sábado, 31 de outubro de 2015

O último servidor público

Logarino chega afobado na repartição, já soltando a mochila dos ombros. “O chefe já chegou?”, pergunta ao Ezequiel que lia o jornal quase deitado na cadeira e com os pés em cima da mesa. “Que pergunta! Você sabe que o chefe é sempre o primeiro a chegar”. E abaixa o jornal para dar uma olhada no colega e dizer: “E ele já perguntou por você”. “Que droga”, desabafa Logarino ao largar sua mochila na mesa e se dirigir à sala do chefe.

Lá estava o chefe, com a mesa abarrotada de processos. Logarino deu uma batidinha na porta entreaberta e entrou. “Desculpe pelo atraso, chefe, mas o trânsito está caótico, uma confusão danada”. O chefe, que despachava um processo, levanta os olhos e dá uma risadinha. “Eu sei, eu sei, eu só queria falar com você da sua promoção”. Logarino se surpreendeu: “Promoção? Eu fui promovido?”. O chefe joga a caneta esferográfica na mesa. “O Tertuliano abandonou o barco; sumiu, escafedeu-se! Você vai ficar no lugar dele!”. Logarino deu um suspiro. “Tertuliano também? Está todo mundo indo embora”. O chefe levantou-se e esticou as costas espreguiçando-se. “Pois é, essa conversa de que o mundo vai acabar está mexendo com os nervos de todo mundo”. Logarino senta numa das cadeiras sujas e corroídas pelo tempo de uso. “E não poderia ser de outra forma, todos sabendo do fim próximo”. O chefe dá um grito. “Próximo? Ainda falta um ano para que este maldito raio solar nos atinja!”. Logarino nega com a cabeça. “Um ano não! Onze meses e vinte dias, e contando”. O chefe levanta os braços. “Ora, a mesma coisa! Ainda falta muito tempo e os idiotas estão fugindo ou se matando. Você sabia que a imbecil da minha mulher me deixou e foi para a casa da mãe, lá em Anapolina?”. Logarino fica constrangido. “Puxa, chefe, lamento muito, eu não sabia”. O chefe volta a se sentar. “Pois é, a burra pensa que a tragédia não vai atingir Anapolina”.

Logarino volta ao salão e Ezequiel continua lendo o jornal e fumando descaradamente em plena repartição. “Ezequiel, você sabe que é proibido fumar em recinto fechado”. Ezequiel dá uma gargalhada. “Cara, você é o único que ainda se importa com o cumprimento das leis”. E dobra a página do jornal resmungando. “Que se danem as leis! Está tudo acabado mesmo”.

Logarino senta na sua cadeira e pega um processo. “O chefe mandou continuar as fiscalizações”. Ezequiel joga o jornal no chão. “O quê? Continuar as fiscalizações? Pra quê? Ninguém paga mais nada! Em que mundo ele está vivendo?”. Logarino continua lendo um processo. “Ele disse que ainda temos muito tempo antes de o mundo acabar”. Ezequiel levanta e se aproxima da mesa do outro. “Cara, nós não temos um ano de vida e ele insiste em continuar trabalhando?”. Logarino empurrou o processo de lado. “Entendo o que você diz, mas o chefe acha que tanto faz viver mais um ano ou viver mais cinquenta, no fim é tudo a mesma coisa”. Ezequiel contesta: “Não é a mesma coisa não! Quando temos uma data marcada para morrer é bem diferente”.

