impopulares. Palavas tabu! Estamos proibidos de usá-las. Melhor, então, é cortarmos o fornecimento de vez em quando e não explicar a causa do corte.
- Mas a população vai cobrar uma explicação!
- Explica-se após a ocorrência do fato. Podemos dizer que foi um raio que atingiu uma torre, ou um ato de sabotagem, quem sabe um terremoto que derrubou a rede, uma pipa que caiu num fio, um balão que provocou incêndio, meteoro que caiu, o terrorismo internacional, a tal da Au Cuiada. Ou então montar uma comissão para examinar o problema... Você sabe que essas comissões demoram muito nas investigações...
- Não há planos de aumentar a geração de energia?
- Claro que sim! Temos várias usinas em construção.
- Mas todas com obras atrasadas...
- Problemas de burocracia, greve de empregados, questões ambientais, falta de pagamento... Saiba que eu tenho um sonho...
- O senhor também?
- Sim! Eu sonho com um mundo sem Tribunal de Contas, sem Ministério Público, sem proteção ambiental, sem CPI, sem licitação, sem imprensa livre...
- Sem partidos de oposição...
- Não! Isso não! Partidos de oposição têm que continuar existindo!
- Por quê?
- Ora, se eu for demitido pela Presidenta, aonde vou procurar emprego? 

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