No tempo da juventude acadêmica
aprendi essa expressão, qual um provérbio, mas não dei grande atenção em
compreender o seu sentido. “O homem é o lobo do homem”, de autoria do
dramaturgo romano Platus, mas celebrizada pelo filósofo inglês Thomas Hobbes em
sua obra ‘Leviatã’, publicada em 1651.
O maior inimigo do homem é o
próprio homem. Tenho atualmente duas concepções sobre o sentido da frase:
outros seres humanos são os nossos maiores inimigos e, também, o próprio ser
humano é o seu maior inimigo. Nós mesmos nos destruímos com os nossos próprios
erros e desatinos, cometidos em algum tempo de nossas vidas, mas que podem nos
marcar para sempre, a macular toda a nossa existência.
O ser humano tem o costume de relevar
os próprios erros, de esquecê-los ou defendê-los como se corretos foram. Em vez
de assumir o erro cometido, prefere justificá-lo. Vem daí a dificuldade que
todos nós temos de reconhecer a verdade de uma acusação, tentar corrigir o mal
realizado e pedir desculpas aos que sofreram com a maldade por nós cometida.
Veio daí a ardilosa invenção da
Igreja do sacramento da confissão. Tão difícil é confessar seus pecados aos
outros que se torna mais fácil confessá-los diretamente a Deus nas confabulações
secretas do confessionário. Não será necessário fazer alarde dos males
cometidos, mas, pelo menos, recebe o perdão de Deus, desde que pague a
penitência, é claro. Se a penitência atual é resolvida com orações, houve tempo
que se pagava com dinheiro e outros bens materiais, a enriquecer as
instituições representantes do Pai Celestial.
E temos, atualmente, a prática da
delação premiada. Tanto diferente da confissão, porque a delação incrimina
outros seres humanos e tenta, ao máximo, preservar o próprio delator. Mais uma
vez, o pecador se diz vítima das circunstâncias e dos ardis alheios. O
corruptor passa a ser vítima do corrupto; o ladrão alega ter sido obrigado a
roubar em vista do mecanismo do mercado, dos procedimentos viciados de uma
licitação, da “ganância desenfreada” dos gestores públicos. E o corrupto se diz
pressionado pelo seu partido político, pelas exigências dos partidários, pelos
vultosos recursos requeridos em uma campanha política. O dinheiro extorquido
nunca lhe foi destinado, sempre digerido por bocas alheias.
Por isso, algumas civilizações
adotam um ato aparentemente singelo, mas de enorme repercussão moral: o pedido
de desculpas, feito em público, em ato solene e de peito aberto. E depois de
desculpar-se, ajoelha-se e comete o haraquiri, ato de enfiar uma faca na
própria barriga. Suicídio honroso que podia ser aplicado aqui no Brasil. No
Maracanã, por exemplo, com bilheteria paga e televisão ao vivo.
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