Reorganizada a
rotina (graças a Deus!), depois da bagunça das festas de fim de ano (o pessoal
que esteve lá em casa esvaziou uma caixa de Spézia! Uma turma de alcoólatras
desavergonhados! Não me deixaram uma para o enterro dos ossos!), fui à padaria
comprar o pão de cada dia e encontrei os comunitários reunidos na frente da
banca de jornais do Daniel. Dona Zica das Tainhas chorava com as mãos nos
olhos.
“Bom dia, o
que aconteceu, Dona Zica?”, fui logo perguntando.
Dona BPereira
segurava um filho novo no colo e com o outro braço abraçava Dona Zica.
“Sabe, doutor?
O banco não pagou a pensão dela, cambada de desgraçados!”.
Eu não sabia
que Dona Zica recebia pensão além da Bolsa Família.
“Quem paga a
pensão?”, perguntei.
“O marido dela
era funcionário do Estado. Trabalhava num hospital”, explicou Daniel.
“Cambada de
ladrões!”, gritou Chinelinho.
“Esses
banqueiros dominaram o Brasil!”, disse furioso Henheco, o eletricista
comunista.
Tentei
consertar:
“O governo do
Estado atrasou os pagamentos. Minha mulher também não recebeu a sua aposentadoria”.
Índio das
Verduras tentou fazer negócio no meio da confusão:
“Doutor, tenho
aí uma rúcula fresquinha, vai querer?”
Pezinho,
sentado no banquinho, interveio:
“O Brasil está
quebrado! A China já levou a metade do Corinthians! Só falta o Coringão ir
disputar o campeonato de lá!”. Pezinho só pensa em futebol.
Dona Zica,
entre choramingos:
“Ainda bem que
a dona Dilma pagou a Bolsa Família. Se não fosse isso eu não tinha nada”.
Dona BPereira
deu uma risada:
“Que é isso,
Zica? Está escondendo o jogo? Você vendeu tainha pra cacete nesses feriados!”.
Dona Zica
retrucou:
“Gastei tudo
com os meus filhos. Eles fizeram um pagode e precisavam de dinheiro”.
Dona BPereira
não perdoou:
“Ah, seus
filhos! Um bando de vagabundos! Maconheiros que vivem à sua custa!”.
Dona BPereira
foi muito dura. Dona Zica redobrou o choro.
Daniel tentou
mudar o assunto:
“Doutor, o
governo pode deixar de pagar pensão?”.
“Bem, não
deveria. Pensão é direito do pensionista, mas eu li que o Estado vai pagar no
dia 10”.
Dona Zica
arregalou os olhos:
“É verdade,
doutor?”.
E dona
BPereira falou na frente:
“E se sair a
grana não vai contar pros seus filhos, aqueles sanguessugas miserentos!”.
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