Extremamente aporrinhado com a derrota do Botafogo no jogo contra o Figueirense, fui de manhã comprar o pão e nem parei na banca de jornais do Daniel. A turma estava lá, em discussão acalorada; fingi que não vi e passei direto. Aconteceu o que eu temia: “Doutor!” “Doutor!”, Chinelinho me chamava. Fingi que não ouvi. “Grita mais alto, ele é surdo”, ouvi Henheco dizer ao Chinelinho. Este, com aquela sua voz estridente, deu um grito, chamando-me. Não tive alternativa, fui até lá.
A dona
BPereira foi logo falando: “Doutor, tira a nossa dúvida: esse tal de Collor,
que a polícia pegou os carros dele, já não esteve preso anos atrás?”. Respondi
firme: “Não! Ele nunca foi preso!”. Henheco sorriu triunfante: “Eu não disse!
Ele é um velho conhecido ladrão de carro, mas nunca tinha sido preso!”. Reagi: “Collor
ladrão de carro! Essa eu não sabia!”.
Chinelinho
estranhou: “Ora, doutor, o senhor não lê jornal? A polícia invadiu a casa dele
e pegou um monte de carro roubado”. E o seu Broa, com a sua fala mansa: “E só
carrão importado”. Henheco fez a sua intervenção: “Se me lembro bem,
antigamente ele roubava Elba. O negócio deve estar melhorando”.
Daniel
ponderou: “o que não entendo, doutor, é essa operação Lava a Jato se meter com
ladrão de carro. Ela não é para pegar roubalheira na Petrobrás?”.
Índio das
Verduras, que até agora estava quieto, a comer uma banana, resolveu participar
da discussão: “É por causa do desvio de gasolina, Daniel! O escândalo já chegou
aos postos de combustível!”. Dona BPereira concordou: “Por isso que se chama
lava a jato. Posto de gasolina tem lava a jato”.
Henheco, o
extremista, vociferou: “Duvido que a polícia prenda os donos das fábricas de
carro. Só vai ficar nos intermediários”. Eu já estava irritado: “Gente! Vamos
resumir: Collor não é ladrão de carro! Nunca foi preso! Ele foi é cassado da
presidência!”. O seu Broa deu um sorriso: “Que é isso, doutor. Quem foi
presidente foi um tal de PC Faria, que o Lula mandou matar”.
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