sábado, 7 de maio de 2011

Politicamente incorreto


Quem escreve deve tomar um grande cuidado com as palavras, isso não é novidade, todo mundo sabe. Mas, de um tempo para cá, palavras ou expressões antigamente escritas e aceitas, hoje são politicamente incorretas, podem provocar punições, cadeia e a execrável pessoa ser torturada para confessar odiosos e perversos pensamentos, escondidos nos sombrios recônditos do cérebro e muito bem camuflados nos seus atos e gestos externos. Devemos sempre suspeitar das santas aparências. Ainda mais daqueles descuidados, ao falar ou escrever insultuosas conotações.

Não podemos esquecer a última decisão da Justiça ao denegar o direito de habeas corpus ao macaquinho do zoo de Niterói. Uma injustiça da justiça. O macaquinho continuará confinado, sozinho, sem amigos e amigas para conversar e fazer suas macaquices. Não tenho dúvida de que, mais dia menos dia, o Supremo Tribunal Federal decidirá sobre os Direitos Inumanos dos Animais, dando aos bichos os mesmos direitos concedidos aos humanos, emanados na Constituição Federal. Surgirá até uma nova especialização de advogados, o “Jus Animalis”, e eu já estou pensando em ministrar cursos para bichos, a sala cheia de eqüinos, suínos, caninos, bovinos, felinos, todos ouvindo o animal aqui dando aula.

Mas, voltando ao assunto e dissipando os devaneios, descrevo abaixo algumas expressões atualmente proibidas, a colocar em risco os seus incautos aplicadores:
“Macacos me mordam” – de origem lusitana, atualmente proibida, pois ofende os símios, a considerá-los animais ferozes e mordedores. O sentido da expressão é de surpresa, de espanto, muito usada por Popeye que de tanto comer espinafre ficou maluco e foi internado numa jaula cheia de macacos.
“Você é um burro” – uma ofensa aos eqüinos, como se todos os burros fossem desprovidos de inteligência. Essa expressão pode ser usada ao contrário, quando queremos elogiar a pessoa: “você é um burro”, significando “você é muito inteligente”. Neste sentido, serve.
“Puta que pariu” – A palavra puta é complicada, tanto significa uma égua prenhe como uma deusa de mitologia romana, celebrada na época da poda das árvores. Dizem, aliás, que a palavra puta é originária de poda, de onde vem outra expressão, “é poda”, e todos os seus derivativos. De qualquer forma, evite o uso de tal vocábulo, a ofender as éguas e respectivos maridos, cavalos ou jumentos. Além de processá-lo, podem lhe dar uns coices no focinho.
“Sua bicha” – Expressão fortemente ofensiva. Você até pode usar a palavra “bicha” de outra forma, por exemplo, “esta é a sua bicha?”, referindo-se a uma fila de pessoas, pois bicha em Portugal significa fila. Mas, no Brasil, a interpretação é outra, podendo uma lombriga, ou outro tipo qualquer de bicha, processá-lo por danos morais.
“Você é viado” – expressão de ofensa gravíssima. Quando dirigida a um homem, ele nunca irá entender o significado real da palavra viado, correspondente a um tecido de lã com riscos. Isto é, se você estiver usando um casaco de lã com riscos e alguém dizer-lhe “você é viado”, poderia o cara estar se referindo ao seu casaco, mas, é claro, você irá interpretar de forma diferente, acusando-o imediatamente de adotar comportamento de homofobia. Por sinal, a palavra homofobia é um neologismo, pois fobia significa medo, pavor, mas passou a significar ódio, raiva. Não se aceita, também, você se justificar pelo erro de entendimento da palavra usada, alegando ter falado “veado” e não “viado”. Se você fizer isso, piorou a sua situação, passando agora a ofender os pacíficos ruminantes da família dos cervídeos. Esses animais podem processá-lo e, quem sabe, ordem de prisão inafiançável. E cuidado com o chifre do veado. Afiadíssimo. Se você estiver de costas, ele pode acertar onde você menos espera. Eu acho.
“Sua vaca!” – Meu Deus! Não fale ou escreva isso! A vacaria vem em cima de você, com um monte de advogados. Pode acreditar que, da mesma forma que temos hoje advogados de porta de xadrez, advogados de porta de hospital e assim por diante, vamos ter advogados de porteira de estrebaria, prontos para defenderem os direitos das vacas. E expressões similares devem também ser evitadas, como chamar alguém de piranha, víbora, asno, porca, anta e assim por diante, fazendo uma comparação indevida dos defeitos ou profissão de uma pessoa com animais que não tem nada a ver com isso. Recomendo ficar longe de um movimento classista das piranhas, pois são extremamente perigosas quando reunidas. Vem daí o ditado, “uma piranha só, não faz verão”.

Devemos, além de tudo, ter a máxima cautela no trato com os nossos bichinhos domésticos. Certas pessoas pensam que o seu cão é uma criancinha ainda bobinha no aprendizado da linguagem. “Neném tá com fominha?” “Neném quer passear?” “Filhinho quer fazer totô?”, fazendo imitação de criança ainda pequena. E o animal fica olhando a dona ou o dono e pensando: “Mas, que idiota!”. Não tarda para que esses bichos domésticos constituam advogados e processem os seus donos por ofensas morais, constrangimento e submissão psicológica.
Bem, são tantas as expressões politicamente incorretas, mas fico por aqui. Aliás, cuidado com este “por aqui” escrito ali em cima. Dependendo da forma de falar, pode ser ouvido como “porraqui”. Cacofonia imperdoável.

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