Isso ocorreu
há muito tempo. Estávamos jantando num restaurante de Niterói, eu e ele, ambos
divorciados e novamente solteiros. Conversa vai, conversa vem, veio o assunto dos
motivos de separação de casais, e foi aí que ele me contou a seguinte história
da sua vida.
Ainda jovem,
foi aprovado num concurso do Ministério Público do Estado de São Paulo, e foi
trabalhar numa cidade do interior daquele Estado. Lá conheceu uma jovem, filha
única, enamorou-se e casaram-se. Dois anos depois, passou num concurso para
Juiz de Direito do Estado do Rio de Janeiro, e retornou para Niterói com a sua mulher.
Algum tempo
depois, receberam a triste notícia da morte da mãe da esposa. Viajaram às
pressas para a cidade paulista onde vivia a sogra. A esposa, muito triste,
pediu a ele que levasse o corpo da senhora para ser enterrado em Niterói. Ela
queria ficar perto do túmulo de sua querida mãezinha.
Ele não sabia
como resolver alguns entraves burocráticos, rigorosos naquela época,
principalmente no Estado de São Paulo, mas, quando chegasse ao Rio de Janeiro,
tudo se resolveria com algumas carteiradas de juiz.
Um parente da
esposa propôs, então, levar o corpo até Niterói, na sua Kombi. Bastaria tirar
os bancos traseiros. Assim combinaram, e ele mais o parente saíram na calada da
noite da cidade interiorana, com o defunto coberto com um tapete e deitado na
parte detrás do carro.
Já estava na
Via Dutra quando o velho veículo enguiçou. Eram três horas da madrugada. A
estrada deserta. Lá ao longe, na pista contrária, perceberam algumas luzes de
um provável posto de combustível. Caminharam até o posto para pedir ajuda. O
frentista explicou que naquela hora não seria possível conseguir um mecânico.
Tiveram que aguardar até o amanhecer. E ali ficaram, desanimados de retornarem
ao carro e depois serem obrigados a voltarem ao posto.
Chegou o
mecânico e os três foram até onde haviam deixado a Kombi. E nada encontraram!
A Kombi desaparecera!
O carro e tudo que estava dentro dele, inclusive o corpo da velha. A conclusão:
roubaram o veículo e quem o roubou nem percebeu a existência de um corpo no seu
interior. Nunca mais souberam do paradeiro, tanto do veículo, quanto do
defunto.
A esposa jogou
toda a culpa nele. A dizer que foi de propósito, que ele não gostava da sogra, aquelas
coisas. O casamento desandou e acabou. Eu nunca ouvira motivo tão estranho de
uma separação.
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