domingo, 20 de outubro de 2013

Comissão de Direitos Humanos proíbe gays na igreja

Recebi a seguinte carta:

Caro mestre,
Quando nasci, meus pais, os médicos e todas as demais testemunhas presentes decretaram que eu era do sexo masculino, pelo simples olhar do meu corpo despido. O fato de eu ter órgãos genitais masculinos já servia de prova irrecorrível. Mas, eu não era homem, era mulher, e não tinha meios de defender a minha própria convicção, porque, afinal, eu era um simples bebê recém-nascido.

Sem o meu consentimento, registraram-me com nome de homem e sexo masculino. Fui criada como homem, roupas de homem, brincadeiras de homem, jogos de homem. Não me deixavam brincar com bonecas, obrigavam-me a ficar chutando aquela bola idiota. Se eu chorasse, gritavam: “homem não chora!”. Eu queria uma saia, vestiam-me calças. Eu queria sandálias, calçavam-me chuteiras.

Na escola, o sofrimento era maior. Os meninos debochavam e me maltratavam, chamando-me de mulherzinha ou de bicha. As meninas me evitavam assustadas com aquele ‘menino’ que gostava de brincar com elas.

Em casa, meu pai não me tolerava, a me ofender por qualquer coisa que eu fizesse. O simples modo de andar, de falar, já era motivo de gritos e berros. Minha mãe me olhava como se eu fosse portadora de uma doença contagiosa. Ela chorava pelos cantos e me obrigava a acompanhá-la no culto, para ver se o pastor conseguia tirar o diabo do meu corpo.

Quanto mais crescia, maior o pesadelo da minha vida. Eu era vítima constante do bullyng na escola. Os professores faziam piadinhas a meu respeito na sala de aula, para provocar risadas dos alunos. Caro mestre, esta foi a minha vida na infância e juventude, e tudo pelo simples fato de terem errado o meu sexo. Eu era mulher, eu sou mulher, e ninguém respeitava a verdade da minha própria vida, como se eu não tivesse o direito de decidir sobre a minha própria natureza. Aliás, acho que esse direito realmente não existe.

Quando pude, fui embora da casa dos meus pais. Fiz concurso público (tive que registrar-me como homem) e fui trabalhar numa repartição repleta de pessoas preconceituosas, mas não me importei, já estava acostumada.  Confesso que não tive coragem de vestir-me como mulher. Para os demais, seria uma afronta, poderia ser prejudicada no serviço. Fui covarde, é verdade, mas, de tanto sofrer dissabores, ofensas e maledicências, mantive a roupagem de homem neste corpo de mulher.

Em toda essa vida, o meu único refúgio foi Deus. Mantive o costume imposto pela minha mãe de frequentar a igreja e sentir o conforto do Pai Eterno.

Recentemente, recebi uma graça divina: apaixonei-me por uma pessoa que era o inverso de mim. Era, oficialmente, mulher, mas, na realidade, era homem. E da mesma forma que eu, protegia-se nos braços de Jesus.

E agora, o infortúnio arrasador. O Pastor proibiu-nos de frequentar sua igreja. Considerou um escândalo participarmos do culto de mãos dadas. Fomos expulsos da Casa de Deus.

E vem daí, a minha consulta, caro mestre: o que posso fazer? Posso ingressar na Justiça contra a decisão do Pastor?

Atenciosamente,
(xxxxxxxxxxxxx)  


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