O chefe entra no salão dos fiscais. O salão tem vinte mesas, mas, agora, só duas são ocupadas, por Ezequiel e Logarino. Os outros fiscais abandonaram o trabalho, por fuga ou suicídio. O chefe entra esfregando as mãos. “Vamos lá gente, temos muito trabalho para fazer. Ezequiel, quero que você vá até a empresa Monstro da Informática e a intime para entregar a documentação. E você, Logarino, autue aquela escola de ricos, a Bronx School, que ainda não pagou o IPTU”. Ezequiel olha para o chefe como estivesse olhando um extraterrestre. “Chefe, a Monstro Informática já fechou as portas, os funcionários foram mandados embora, o presidente pulou do sexto andar do prédio”. O chefe não se dá por vencido. “Então, despache no processo, arbitra o imposto e manda pra Procuradoria executar o débito”. Ezequiel dá um sorriso de desdém. “Procuradoria? Não tem mais ninguém lá, chefe. O Procurador-Geral vestiu-se de mulher e foi fazer trottoir na Cinelândia. Ele disse que finalmente teve coragem de sair do armário”. Logarino aproveitou a deixa. “Chefe, com todo o respeito, ninguém paga mais nada, é a crise da véspera do fim do mundo. Nada funciona mais, os serviços públicos foram extintos, os vândalos estão quebrando tudo nas ruas, as igrejas estão repletas...”. O chefe, impaciente, interrompe. “Logarino! Nós somos servidores públicos! Temos um trabalho a fazer! Enquanto a merda deste mundo não acabar, vamos continuar o nosso trabalho!”. E abrindo um largo sorriso gritou para os dois. “E vamos em frente que atrás vem gente!”.

Mesmo sabendo que atrás não vinha ninguém, eles foram trabalhar.


Nota: Essa historieta é a minha singela homenagem ao premiado escritor americano Ben H. Winters, autor de “O último policial”, um conto futurista que narra as aventuras de um policial nas vésperas de um irreversível cataclismo. 

sábado, 24 de outubro de 2015

O bajulador

Tricarico Pé-de-Boi, o Manda-Chuva do agreste, dono de papel passado das terras da região, conquistadas a tiros e mortandade, dono do cartório da cidade e manejador do poder público, homem que não tolera mercê e suplicância, vivia afastado de todos na sua mansão, verdadeiro castelo, que o rodeava.
 
Ninguém ousava aproximar-se, nem o padre a procura de donativos, nem o prefeito na busca de bons conselhos. O único permitido a entrar no território restrito de sua casa, era o rábula Fiorofino Broxa, o tratador de suas contas e das anotações contábeis, sendo, por isso, personagem da mais alta recomendação social, bajulado na elite e respeitado na plebe.

O Doutor Broxa, como gostava de ser intitulado, era quem personificava o lendário Tricarico Pé-de-Boi, lendário por não ser visto e examinado, presenciado e apalpado, mas se sabia existente por seus domínios, por seu poder, pela majestosa visão do seu castelo.

Todos queriam puxar conversa com o Doutor Broxa, para saber o que pensava Tricarico Pé-de-Boi sobre os diversos acontecimentos, mesmo prosaicos, filosóficos ou simples observações ocasionais, se o mercado do boi ia melhorar, se ia chover no inverno, como se cura rouquidão, se valia a pena estocar feijão. E o pomposo Doutor Broxa deitava falação, de queixo erguido e peito estufado: “O meu amigo Tricarico Pé-de-Boi não acredita que o mercado da carne vai melhorar”. “O meu amigo Tricarico Pé-de-Boi tem certeza que vai chover no inverno”.

Certo dia, chegou na cidade um jornalista da capital para fazer uma reportagem sobre a região e ao ouvir falar de Tricarico Pé-de-Boi desejou entrevistá-lo. Logo o encaminharam ao Doutor Broxa, que tentou de todas as maneiras convencer o jornalista a desistir da empreitada. Mas, o jornalista da capital era homem persistente e jogou todas as fichas de sua importância ao colo do coitado Dr. Broxa, que, sem outra alternativa, foi conversar a respeito com o seu poderoso patrão.

Ao entrar no castelo, em meio a um silêncio absoluto, era tanta a sua timidez que foi quase murmurando a chamar o dono do castelo, e cada vez mais a ingressar nos recônditos da mansão, até encontrar Tricarico Pé-de-Boi deitado na cama do seu quarto, debaixo da esposa do Doutor Broxa, os dois a exercitarem entusiasmada felação.

Aturdido com o que vira, o Doutor Broxa recuou seus passos, afastou-se do quarto e retornou ao lado de fora da mansão, onde o jornalista o interpelou: “E então, Doutor Broxa, o tal Tricarico Pé-de-Boi vai me atender?”.


