sábado, 29 de julho de 2017

Homo homini lupus

No tempo da juventude acadêmica aprendi essa expressão, qual um provérbio, mas não dei grande atenção em compreender o seu sentido. “O homem é o lobo do homem”, de autoria do dramaturgo romano Platus, mas celebrizada pelo filósofo inglês Thomas Hobbes em sua obra ‘Leviatã’, publicada em 1651.

O maior inimigo do homem é o próprio homem. Tenho atualmente duas concepções sobre o sentido da frase: outros seres humanos são os nossos maiores inimigos e, também, o próprio ser humano é o seu maior inimigo. Nós mesmos nos destruímos com os nossos próprios erros e desatinos, cometidos em algum tempo de nossas vidas, mas que podem nos marcar para sempre, a macular toda a nossa existência.

O ser humano tem o costume de relevar os próprios erros, de esquecê-los ou defendê-los como se corretos foram. Em vez de assumir o erro cometido, prefere justificá-lo. Vem daí a dificuldade que todos nós temos de reconhecer a verdade de uma acusação, tentar corrigir o mal realizado e pedir desculpas aos que sofreram com a maldade por nós cometida.

Veio daí a ardilosa invenção da Igreja do sacramento da confissão. Tão difícil é confessar seus pecados aos outros que se torna mais fácil confessá-los diretamente a Deus nas confabulações secretas do confessionário. Não será necessário fazer alarde dos males cometidos, mas, pelo menos, recebe o perdão de Deus, desde que pague a penitência, é claro. Se a penitência atual é resolvida com orações, houve tempo que se pagava com dinheiro e outros bens materiais, a enriquecer as instituições representantes do Pai Celestial.

E temos, atualmente, a prática da delação premiada. Tanto diferente da confissão, porque a delação incrimina outros seres humanos e tenta, ao máximo, preservar o próprio delator. Mais uma vez, o pecador se diz vítima das circunstâncias e dos ardis alheios. O corruptor passa a ser vítima do corrupto; o ladrão alega ter sido obrigado a roubar em vista do mecanismo do mercado, dos procedimentos viciados de uma licitação, da “ganância desenfreada” dos gestores públicos. E o corrupto se diz pressionado pelo seu partido político, pelas exigências dos partidários, pelos vultosos recursos requeridos em uma campanha política. O dinheiro extorquido nunca lhe foi destinado, sempre digerido por bocas alheias.
Por isso, algumas civilizações adotam um ato aparentemente singelo, mas de enorme repercussão moral: o pedido de desculpas, feito em público, em ato solene e de peito aberto. E depois de desculpar-se, ajoelha-se e comete o haraquiri, ato de enfiar uma faca na própria barriga. Suicídio honroso que podia ser aplicado aqui no Brasil. No Maracanã, por exemplo, com bilheteria paga e televisão ao vivo.  

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