Desembarquei no Aeroporto Santos Dumont no Rio
de Janeiro, saí do prédio, atravessei a rua e fui fumar em lugar aparentemente
permitido. Peguei o maço de cigarros da minha pasta e tirei o fiapinho de
plástico que circunda o maço, o selo e um papelzinho prateado que protege a
parte superior dos cigarros. Juntei tudo na mão e fui até uma lixeira presa num
poste e joguei as coisas lá dentro. Mas, o fiapinho de plástico escapuliu ao
vento e voou para destino incerto e ignorado.
Surgiu, então, à minha frente, uma senhora a
vestir um colete com os dizeres: “Fiscal da Conlurb”. Conlurb é a empresa de
limpeza urbana do Município do Rio de Janeiro. Ela aproximou-se agressiva: “O
senhor jogou lixo no chão!”. “Em absoluto!”, respondi, “Joguei na cesta de
lixo!”. Ela deu um risinho de desdém. “O senhor foi jogar na lixeira porque viu
que eu estava te vigiando!”.
O quê? Aquela terrível verdade caiu sobre mim.
Eu era alvo de uma vigilância! Eu estava na mira das forças policiais, fiscais
e ambientais! Por certo, uma operação lavajatista estava em curso, toda
direcionada à minha triste pessoa! Sem dúvida, uma operação por enquanto
sigilosa e autorizada pelo juiz Moro. Foi neste momento que observei um carrão
preto da Polícia Federal estacionado na frente do aeroporto. Com aquelas
janelas de vidro preto indevassável, diversos policiais deviam estar no interior do carro, a filmar e gravar tudo! Eu estava frito!
Tentei a alternativa da delação premiada. “Minha senhora, juro que não
tinha visto a senhora e se o fiapinho de plástico caiu no chão, vou apanhá-lo e
recolher ao lugar certo”. Ela apiedou-se. “Então faça! Eu vou ajudá-lo”. E lá
fomos nós à cata do fiapinho, eu a empurrar a mala de rodinhas e ela, curvada,
a examinar o chão.
A calçada estava repleta de sujeira: saquinhos
de papel, bingas de cigarro, latas de cerveja e de refrigerantes, algumas
coisas nojentas, outras menos nojentas, mas não encontramos o bendito fiapinho
de plástico.
Depois de um tempo, ela desistiu. “Olha, não
tem jeito. Vou ter de multar o senhor”. “E qual é a multa?”, perguntei. “Resíduos
sólidos jogados no chão a multa é de 50 reais”. Fiquei na dúvida. “Fiapinho de
plástico é considerado resíduo sólido?”. Ela balançou os braços. “Ora, tanto
faz se sólido ou semissólido a multa é a mesma.” Ironizei: “Então, se eu
jogasse um sofá na calçada, pagaria a mesma multa?”. Ela irritou-se: “Não
senhor! A multa aumenta de acordo com o tamanho do lixo!”. “E como se mede o
lixo?”, perguntei. A Fiscal sabia das coisas: “É por metro cúbico!”.
Bem, eu não tinha a menor ideia de quantos
metros cúbicos media o fiapinho. Resolvi pagar. Não queria aumentar a confusão,
ainda mais com aquele sinistro carrão preto da Polícia Federal a me observar.
Quando fui pegar a carteira no bolso do paletó, surpresa! O fiapinho de
plástico ficara colado no meu braço! “Olha a fiapinho aqui!”, gritei para a
Fiscala. Ela, que já estava puxando uma maquineta para emitir a multa, ficou
desalentada. “Puxa, o senhor é mesmo um homem de sorte”.
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