Nos primórdios da humanidade, os seres humanos, nômades por natureza, somente vieram a se fixar graças aos grandes rios. Foi assim que surgiram as primeiras aglomerações humanas nas margens dos rios Nilo, Tigre, Eufrates, Danúbio, Reno, Volga, Indo, Ganges e Amarelo, todos imponentes nos seus cursos, alguns majestosos ao deslizar solene, outros impetuosos e barulhentos. Todos eles traziam camadas extraordinárias de sedimentos, ricos nutrientes que faziam germinar espontaneamente em suas margens os alimentos dos humanos. Diante de tamanha abundância localizada não havia mais motivo de andar a procura de comida, ela estava ali e ali eles ficaram. E as primeiras cidades foram constituídas, todas nas margens dos grandes rios, generosos, a fornecer água e alimento sem nada a exigir em troca. Ou assim pensava o homem.
Tão dadivosos eram que alguns se transformaram em deuses, ou objeto da ação de uma divindade. Os povos das margens do rio Amarelo ofereciam-lhe a cada período de cheia uma menina, lançada em suas águas turbulentas. Se a pobre menina desaparecesse nas águas era sinal que o rio estava satisfeito. O Nilo era sagrado, assim como o Ganges, aliás, este até os dias atuais.
Mas, a construção de cidades exigia madeira. E os humanos daquela época, sem a capacidade de entender as consequências, derrubavam as árvores das margens dos rios até a sua devastação completa. E os rios, sem a barreira natural das raízes profundas das árvores, alargaram-se e inundaram as cidades próximas às suas margens. A piorar, o sal pousado no fundo dos leitos, não mais contido pelas raízes, subiu e a água doce virou água salgada ou salobra. Alguns grãos que não suportam sal, como o trigo, não mais brotaram.
Com o avanço dos rios as cidades eram reconstruídas em locais mais distantes e mais altos. Arqueólogos descobriram nove reconstruções de cidades próximas ao rio Amarelo. E cada reconstrução, novas necessidades de madeira. Já então inexistentes nas margens dos rios, foram buscá-las em suas nascentes, algumas montanhosas e de florestas luxuriantes. Derrubadas, os rios diminuíram suas forças e volume de carga. Dezenas ou centenas de espécies animais foram extintas, reduzindo as possibilidades de caça. As cidades empobreceram e foram invadidas e dominadas por outros povos. As grandes e ricas civilizações de outrora foram dizimadas.
Pois bem, estamos comentando fatos históricos ocorridos por volta de 4.000 a 3.000 anos antes de Cristo. E o povo brasileiro ainda não aprendeu. O novo código florestal aí está. Em alguns casos, exigem-se APENAS cinco metros de flora nas margens dos rios. Parece piada, mas não é.
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