Fui de manhã comprar o pão de
cada dia e encontrei diversos conhecidos da comunidade conversando em frente da
banca de jornais do Daniel. A dona BPereira estava, como sempre, exaltada: “Por
que a polícia não mete a porrada? Polícia só bate em pobre!”, dizia ela com as
mãos segurando a barriga enorme. Dona BPereira vive grávida, já é o seu estado
normal.
Quis saber o assunto da discussão
e o Daniel me explicou que o tema era a roubalheira na Petrobrás. Dona BPereira
interveio: “Não é isso que estamos discutindo! Eu quero saber por que essa tal
de Djanira ainda não foi presa!”.
Seu Broa concordou com aquela sua
voz mansa: “Neste ponto, concordo com a BPereira; essa tal de Djanira já foi
encontrada em várias casas de criminosos e sempre é solta. Deve ter um baita
pistolão”.
“Djanira?”. O Daniel
explicou: “Sabe que é doutor? O jornal está dizendo que a polícia entrou numa
casa ontem e prendeu novamente essa tal de Djanira. Em toda invasão de casa lá
está ela!”.
Chinelinho, com sua voz
estridente, gritou: “E tem um tal de Picasso que também já foi preso um monte
de vezes!”. O Índio das Verduras protestou: “Oh, Chinelinho, modera a sua boca!
Têm senhoras no recinto! Nada de palavrão!”. Dona BPereira deu uma gargalhada: “Não
liga não, Índio, homem que se diz picasso vai ver na hora não tem nada, kkkkkk”.
O Henheco, o eletricista
extremista, comentou furioso: “Na verdade, só estão prendendo os comunistas. A
burguesia está solta. Numa dessas invasões pegaram um gringo, um tal de Land Rover,
e nunca mais tivemos noticia dele”.
Resolvi entrar na conversa: “Mas, Henheco,
vários empreiteiros foram presos...”. Ele deu uma risadinha irônica: “Ora,
doutor, foram presos por que ajudaram o PT. O senhor não ouviu falar no bom
burguês?”
A dona Zica da Tainha entrou na
conversa: “E os ratos? Jogaram ratos na dona Dilma”. Henheco voltou a carga: “Ratos
não! A burguesia nem conhece rato e jogou aquele porquinho da Índia pensando
que era rato!”.
Fiz outra intervenção: “Não era porquinho da Índia, era Hamster”.
Henheco: “Era o quê?” Respondi: “Hamster, parece rato, mas não é”.
Ele deu um sorriso irônico: “Estão
vendo? Até rato de burguês tem nome diferente”.
Seu Manuel gritou na frente da
padaria: “Já saiu o pão!”. Aproveitei a deixa, caí fora e fui comprar o meu
pão. De longe, ouvi Chinelinho perguntar ao pessoal: “Será que esse gringo,
esse tal de Hamster, vai ficar na cadeia?”.
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