O Doutor Broxa logo se recompõe, empina o queixo e responde solene: “Infelizmente, será impossível!”. O jornalista irritou-se: “Ora, por que ele não me atende?”. O Doutor Broxa esboçou um sorriso cúmplice: “Sabe por quê? O meu amigo Tricarico Pé-de-Boi está agora num encontro íntimo com uma das senhoras mais requintadas da nossa sociedade, ou melhor, a mais requintada da nossa sociedade, mas não me pergunte quem é, jamais contarei”. 

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Um novo regime político

Passeata a favor da ditadura

Eu estava na varanda lendo o jornal da manhã, acompanhado por atrevidos pardais que, em cima da mesa, beliscavam farelos de pão do meu prato, sem nenhum temor a minha presença, mais uma prova da visível queda de poder do ser humano, quando me veio a luz. Não é que faltava energia, mas a luz no meu cérebro que anda, ultimamente, em constante apagão.

A ideia brilhante foi a seguinte: diante de tamanha discórdia entre os poderes executivo e legislativo, a piorar com as irônicas alfinetadas do judiciário, cheguei à conclusão que o regime político brasileiro deve sofrer profundas mudanças. Devemos acabar com o regime atual e instituir a Ditadura Democrática. O Brasil, em vez de “república federativa” passaria a ser “ditadura federativa”. Seria assim:

A) O poder político seria conduzido por um Ditador, eleito a cada cinco anos pelo voto popular. O voto teria de ser no papelzinho, sendo vedado o voto eletrônico (até hoje não me convenci da seriedade desse voto eletrônico). A reeleição seria proibida.

B) Não haveria poder legislativo. O lema seria: “Todo poder emana do Presidente, pelo povo e para o povo”. A depender do sexo do Presidente, o lema poderia ser: “Todo poder emana da Presidenta, pelo povo e para o povo”.

C) Ministros do Judiciário seriam nomeados por concurso público. Somente poderiam concorrer advogados com militância comprovada de mais de dez anos, juízes e procuradores, ambos com mais de cinco anos de função.

D) Os partidos políticos atuais seriam desmantelados. Os novos partidos seriam:
- PMDB do Ultra (Partido do Movimento Democrático Brasileiro Ultra Conservador);
- PMDB-CF (Partido do Movimento Democrático Brasileiro da Conversa Fiada);
- PMRD (Partido do Militarismo Radical de Direita);
- PCS (Partido Comunista Stalinista);
- PNF (Partido Nazista Fascista);
- PSM (Partido dos Saudosos Melancólicos);
- PTA (Partido dos Trabalhadores Arrependidos);
- PMA (Partido da Monarquia Absolutista).

E) Seriam banidas todas essas leis e regras burocráticas que só incomodam, do tipo Orçamento, Lei das Diretrizes Orçamentárias, Lei de Responsabilidade Fiscal etc. O Presidente(a) regeria o governo através de decreto-lei ou Ordem Imperial.

F) O Presidente poderia usar o nome de “Presidente(a) Imperador(triz)” ou “Imperador(triz) Presidente(a)”, a ordem não faz mal. O título de Ditador(a) seria só para efeito interno.

G) Voltariam a vigorar as Ordenações Filipinas, com suas penalidades assim descritas conforme a gravidade: Suplício, Mutilação, Tortura, Banimento, Privação da liberdade e Morte. Marcação a ferro em brasa seria substituída por tornozeleira elétrica, que daria um choque de hora em hora, cuja intensidade seria de acordo com a gravidade da pena.

H) A delação não seria premiada; pelo contrário, o delator seria fuzilado sumariamente antes de a fofoca transitar em julgado. Com isso, esses incômodos atuais não existiriam mais. E juiz que insistir em julgar o que não deve será banido para o Estado Islâmico.

Acho que assim ficaria bom. Ninguém chateia ninguém, o governo governa como quiser e o povo, ah, o povo, este vai torcer pelo Brasil nas Olimpíadas.

Um Presidente-Imperador ou Imperador-Presidente
"Esses são os meus princípios. Se você não gosta deles eu tenho outros" (Groucho Marx)

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

A comunidade em pleno samba do branquelo doido

A turma de sempre estava reunida na banca de jornais do Daniel. Nem havia dado as saudações devidas e Índio das Verduras foi logo perguntando:

- Doutor, o senhor acha que vai dar impichi?
- Dar o quê?

