Fernandinho foi embora e o mundo
ficou assim, meio vazio, vamos dizer, mais chato. Ele era o tipo de pessoa que
fazia falta, sua ausência era sempre notada: “Cadê o Fernandinho?”. Quando
chegava, o cenário se iluminava, uma espécie de condutor de energia, o ambiente
se energizava. Fernandinho era energético, trazia uma boa luz, o diodo emissor
de luz. Fernandinho era a LED dos nossos encontros. Sem ele, tudo fica mais
apagado, sem muito sentido.
E ele era assim naturalmente, sem
prepotência ou banca de artista. O seu sorriso contagiava, pegava a todos, como
se fosse um vírus da felicidade. Os aborrecimentos se afastavam, as tristezas
fugiam e iam pedir asilo em outros rincões.
E lá vinha ele mancando sobre a
prótese de sua perna imaginária. Apesar da deficiência, andava rápido, com os
braços estendidos e sempre trazendo uma novidade divertida. Olhava pra mim e
pedia sorridente: “Conta a piada do espanador!”. Ele adorava a piada do
espanador.
Fernandinho foi bancário,
radialista e propagandista. E tudo fez com a sua costumeira energia esfuziante.
Radicou-se em Belo Horizonte, mas retornou à Petrópolis, sua terra natal. Sem
nada dizer, talvez previsse o fim precoce. Morreu na terra em que nasceu.
Fui visitá-lo no fim da vida. Franzino,
caidinho, olhou-me e esboçou aquele sorriso cintilante que era só dele.
Aproximei-me o máximo para ouvir os seus sussurros. Com muito esforço, ele
disse: “Conta a piada do espanador”. Respondi: “A piada do espanador exige
muita movimentação. Vou contar a piada da lógica”. Ele concordou com os olhos.
Contei a piada da lógica, ele abriu um sorriso e depois dormiu.
Foi a última vez que vi
Fernandinho. Para quem acredita, ele deve estar energizando o Paraíso e
tornando mais alegre as reuniões dos anjos e querubins. São Pedro deve estar
perguntando: “Cadê Fernandinho?”.
Estou com inveja de São Pedro.
Queria dizer alguma coisa que prestasse, embora eu seja a primeira a ser contra esse tipo de homenagem nas mídias sociais, já que a pessoa não está mais aqui. Mas felizmente meu sogro me emprestou as palavras dele.
ResponderExcluirTambém me lembro dele pedindo para contar a piada do espanador, Roberto...
E embora eu saiba o quanto essa passagem é importante para nós, eu não consigo deixar de lamentar a sua perda.
Não tive coragem de vê-lo doente, e lamento imensamente ter registrado em minha memória a sua imagem sem vida. E uma das coisas que mais me dói é saber que Heitor e Henrique não conhecerão as piadinhas do inimigos do orégano, entre tantas outras coisas divertidas que ele dizia.
10 anos na família do Peter me trouxeram muitas coisas boas, entre elas a convivência com tios e primos que nem eram de fatos parentes meus, mas que enriqueceram a minha vida adulta.
Maravilha, Roberto! Que texto lindo! Presenciei essa última visita e também momentos maravilhosos ao lado dessa pessoa única. Assino embaixo.
ResponderExcluirLindo texto Roberto, obrigado por tão belas palavras. Abraços.
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