domingo, 15 de novembro de 2015

A guerra do lixo


Desembarquei no Aeroporto Santos Dumont no Rio de Janeiro, saí do prédio, atravessei a rua e fui fumar em lugar aparentemente permitido. Peguei o maço de cigarros da minha pasta e tirei o fiapinho de plástico que circunda o maço, o selo e um papelzinho prateado que protege a parte superior dos cigarros. Juntei tudo na mão e fui até uma lixeira presa num poste e joguei as coisas lá dentro. Mas, o fiapinho de plástico escapuliu ao vento e voou para destino incerto e ignorado.

Surgiu, então, à minha frente, uma senhora a vestir um colete com os dizeres: “Fiscal da Conlurb”. Conlurb é a empresa de limpeza urbana do Município do Rio de Janeiro. Ela aproximou-se agressiva: “O senhor jogou lixo no chão!”. “Em absoluto!”, respondi, “Joguei na cesta de lixo!”. Ela deu um risinho de desdém. “O senhor foi jogar na lixeira porque viu que eu estava te vigiando!”.

O quê? Aquela terrível verdade caiu sobre mim. Eu era alvo de uma vigilância! Eu estava na mira das forças policiais, fiscais e ambientais! Por certo, uma operação lavajatista estava em curso, toda direcionada à minha triste pessoa! Sem dúvida, uma operação por enquanto sigilosa e autorizada pelo juiz Moro. Foi neste momento que observei um carrão preto da Polícia Federal estacionado na frente do aeroporto. Com aquelas janelas de vidro preto indevassável, diversos policiais deviam estar no interior do carro, a filmar e gravar tudo! Eu estava frito!

Tentei a alternativa da delação premiada. “Minha senhora, juro que não tinha visto a senhora e se o fiapinho de plástico caiu no chão, vou apanhá-lo e recolher ao lugar certo”. Ela apiedou-se. “Então faça! Eu vou ajudá-lo”. E lá fomos nós à cata do fiapinho, eu a empurrar a mala de rodinhas e ela, curvada, a examinar o chão.

A calçada estava repleta de sujeira: saquinhos de papel, bingas de cigarro, latas de cerveja e de refrigerantes, algumas coisas nojentas, outras menos nojentas, mas não encontramos o bendito fiapinho de plástico.

Depois de um tempo, ela desistiu. “Olha, não tem jeito. Vou ter de multar o senhor”. “E qual é a multa?”, perguntei. “Resíduos sólidos jogados no chão a multa é de 50 reais”. Fiquei na dúvida. “Fiapinho de plástico é considerado resíduo sólido?”. Ela balançou os braços. “Ora, tanto faz se sólido ou semissólido a multa é a mesma.” Ironizei: “Então, se eu jogasse um sofá na calçada, pagaria a mesma multa?”. Ela irritou-se: “Não senhor! A multa aumenta de acordo com o tamanho do lixo!”. “E como se mede o lixo?”, perguntei. A Fiscal sabia das coisas: “É por metro cúbico!”.

Bem, eu não tinha a menor ideia de quantos metros cúbicos media o fiapinho. Resolvi pagar. Não queria aumentar a confusão, ainda mais com aquele sinistro carrão preto da Polícia Federal a me observar. Quando fui pegar a carteira no bolso do paletó, surpresa! O fiapinho de plástico ficara colado no meu braço! “Olha a fiapinho aqui!”, gritei para a Fiscala. Ela, que já estava puxando uma maquineta para emitir a multa, ficou desalentada. “Puxa, o senhor é mesmo um homem de sorte”.

Com o máximo de cuidado, depositei o fiapinho na lixeira. “Estou liberado?”, perguntei. Ela foi se afastando. “Está! Mas da próxima vez não serei boazinha não!”. Pensei naquela piadinha do Hitler, mas essa já era uma outra guerra. 

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