Chinelinho cutucou Índio dizendo baixinho: “Fala alto que ele é surdo”. E Índio repetiu a pergunta com aquele vozeirão. Respondi:
- Ah, impeachment! Não! Não acredito que ocorra.

Daniel retrucou:
- E as pedaladas, doutor? Isso não conta?

Dona Zica das Tainhas, sempre preocupada, desabafou:
- Isso é uma maldade! Só porque pegaram a dona Dilma andando de bicicleta.

Henheco, o eletricista comunista, explicou melhor:
- O motivo não é esse! É que ela atropelou uma pessoa na calçada, saiu no bom dia Brasil, vocês não viram?

O Pezinho, sentado no seu banquinho, interveio:
- Tem que dar impichi! Onde já se viu parar o Brasileirão por causa de um joguinho da seleção!

Pezinho só fala de futebol, coisa que me irrita por dentro.

Índio das Verduras mudou o rumo da conversa:
- Quem tá mal na parada é esse tal de Cunha. Vai levar um impichi, não vai, doutor?

Chinelinho não esperou a minha resposta:
- Até que eu gosto desse Cunha. Tá botando pra quebrar!

Henheco gritou:
- Outro ladrão! Tá cheio de conta no estrangeiro!

Dona BPereira, que estava de peito pra fora, dando de mamar ao seu novo filho, resolveu participar:
- Ele rouba, mas faz! É melhor do que esses que roubam e não fazem nada.

E Pezinho, lá do seu banquinho:
- Igual ao presidente do São Paulo. Roubou mas fez muito!

Daniel me perguntou:
- Mas o senhor acha que esse Cunha vai cair?
- Olha, Daniel, a situação dele não está nada boa...

Chinelinho, com a sua voz estridente:
- Se ele cair, o Lula assume!

Perplexo, perguntei:
- O Lula?

Chinelinho deu o sorriso de quem sabe das coisas:

- Ora, doutor, já está tudo combinado...


terça-feira, 13 de outubro de 2015

O retorno do Fiscal

Da série: Conversas de Botequim

- Oi cara! Há quanto tempo não te vejo!
- É mesmo. Está bebendo o quê?
- A fantástica Spézia! Uma das melhores cachaças do mundo!
- Vou nessa. Garçom! GARÇOM! Traz um cálice, por favor!
- E como vai no emprego novo? Fiscal de Posturas, não é mesmo?
- Isso aí. Estou indo...
- Puxa! Tu tá desanimado, cara!
- É... O negócio lá é meio complicado...
- O Chefe está te aporrinhando?
- Não! O Chefe é legal, também é Fiscal.
- Então, o que é?
- Espera, deixa eu provar essa Spézia... Obrigado, Garçom.
- Então, gostou?
- Huum, nossa! Que maravilha!
- Eu não disse? Mas, me conta, o que te aporrinha no trabalho?
- É a engrenagem, o sistema de trabalho...
- Não entendi.
- Eu sei, é difícil de entender.
- Você não pode explicar melhor?
- Sabe que é, no fundo serviço público é uma merda, acho que é assim em todo lugar.
- Por que uma merda?
- Você só cumpre rituais: despacha um processo aqui, atende uma pessoa ali, preenche formulários, recebe formulários, arquiva formulários, cumpre horário e vai pra casa...
- Você não faz serviço externo?
- De vez em quando, para atender uma denúncia, para cumprir uma exigência de processo...
- Isso é bom!
- Não! Isso não é bom. Só serve para cumprir o ritual, manter as coisas aparentemente em dia.
- O que você queria mais?
- Eu queria ser cobrado! Ver resultados! Ser desafiado! Ser avaliado! Na verdade, eu nem sei se trabalho direito. Aliás, ninguém lá sabe se trabalha direito.
- Serviço público é assim?
- Bem, não sei se todo serviço público é assim. Lá é assim.
- O seu chefe não avalia o seu trabalho?
- Sabe o que o meu chefe me disse? “Finja que trabalha e eu finjo que chefio”.
- O negócio então é ficar escondidinho, na moita?
- Pois é. Já me disseram que o melhor serviço é aquele que não é publicado nos jornais.
- Como assim?
- Quando um jornal ou televisão esculhamba o serviço, você se expõe, chama a atenção.
- Então, o melhor é não ser notícia...
- Exatamente.
- Mas de vez em quando vocês fazem uma blitz, interditam uma loja...
- É o que a diretoria chama de Operação Colírio. Só serve de propaganda.
- Ah, por isso que essas operações são feitas em horário de maior movimento...
- Pra todo mundo ver! Mas, no final, não dá em nada.
- É compadre, acho que você não vai dar certo no serviço público.
- Também acho, mas já estou estudando pra outro concurso.
- É mesmo? Pra qual?
- Ascensorista no Tribunal de Justiça.
- Ascensorista? Por quê?
- Porque o salário é bem maior e o ascensorista sabe exatamente o que tem de fazer, não é mesmo?
- É verdade, é só no sobe e desce, dizer bom dia, boa tarde... Vai outra Spézia?
- Vou! Vamos brindar: Viva os Ascensoristas!!

