quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Nelsinho ou Joaquinzão


Economista escreve mais complicado do que advogado, o qual, por sua vez, escreve mais complicado do que médico. Os advogados estão melhorando, eliminando os jargões e reduzindo o uso de expressões latinas. Os médicos, já faz tempo, têm procurado transmitir suas ideias de forma mais compreensível por nós, o povão. Mas, os economistas... Não é fácil entendê-los.

Pois bem. O decano da economia, professor Delfim Netto, escreveu o seu primeiro artigo de 2016 no jornal Valor, tecendo comentários, vamos dizer, interessantes, conforme a limitada medida de entendimento deste aqui, um absoluto ignorante na ciência da economia.

O mestre compara Joaquim Levy e Nelson Barbosa. Diz que Levy é fruto do neoliberalismo da Universidade de Chicago, enquanto Barbosa é discípulo da escola heterodoxa ministrada na New School University de New York. Vem daí o preconceito de muitos economistas, a considerar Barbosa uma semente de estranha mistura de ideologias. Delfim diz que isso é uma grande bobagem, se a política econômica segue o regime adotado no País, o capitalismo democrático no nosso caso, a não ser se houvesse uma revolução e os governantes pudessem instaurar a política que bem entendessem. Diz isso em razão de a tal escola heterodoxa ser uma mistura de conceitos (Kalecki, Keynes, Marx e outros pensadores do economês).

A propósito, quando fiz Direito tive professores comunistas, liberalistas, radicais de direita e os ‘laissez-fair’ à lá Adam Smith. E também aqueles que aparentavam não seguir nada. Esses últimos eram os meus preferidos: apenas davam aulas e deixavam sob-reserva as suas convicções, se por acaso as tivessem.

Voltando ao assunto, Delfim Netto passa a comentar assuntos para mim utópicos, como é o caso do ‘Pleno Emprego’. Faltando emprego nas atividades privadas, que o governo empregue o resto! Diz o colunista que, segundo Kalecki, o pleno emprego destrói a arma (ele diz “o instrumento”) que disciplina o trabalhador: o desemprego. Em outras palavras, se não houver o risco do desemprego, como controlar os trabalhadores? Isso me cheira a um capitalismo/fascista, mas quem sou eu a dar palpite?

No meu primeiro emprego, no governo do Estado da Guanabara, ouvi o diretor Matoso Maia dizer o seguinte: “Se a iniciativa privada não contrata alguém por se tratar de um idiota, o Estado tem que contratá-lo. Assim, por favor, não exijam muito do servidor público!”. Caramba! Seria o mesmo em dizer que o governo contrata o restolho, o que for dispensável pela iniciativa privada. E esse era o conceito firmado no passado: serviço público era para incompetentes! Falem o que quiser, mas se o PT fez algo bom em sua gestão foi, exatamente, valorizar o servidor público! E não me venham com preconceitos! Ok! Tudo bem! Concordo que nem tudo são flores, que não podemos caracterizar pessoas pelo partido que apoia, mas, na maioria, os petistas procuraram dar mérito e apoiar os servidores públicos.

Na minha ignorância profunda em assunto economia, sempre considerei o Joaquim Levy o mais visceral inimigo do gasto público, e se dependesse dele acabaria com todos os programas de apoio social, como Bolsa Família, Pronatec, Minha Casa Minha Vida e tudo o que o valha. E que se dane a pobreza!

Já o Nelson Barbosa, ele tem assim uma carinha mais humana, talvez a entender melhor que a pobreza é responsabilidade do Estado, que ninguém pediu para nascer num país que não lhe ofereça condições razoáveis de vida, que o direito de ser feliz é de todos e não de uma minoria egoísta. Podem me xingar, sou muito mais Nelsinho do que Joaquinzão. Mas, é lógico, baseado na minha estreita visão da macroeconomia, pois nem sei distinguir Kalecki de Keynes. Aliás, eu pensava que Kalecki era nome de pasta de dentes. Devo estar confundindo as coisas. 

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