Aqui onde moro, não importa em
que bairro, cidade, país, existe uma plantinha singela que, de tão simples, se
rejeita sua presença nos jardins harmoniosos das casas e mansões.
Sem direito
ao abrigo protetor das terras enriquecidas, da rega diária, do ganho de
nutrientes e fertilizantes, a plantinha vive nas ruas e consegue sobreviver aos
mais árduos ambientes. Floresce nos cantos do meio-fio, nas junções das pedras
da calçada, nas rachaduras do asfalto, nas fétidas sarjetas.
Pois mesmo assim, a lutar contra
as agruras impostas pela vida e a enfrentar tamanhas dificuldades, a plantinha,
todas as manhãs, abre suas flores dadivosas, e o seu sorriso tímido, mas
carinhoso, e consegue disfarçar a feiura das ruas.
Não sabendo o nome da plantinha,
e talvez nem nome tenha, como se fosse mais um pobre anônimo das ruas, dei-lhe
em batismo informal o apelido de “Bom dia”, porque a plantinha, modesta e acanhada,
sempre me acolhe nas caminhadas matinais com a sua radiante saudação: “Bom
dia!”.
Parece não se importar com o
local insalubre onde vive, com os percalços de viver nas ruas, a sofrer o
pisoteio desses humanos poderosos, de ser obrigada a tirar migalhas de alimento
do chão petrificado, dos riscos de quem vive ao desabrigo, a plantinha “Bom dia”
insiste em abrir suas flores ao sol e alegrar a minha passagem.
Mas, até lá onde procura sobreviver,
se local mais adequado não a permitem, a plantinha é perseguida e objeto de
destruição. Os garis, autoridades máximas em limpeza das áreas públicas, as dizimam,
ceifando-as com suas enxadas e máquinas cortadoras. E mesmo assim, “Bom dia”
volta teimosamente a nascer e abrir suas flores, apesar das crueldades que a
vida lhe aflige. Resiste aos circunspectos jardineiros e autoritários garis,
excluída que é das zelosas floriculturas da elite.
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