sábado, 10 de outubro de 2015

O palestrante

Olha eu aí quando dava início à palestra cujo tema era "A Deformação do Espaço-Tempo nos Chamados Buracos Negros do Universo: Uma Análise da Teoria da Relatividade de Einstein" (observem que a garrafa ainda estava fechada)

domingo, 4 de outubro de 2015

A Máquina Burocrática

Ocorrência 1:
- Eu gostaria de obter algumas informações para tirar a licença de uma obra...
- Licença de obra é no Guichê 2, aqui do lado.
- Eu gostaria de obter... ué! Não foi a senhora que me atendeu no Guichê 1?
- Foi, mas também atendo no Guichê 2.

Ocorrência 2:
 - O que faço agora, minha senhora?
- Agora o senhor vai ao Banco para pagar a taxa de vistoria, tire uma cópia da guia e retorne aqui.
(algum tempo depois)
- Aqui está a cópia da guia paga.
- Muito bem, agora o senhor vai ao Banco para pagar a taxa de liberação do alvará, tire uma cópia da guia e retorne aqui.

Ocorrência 3:
 - O meu pai morreu há dois anos e a Prefeitura continua cobrando o ISS dele.
- O seu pai fazia o quê?
- Era médico.
- Acontece que ele não pediu o cancelamento da sua inscrição.
- Mas ele morreu de repente, infarto fulminante.
- Lamento muito, mas enquanto ele não pedir cancelamento a cobrança vai continuar...
- Mas, minha senhora, ele morreu!!
- Ora, o senhor pede por ele.
- Ah bom, o que preciso trazer?
- Uma procuração específica assinada por ele.

Ocorrência 4:
 - Eu fui autuado e recebi este auto de infração pelo Correio.
- O senhor quer a guia para pagar a multa?
- Não. Eu gostaria de examinar o processo dessa multa.
- Processo? Não tem processo, é apenas uma multa.
- Mas eu preciso saber o motivo dessa multa.
- Está tudo escrito aí, no auto de infração.
- Minha senhora, o auto diz que transgredi a alínea a do inciso XXIII do art. 238 da Lei n. 040/1999. Acontece que não estou conseguindo esta lei.
- Ah, e não deve conseguir mesmo! É uma lei muito antiga, de 1999.
- Mas eu fui multado com base nessa lei!
- Sabe que é, este Fiscal é da antiga, continua usando as leis velhas.
- Mas, minha senhora, eu preciso saber por que estou sendo multado!
- Ah, não pode não!
- Não posso?
- Não pode. O senhor nunca ouviu falar em sigilo fiscal?

Ocorrência 5:
 - Eu soube que a Secretaria de Desburocratização está aceitando sugestões para desburocratizar a Administração. Eu gostaria de saber o que faço para apresentar uma sugestão.
- O senhor precisa fazer a sugestão por escrito, em espaço 2, letra Arial, papel A4. Não esqueça de assinar.
- E dou entrada aqui com a senhora?
- Não. O senhor dá entrada no Protocolo Geral no 1º andar, com firma reconhecida ou cópia autenticada em cartório.
- Precisa disso?
- Precisa. Ah, o senhor passa lá agora e já pede uma guia para pagar a taxa de expediente. O Protocolo vai exigir o comprovante do pagamento.