O Senhor Gilberto Carvalho, Secretário-Geral da Presidência da República, é uma pessoa que merece respeito, mas deve ter cuidado com o vexame. Conforme diz o estatuto da nossa gafieira, dance a noite inteira, mas dance direito! Aliás, o que não é permitido, pelo artigo 120, são as regras seguintes: o distinto subir na parede, dançar de pé pro ar, morar na bebida sem querer pagar, abusar da umbigada de maneira folgazã. A gafieira brasileira também exige respeito!
Disse o nobre senhor que o modelo atual de gestão pública exibe sinais preocupantes de desgaste, e é necessário um novo projeto capaz de ir além dos temas batidos de inclusão social e distribuição de renda. Disse ele que tudo que foi feito ainda é insuficiente. E desabafa: “Fizemos tanto por essa gente e ela agora se levanta contra nós?” A expressão “essa gente” significa o povo brasileiro. E que se levanta contra o governo através das manifestações, passeatas e rolezinhos. Ao fim, está a dizer que o povo é ingrato.
Parece que o ilustre Secretário-Geral não percebeu ainda, por toda a sua existência, que povo silente, submisso e obediente é povo burro, ignorante e inofensivo. Quer manter o povo assim? Que lhe dê apenas o mínimo para sobreviver e o distraia com festas, shows, carnavais e futebol. Povo subnutrido, inculto, deseducado é povo fácil de se lidar. Sentindo-se abandonado, aceita facilmente um líder populista, aquele que lhe dá tostões e o atrai com discursos retóricos apimentados de piadinhas chulas. Há vários exemplos na História. Um deles é o Hitler.
E não vamos esquecer a compensação post-mortem. Aos tristes e desesperados as igrejas acolhem, e lhes oferecem uma vida melhor depois de morto, ou, quem sabe, algum milagre nesta vida terrena a preço módico de uma indulgência. Em outras palavras, seja bonzinho e obediente nesta vida de pobreza e será recompensado no paraíso, quiçá aqui mesmo, mediante um pagamento extra.
Todavia, se você deseja uma revolução, eduque o povo. Dê-lhe condições de pensar e você terá novos problemas a resolver, pois o povo passou a enxergar. Quem lê, pensa e acaba lendo tudo que lhe cai nas mãos, até bula de remédio se também tiver boa visão. E certamente vai ler, inclusive, o Estatuto da nossa Gafieira, principalmente os artigos dos nossos direitos. Vai entender a obrigação do Estado em prestar serviços públicos de excelência, como transporte digno para seres humanos e não para animais; tratamento de saúde que realmente trata as pessoas com educação, eficiência e rapidez; escolas que realmente ensinam e não essas atuais que fingem ensinar; moradias condignas e não essas favelas horizontais do programa “minha casa minha vida”.
O que aconteceu, de fato, na Gafieira Brasileira foi a vitória incontestável do governo Itamar Franco contra a inflação que afligiu o povo brasileiro durante o tal “desgoverno sarney”, com inflação superior a 50% ao mês. Debelada a perda escandalosa do valor real do salário, o povo passou a consumir mais, as indústrias e o comércio prosperaram e o número de empregos aumentou. A economia cresceu, o povo aprendeu a ter um gostinho, e começou a pensar, a conversar, a refletir sobre sua própria sorte. Disse o ilustre governista: “Satisfeita a demanda, a exigência passou a ser por serviços públicos”. E queria o quê? O povo continuar aplaudindo enquanto convive com esse achincalhe que chamam de serviços públicos? Que continuaria lendo apenas o artigo 120 das obrigações? Bom lembrar que o Estatuto da Gafieira Brasileira também tem os artigos dos Direitos do Cidadão.
Tá bem, moço?
PS. Aqui presto uma singela homenagem ao inesquecível samba “Estatutos da Gafieira”, de Billy Blanco.
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