Ser puxa-saco requer técnica, ciência e sabedoria. O puxa-saco profissional usa a psicologia e estuda minuciosamente o saco que pretende puxar, nada de amadorismo e vã bajulação. O puxa-saquismo é uma ciência, cujo estudo e conhecimento podem se estender por toda a vida, embora possam existir pessoas que nasceram com o dom da bajulação, sendo, então, assunto de discussão acadêmica se o puxa-saquismo tem origem genética. Certa vez, uma velha professora de primeiro grau disse à outra: “aquele menino vai longe, toda semana me traz uma maçã”. A outra deu uma tossida e disse: “Pra mim também, é um puxa-saco nato”.
O puxa-saco profissional é inteligente e conduz sua vida a agradar pessoas do seu interesse. Ele tem a capacidade de conhecer as fraquezas humanas. Em geral, dispensam às suas vítimas um tratamento especial, e aos demais uma visível intolerância. A quem não interessa bajular trata com desprezo e arrogância, para lhe dar a devida compensação emocional, o equilíbrio que lhe faz suportar o terrível ódio de ter a necessidade de bajular algumas vítimas. O bajulador odeia o bajulado, mas tem a capacidade de disfarçar esse ódio com a simulação dos agrados, fingimento que escapa à percepção do bajulado menos atento.
Uma das mais árduas tarefas do puxa-saco é a de bajular sem que o bajulado perceba a falsidade da bajulação e considere aquele tratamento como o mais natural possível. Vai daí que a pessoa bajulada precisa ser, também, vaidosa, a tal ponto que a faça pensar como perfeitamente natural a bajulação recebida. Por outro viés: o puxa-saquismo só repercute em pessoas idiotas, desprovidas de bom senso, racionalidade ou coerência.
Os idiotas gostam de ouvir os agrados e chegam a se sentir merecedores deles. São esses os alvos mais fáceis do puxa-saco profissional, pois ao perceber a fraqueza do outro investem firmemente na bajulação, como meio de algo conseguir. Por isso, diz-se que todo bajulado tem o puxa-saco que merece.
A bajulação é efêmera, só existe enquanto o bajulado ocupa um cargo importante ou tem um poder a ser aproveitado pelo puxa-saco. Destituído do cargo ou perdido o poder, o antes bajulado passa a sofrer do abandono e do afastamento dos antigos bajuladores. Os idiotas sofrem com essa brutal e repentina solidão, não mais procurados pelos antigos puxa-sacos que alimentavam o seu ego com falsos elogios e mimos. Em geral, morrem de depressão ou viram alcoólatra.
Mas, existem também os puxa-sacos amadores, mais idiotas que os que gostam de ser bajulados. São comuns frases desse tipo dos puxa-sacos amadores: “Falar com você já melhorou o meu dia!”; “Vim trazer-lhe um presentinho; sei que você aniversaria no mês que vem”; “Que saudade! Todo dia eu me lembro de você!”; “Nossa! Você remoça a cada dia!”; “Posso adentrar em seu augusto gabinete, chefinho?”. E o funcionário para o chefe tarado: “Chefinho, desculpe estar de costas pro senhor”.
O puxa-saquismo é uma ciência que precisa ser instituída em nossas escolas de ensino superior. Se assim fosse feito a bajulação passaria a ser mais transparente e exercida com base na ética das relações humanas. A bajulação simplória e gratuita seria, por exemplo, considerada crime de assédio moral. Dar maçã para a professora seria “bullyng”. E forte atenuante quando a gente matasse o idiota que veio com aquela frase: “ver você já melhorou o meu dia”.
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