Estamos vivenciando uma enorme mudança social em nossa “avenida brasil”, por onde circula a atual sociedade brasileira, em sua concepção mais pura e afastada de estereótipos aos quais estávamos acostumados. A grande massa miscigenou-se, fundiu-se num só bloco subcultural e desintelectualizado, não importa qual seja sua classe econômica. Exclui-se, apenas, um número ínfimo de pessoas “escondidas” em grotões de convivências intimas ou cavernas de isolamento, seus pequenos espaços onde ainda procuram viver alienados ao tenebroso mundo que os cerca.
O Brasil atual é formado de uma casta única, cujo sentido de vida gira em torno de levar a vida e abocanhar o que puder dos demais, seja quem for. As vítimas do passado transformaram-se também em predadores, e estamos vivendo numa sociedade em que todos são predadores e presas ao mesmo tempo. Até mesmo nas relações familiares, cada um lutando para não ser a presa dos demais, todos disputando suas vítimas com os demais predadores. O velho refrão de que o homem é o lobo do homem generalizou-se por completo.
A tese comunista da luta de classes caiu por terra. A luta agora é do indivíduo, contra os seus iguais ou desiguais. Velho ditado que desaba sobre nós: cada um por si, e ninguém se importa se Deus estiver por todos. De forma respeitosa, Deus foi afastado da disputa, colocado em local inatingível e sua presença somente reclamada em situações de desespero.
A antiga “moral familiar” desintegrou-se, desapareceu. Os pais não podem mais incutir nos filhos os sentimentos da antiga moralidade, como aprenderam em suas épocas, porque tais sentimentos são caretas e avessos à realidade atual. Atitudes enérgicas de ensino foram radicalmente abolidas porque ferem os princípios atuais dos tais “direitos” das crianças. Um simples castigo de manter uma criança recolhida em casa é ridicularizado, desaprovado e abominado.
A conversa familiar, a antiga troca de palavras de pais e filhos não existe mais. As crianças, muito cedo, percebem que seus pais nada têm de útil e prático a lhes dar em lições de vida, e aprendem os ritos da sobrevivência nas ruas ou nos meios modernos de informação. Vão aos pais apenas para pedir bens materiais e os consideram obrigados a atendê-los, não importa o custo do atendimento. Os pais não sabem mais dizer não aos filhos. E, em muitos casos, não negam seus pedidos por temer retaliações e revoltas.
Nas famílias de maiores recursos, as crianças se isolam por detrás de seus “smartphones”, “tablets” e computadores, que se tornaram seus meios de comunicação e aprendizagem. E a maioria dos pais não se importa com esse isolamento, melhor assim do que incomodá-los com perguntas e reclamos.
A nivelação cultural foi alcançada por baixo. Escolas públicas ou particulares são todas iguais, e as raríssimas exceções estão acabando. O ensino amesquinhou-se, o bom professor se acomoda e não mais cuida do futuro dos alunos, pois precisa cuidar de si próprio para não ser devorado.
A ética empresarial foi para o espaço. O fundamental é atrair clientes e espoliá-los de todas as formas possíveis. Tentar enganá-los na melhor forma do Direito, ou ludibriar as normas legais, o que não é difícil. A regra atual das empresas de “agregar valores” nada mais é do que sugar todo o sangue possível de suas vítimas incautas, como um vampiro faminto. Ao cair nessa armadilha, o mais difícil é desvencilhar-se de suas malhas, como um peixe das redes do arrastão. Atualmente, no Brasil, não há mais sentimento de vergonha de quem for apanhado furtando um cliente, e este ato não mais escandaliza ninguém. Ser furtado na conta de um restaurante, de um hotel, de um posto de gasolina, surgir “novos produtos” para pagar, sem tê-los pedido ou encomendado, receber mercadoria defeituosa, receber troco a menos, tudo hoje é muito natural e faz parte do cotidiano. Cada um que se defenda por si mesmo, cada um que espreite e ataque sua próxima vítima.
Esta é a avenida pela qual os brasileiros transitam para destino ignorado.
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