O Lobo e a cobra
O lobo enviou mensageiro à cobra, a pedir o fim de tantas mortes inconsequentes. “Tu és cobra venenosa, mas pequena, não me comes em razão do tamanho, mas me matas se, por acaso, eu te pisar. E enquanto o veneno não faz efeito, eu te mato porque me mordeste, embora tu não sirvas como alimento para mim. Façamos, pois, um acordo de paz: se eu te pisar, não me morda e não te matarei”.
A cobra enviou resposta: “Sou pequena, concordo, e tu és mais poderoso do que eu. Mais famoso e conhecido, já foste até rei das selvas quando derrubaste o leão Fernando e seus seguidores. Hoje, tu não és nada, apenas poderoso pela fama do passado. Eu não sou nada, mas congressista eu sou, ainda tenho os meus votos e meu séquito. Se tu queres um acordo, que venhas conversar à minha casa, ao meu ninho de cobras, que te receberei de bom grado”.
O lobo relutou. Preferia um lugar neutro, a casa de um ex-ministro, por exemplo. Mas, tão importante seria um acordo entre eles, a manter vivo o lobinho que já ensaia os primeiros passos, com o risco de ser picado e acabar envenenado na sofreguidão de suas aventuras. Além do mais, a cobra, embora pequena, é perigosa e enganadora, gosta de dizer-se imparcial, de ter vida própria, e, de repente desferir um bote traiçoeiro. Resolveu visitá-la e selaram o acordo de paz.
Quem não gostou foi a onça, já um tanto idosa, porém respeitadíssima. Disse ao lobo: “Mais uma vez tu me decepcionaste, agora a fazer acordo com um reles inimigo secular. Posso não ter mais dentes, mas minhas garras ainda são afiadas e, acredite, mais perigosas que a picada da cobra. Prefiro aliar-me ao leão do que desfilar com aquela horrenda figura”. E o lobo respondeu: “Se tu ficares ao lado do leão, terei certeza de que fiz a opção correta”.
Moral (surrada) da fábula: Diga-me com quem andas e direi quem és.
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