- Oba! Cheguei na hora certa!
O outro, cabeça abaixada sobre o prato e com a boca escorrendo sangue, rosnou:
- Este cliente é meu. Vá caçar outro.
O banqueiro sorriu, jogou-se na poltrona e deu um suspiro.
- Está difícil, cara! Os idiotas estão sumindo!
O outro lambeu os dedos ensanguentados.
- E eu não sei? Este aqui caiu na rede por pura sorte... Era um novo rico.
O banqueiro lambeu os beiços.
- Puxa! Sorte mesmo! Um novo rico é sempre um idiota perfeito.
O outro limpou os dedos no guardanapo de linho e bebeu um gole de pinot noir.
- Principalmente os herdeiros de ricaços!
O banqueiro deu uma risadinha e cantou:
- Dinheiro na mão é vendaval, é vendaval...
O outro deu uma gargalhada e completou:
- E nós somos o furacão, o furacão.
Depois, limpou a boca do sangue e da gordura e perguntou:
- Mas, a que devo a honra de sua visita?
O banqueiro cruzou as mãos e ficou mexendo os dedos.
- Estamos precisando ampliar o nosso marketing. A nossa clientela de idiotas está diminuindo, só estou acumulando ossadas no meu cadastro.
O outro se recostou na poltrona.
- Tem razão. Às vezes dou uma chupadela nos ossos dos clientes antigos, mas só dá um caldo ralo, já chupei tudo que tinham. Tem pouca caça no mercado.
- E muita concorrência! Quando farejo um idiota já tem um monte de caçadores atrás dele.
- É verdade... E essa matilha nova, cheia de produtos inovadores, todos de alto risco, os idiotas caem direitinho na esparrela.
O banqueiro levantou-se e aproximou-se da janela, admirando a bela paisagem de torres de concreto.
- A minha mais nova esposa está querendo uma mansão em Fort Lauderdale , já cansou de Miami Beach. Estou precisando de sangue novo, meu caro!
- E qual é a sua ideia?
O banqueiro virou-se para o outro.
- Vamos financiar a corrupção! Vamos emprestar dinheiro aos corruptores e comer os corruptos! Vamos ganhar dos dois lados!
O outro se levantou e deu um passeio na sala com as mãos nos bolsos.
- Huum, interessante... Mas como vamos divulgar esse programa? Não podemos sair por aí falando: Financiamos a corrupção!
- Claro que não! Mas insinuaremos do tipo: Nós resolvemos todos os seus problemas tributários e de burocracia! E o resto é conversa ao pé do ouvido.
O outro deu um sorriso.
- Gostei! O resto é com o pessoal de marketing. Eles são muito criativos.
- Exatamente! Você já pensou quantos idiotas gordinhos estão doidos para ganhar uma propina e não sabem como fazer? Imagine quantos fígados teremos para comer!
O outro levantou os braços.
- E ainda podemos oferecer consultoria aos iniciantes na corrupção, coisas como estabelecer preço, iniciar a negociação, exigir condições, dar garantias, e assim por diante. Está aí! Topo! Prepare o ‘paper’ e marquemos uma reunião com o Marketing.
O banqueiro é todo sorriso.
- Ótimo! Deixa comigo... E me diz uma coisa... Você não vai comer aquele coração? Só comeu o fígado do novo rico!
- Estou querendo emagrecer. Se quiser, mando preparar uma quentinha para você...