quarta-feira, 15 de julho de 2015

A operação Lava a Jato na Comunidade


Extremamente aporrinhado com a derrota do Botafogo no jogo contra o Figueirense, fui de manhã comprar o pão e nem parei na banca de jornais do Daniel. A turma estava lá, em discussão acalorada; fingi que não vi e passei direto. Aconteceu o que eu temia: “Doutor!” “Doutor!”, Chinelinho me chamava. Fingi que não ouvi. “Grita mais alto, ele é surdo”, ouvi Henheco dizer ao Chinelinho. Este, com aquela sua voz estridente, deu um grito, chamando-me. Não tive alternativa, fui até lá.

A dona BPereira foi logo falando: “Doutor, tira a nossa dúvida: esse tal de Collor, que a polícia pegou os carros dele, já não esteve preso anos atrás?”. Respondi firme: “Não! Ele nunca foi preso!”. Henheco sorriu triunfante: “Eu não disse! Ele é um velho conhecido ladrão de carro, mas nunca tinha sido preso!”. Reagi: “Collor ladrão de carro! Essa eu não sabia!”.

Chinelinho estranhou: “Ora, doutor, o senhor não lê jornal? A polícia invadiu a casa dele e pegou um monte de carro roubado”. E o seu Broa, com a sua fala mansa: “E só carrão importado”. Henheco fez a sua intervenção: “Se me lembro bem, antigamente ele roubava Elba. O negócio deve estar melhorando”.

Daniel ponderou: “o que não entendo, doutor, é essa operação Lava a Jato se meter com ladrão de carro. Ela não é para pegar roubalheira na Petrobrás?”.

Índio das Verduras, que até agora estava quieto, a comer uma banana, resolveu participar da discussão: “É por causa do desvio de gasolina, Daniel! O escândalo já chegou aos postos de combustível!”. Dona BPereira concordou: “Por isso que se chama lava a jato. Posto de gasolina tem lava a jato”.

Henheco, o extremista, vociferou: “Duvido que a polícia prenda os donos das fábricas de carro. Só vai ficar nos intermediários”. Eu já estava irritado: “Gente! Vamos resumir: Collor não é ladrão de carro! Nunca foi preso! Ele foi é cassado da presidência!”. O seu Broa deu um sorriso: “Que é isso, doutor. Quem foi presidente foi um tal de PC Faria, que o Lula mandou matar”.

Desisti. Fui à procura do meu pão e deixei os “sans culottes” da comunidade em plena discussão. Aliás, eu ali já fazia o papel de um girondino e estava prestes a ser decapitado na guilhotina. De qualquer modo, refleti: “É assim que nasce uma revolução popular. Vamos deixá-los discutir à vontade”. 

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