segunda-feira, 8 de junho de 2015

O jabuti

Da série: Conversas de botequim


- Meu Deputado Relicário Benzolino! Que prazer encontrá-lo!
- Dr. Energu Meno! Como vai essa sapiência?
- Sinto o senhor alegrinho, degustando o seu uísque. Não sabia que o Deputado bebia.
- Uma confidencialidade, doutor. Diante da plateia, somente água; em recinto fechado, faço as minhas extravagâncias. Ainda mais quando estou comemorando...
- Posso saber o motivo da comemoração?
- Claro que pode. O motivo é que consegui enfiar um jabuti na aprovação de uma Medida Provisória.
- E qual era o assunto dessa Medida Provisória?
- Ah, sei lá! Qualquer coisa sobre aumento de imposto, não prestei atenção.
- E o seu jabuti? Trata de quê?
- Do perdão de multas contra as igrejas. Um absurdo! As igrejas vão quebrar se tiverem que pagar essas multas.
- Não estou sabendo do assunto. Por que as igrejas foram multadas?
- É o seguinte: as igrejas pagam aos seus religiosos, uma espécie de salário, alguma coisa do tipo...
- Então, os religiosos são empregados das igrejas?
- Tecnicamente, não! Não tem carteira assinada. Recebem um fixo e mais uma parcela pelo desempenho. Pois a Receita Federal exige que o religioso recolha o INSS dessa diferença!
- Entendi... O jabuti diz o quê?
- Ah, fiz mais ou menos assim: “Os valores despendidos, ainda que pagos de forma e montante diferenciados, vinculados exclusivamente à atividade religiosa, não configuram remuneração direta ou indireta”. Matou, não é mesmo?
- Bem, se não configura remuneração, qual seria a origem desses pagamentos?
- Ah, doutor, o senhor está exigindo muito de mim. Sei lá, seria uma espécie de prestação de serviços.
- Bem, se for prestação de serviços os religiosos poderiam ser enquadrados como profissionais autônomos...
- Isso aí! Sem problema.
- Huum, mas se forem enquadrados como profissionais autônomos, os religiosos teriam de pagar o ISS.
- O que é isso?
- O Imposto sobre Serviços das Prefeituras. Os Municípios vão querer cobrar...
- Ora, doutor, se isso acontecer eu enfio outro jabuti em cima dos Municípios.
- O senhor, então, ficou especialista em jabuti?
- Ah-Ah-Ah, essa é boa. A propósito, o senhor sabia que não se come jabuti. Só tartaruga.
- Mas comer tartaruga é proibido...
- Para a plateia, doutor, para a plateia. O doutor vai me acompanhar no uísque?
- Não, Deputado, eu prefiro uma boa cachaça... Garçom! Traz uma Weber Haus Premium, por favor... Olha! Garçom! Dose dupla caprichada!!

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