Foi Leilane que me colocou nesse
tal de feicebuque e com a maior desfaçatez andou compartilhando as baboseiras
do meu blogue, sem me avisar. Acabei sendo envolvido e, confesso, estou até
gostando, pois passei a ter notícias de amigos distantes. Aprendi até a digitar
kkkkk, responder ok e colocar bonequinhos. Enfim, estou aprendendo a redação
internética. A piorar, ganhei de natal um celular novo, um tal de aiphode (ou
será aipode?), que contém a ferramenta zapzap. O meu amigo Marcelito, com toda
a sua paciência (Marcelito é uma das poucas pessoas que não se irrita com a
ignorância dos velhos), ensinou-me os rudimentos do tal zapzap. Já consigo
responder kkkk, ok, grato, abs, sds. Alguns erros ainda são cometidos: minha
filha Daniela me mandou zapzap e respondi para o meu filho, Robertinho. Ainda
bem que a resposta foi somente bjs. E bjs serve para os dois.
No dia 31, observei extasiado o
Guilherme de três anos, neto da Elimar, sentadinho na cadeira e jogando no
celular (acho que era um aiphode). Que agilidade! Com os dedinhos das duas mãos
ia trabalhando no aparelho em rapidez alucinante! Puxa! Há setenta anos os meus
dedinhos só serviam para tirar meleca.
Eu sei que sou um velho ranzinza,
um casmurro, mas procuro entender a modernidade (embora não possa aceitar a
maluquice daquele Galileu em dizer que a Terra é redonda. Se fosse redonda todo
mundo cairia de ponta cabeça, que sujeito burro!). Com exceção da Alice
(verdadeiro fenômeno) os meus netos não são chegados à leitura de livros
impressos. Preferem aiphode, tablete (aquele filmezinho das galinhas enche o
saco, mas os miudinhos adoram!) e outros aparelhos modernistas. E o tal do
selfe!! Arre! Vivem tirando fotos deles próprios. E quando não gostam do
resultado, deletam e tiram outras. Mas não se trata de uma epidemia de
narcisismo a grassar no país, como dengue, chikungunya, dona zika e outros males. É uma mania, apenas. O uso do
espelho já era! Já penteiam os cabelos mirando-se no celular!
Fico observando. Aquele grupo de crianças (e adultos também), cada qual
no seu aparelho. O que deveria ser uma reunião familiar, para colocar a
conversa em dia, transformou-se em silêncio sepulcral. Cada qual no seu canto,
a trocar suas mensagens secretas. As reuniões são agora momentos de mutismo grupal. E quando me lembro das reuniões antigas, aquele vozerio, gritaria,
crianças correndo, pulando, caindo, aquela anarquia generalizada, que dizíamos
festa ou reunião, eu confesso que estou até gostando, desse ‘silêncio vivo da
percepção’, o ‘silêncio fecundo da consciência’, como disse o genial Paul
Goodman.
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