A abelhinha princesa sai em seu voo inaugural, pela primeira vez livre da escuridão do casulo e da vigilância das obreiras, primeira vez e provavelmente a única de sua vida em total liberdade, sem estar sujeita aos zelos e proteções maternais. O prazer da aventura a conduz às alturas, caminhos desconhecidos na amplidão do céu, desatenta aos perigos que a cerca, a chuva repentina e os bicos gulosos dos predadores. As obreiras aguardam em casa, aflitas, o retorno feliz da virgem.
Em sua perseguição voam os machos, os zangões, centenas ou milhares a depender da colmeia, pois quanto mais próspera a colmeia menos macho possui, quanto mais pobre maior o seu número, a ensinar que a prosperidade racionaliza a proliferação de filhos, nunca o contrário.
Um único macho alcança e se agarra à princesa, fecundando-a, mas perde o seu abdômen na realização do ato sexual, que se gruda ao corpo da abelhinha. Este macho, feliz ou infeliz, morre e o seu corpo desaba ao solo, enquanto os demais, já cansados da viagem inútil, retornam às suas casas.
A legião de machos não trabalha, empanturra-se do mel da colmeia e dorme. São maiores em tamanho do que as virtuosas obreiras, eles consomem mais, sujam mais, bagunçam o ambiente, importunam as trabalhadoras, estas tão zelosas na limpeza da casa, na produção e armazenagem do alimento. Os machos são agora um transtorno, uma turma de mandriões, vagabundos, suas presenças na colmeia transforma-se em problema vital a ser resolvido.
E assim, em determinado momento, momento imprevisível, rebelam-se as abelhinhas obreiras contra a inutilidade daqueles machos imprestáveis. Ocorre a rebelião! As trabalhadoras atacam os machos com seus ferrões e veneno, furiosas contra aqueles vadios grandões, comilões e sujos. Os machos são maiores, mas não dispõem das armas das obreiras, não possuem ferrões nem veneno. São cercados e aniquilados!
Terminado o extermínio, as abelhinhas intrépidas removem os corpos mutilados dos machos da cidade da colmeia. Asseadas, limpam tudo, reorganizam a casa, finalmente acabou a exploração dos inúteis, estão livres daqueles que só consomem e nada produzem.
E fica a pergunta: quem é mais inteligente, a abelha ou o homem?
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