Estava a
circular no bazar da capital, quando me deparei com Ascarroto, o Falsário, que,
a dedilhar nas algibeiras, saudava os diletos comparsas congressionais. Ao seu
lado, Cuspido, o Ladrão, praticava seus costumeiros hábitos de furtar
bugigangas das barracas do povo. Fiz a saudação tradicional:
- Oh! Que
saltem meus olhos ao vislumbrar tão madraça pessoa!
Ele abriu um
largo sorriso e os dentes de ouro faiscaram.
- Pelas barbas
de Netuno! Eis que encontro Tawille, Al Katib! Continuas a escrever leis
espúrias e desavergonhadas?
Abraçamo-nos
fraternalmente, enquanto Cuspido, o Ladrão, tentava surrupiar minha carteira.
- Felizmente,
meu caro Ascarroto, o Falsário, trabalho não me falta! Ainda mais em tempos tão
turbulentos! Fui agora contratado pelo congressional Babão, o Contrabandista,
para escrever uma lei que acaba com a autonomia dos Justiceiros da Justiça!
- Excelente
iniciativa do nosso Babão, o Contrabandista. Espero que não o roube em
demasia...
- Não! Desta
vez cobrei por página e não por letra...
- Fez bem, meu
caro Tawille, Al Katib. Sejamos caridosos com os pares da nossa confraria! E ele
deve muito dinheiro ao nosso querido Melekal, o Estelionatário, líder da
bancada.
- Mas ele me
disse que se a lei for aprovada ganhará uma fortuna do nosso valoroso confrade,
o congressional Ensaboado, o Caixa 2!
- Ótimo!
Assim, não terei necessidade de falsificar alguns dólares para ajudá-lo a pagar
a dívida.
Surge, então,
a figura viscosa do congressional Salivares, o Gatuno. Ascarroto, o Falsário,
recebe-o com efusivo abraço.
- Energúmena
pessoa! Que prazer miserável em ver tão desqualificado congressional!
Salivares, o
Gatuno, todo sorridente, retribui o abraço.
- Meu facínora
preferido! Salteador incansável! Dê-me a honra do seu abraço!
Eu ia
escapando, mas Salivares, o Gatuno, me interceptou.
- Meu nobre
cafajeste Tawille, Al Katib! Preciso dos seus serviços: um relatório da minha inocência
no caso da operação Lavare. Escreva que eu estava na época fazendo meditação
num templo budista do Nepal.
- Vou precisar
de documentos de viagem.
- Eu os
falsificarei, disse Acarroto, o Falsário.
- Os
comprovantes de sua presença aqui na época da operação terão de desaparecer.
- Eu os
roubarei e destruirei, disse Salivares, o Gatuno.
- Com a minha
ajuda, explicou Cuspido, o Ladrão.
- E se
descobrirem que o meu relatório é falso?
- Difícil
acontecer, mas, qualquer problema, Melekal, o Estelionatário, resolve.
- E quem vai
me pagar?
- Ensaboado, o
Caixa 2, pagará em espécie.
E assim, o
grupo de malfeitores, todos felizes, mas desconfiados, foi a passeio no bazar sempre
agitado de bons negócios. “Terei de adiar minha próxima viagem à Europa”,
pensei.