Sei que vai doer, mas vamos
aceitar as verdades e acabar com as nossas ilusões ingênuas: o Brasil tem uma
história de tristeza e permanente angústia. Ao ser descoberto, em 1500, não era
aquele paraíso tropical que costumam pintar. Era um lugar maldito, infestado de
animais perigosos e peçonhentos. Um lugar de enfrentamentos constantes, com o
massacre dos nativos que se rebelavam pela invasão dos brancos. Milhares de índios
foram dizimados, nas batalhas, nas doenças trazidas pelos invasores e na
subjugação como escravos.
Século seguinte foi o início do
mais odioso extermínio de seres humanos: a perseguição aos negros na África e o
transporte para o Brasil como escravos. Para plantar cana e produzir açúcar, os
negros trazidos à força eram obrigados a um regime infame e brutal, tratados da
forma mais violenta que se pode (ou nem se pode) imaginar. Grande parte não
resistia ao primeiro ano de trabalho, a exigir reposição de estoque. O comércio
de escravos era um dos mais rendosos na época. Muitos escravos fugiam e
formavam assentamentos (mocambos) e fortificados quilombos, centros de guerra e
de resistência. Quilombo dos Palmares (das palmeiras) foi um exemplo de
centenas de outros quilombos. Palmares se manteve por quase cem anos e caiu por
traição.
Século seguinte, somado ao
massacre dos índios e negros que não acabava, surgiu o ouro nas minas gerais.
Foi a maior corrida ao ouro em todo o mundo, a rivalizar com a busca do ouro da
Califórnia muito tempo depois. Dezenas de milhares de pessoas aventuraram-se a
ultrapassar a quase inexpugnável serra da Mantiqueira, a partir de Piratininga
de São Paulo e do Rio de Janeiro. Boa parte não chegava ao destino. Outras
levas de aventureiros deixavam a Bahia de Todos os Santos e seguiam o curso do
Rio São Francisco para o interior, a procura das minas de ouro. No caminho,
enfrentavam quadrilhas de bandoleiros e tocaias de índios. E ao lá chegarem,
descobriam que não havia alimento. A comida era mais disputada do que o próprio
ouro.
O governo português era cruel e
tirânico. Sua única intenção era a de sugar o máximo o que a colônia podia
produzir. Foi assim no início, com o pau Brasil, foi depois com o açúcar, e
depois com o ouro e diamantes. Exorbitavam na cobrança de tributos, e quem não
pagava era preso e tinha seus bens apreendidos. Na luta pela sobrevivência,
muitos apelavam ao descaminho do contrabando, mas, quando apanhados, eram
sumariamente decapitados.
Rebeliões surgiam a cada momento,
mas a história do Brasil não as relata, e os nossos historiadores não gostam de
contá-las. Fazem alarde somente da insurreição mineira e da figura romântica de
Tiradentes, com aquela longa barba que não usava. A independência do Brasil foi
um acordo fechado entre os próprios portugueses, os de lá com os de cá. O país,
agora independente, teve de pagar uma indenização milionária a Portugal. Uma
vergonha: a nossa independência não foi conquistada com bravura, mas com
dinheiro.
Veio depois a República, um golpe
de Estado praticado contra o reinado brasileiro, tendo por líder um marechal
que nem queria a República. Ela veio por acaso. E a história não acaba por aí.
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