O projeto de lei
aprovado na Câmara e que seguiu para deliberação do Senado prevê, entre outras
coisas, a terceirização das atividades fins do contratante, ou seja, das
atividades que são o foco da empresa. Com isso, pretende-se derrubar a Súmula
331 do Tribunal Superior do Trabalho, que limita a terceirização às atividades
meios, ou atividades auxiliares.
Ao ser aprovado na
Câmara, o projeto vedou a terceirização de atividades fins nas empresas
públicas e estatais, mas o governo federal tenta convencer o Senado a retirar
essa vedação, sob a alegação de que as empresas públicas e estatais perderão
competitividade perante os concorrentes.
Se tal absurdo for
permitido, será extinto o concurso público, o mais precioso instrumento, e
talvez o único, que dá respaldo ao princípio da isonomia, ou, então, o maior
obstáculo à prática do nepotismo. Não tenho dúvida de que atividades de carreira são preenchidas mediante concurso público. Vai daí que a medida, se for aprovada, viola frontalmente a Constituição Federal.
Imaginem os gerentes
do Banco do Brasil e da Caixa Econômica terceirizados. Imaginem os engenheiros
da Petrobrás terceirizados. Imaginem os auditores fiscais terceirizados. Os
professores, os médicos (parte já é), os vigilantes sanitários, os fiscais
ambientais, os procuradores. Imaginem os técnicos administrativos, os técnicos
de informática, os técnicos do IBGE, do BNDES, do Banco Central, tudo
terceirizado. A estripulia seria fácil de armar: monta-se uma empresa
fornecedora de mão de obra e fecha-se contrato. Os companheiros e companheiras,
os amigos, os aparentados e semiaparentados, os parasitas de passeatas, todos
aqueles que não têm a mínima condição de ser aprovado em concurso público,
ingressam pelas janelas escancaradas da terceirização.
A Petrobrás, por
exemplo, possui atualmente 86 mil funcionários efetivos e, pasmem prezados
leitores, 360 mil servidores terceirizados! Esses 86 mil funcionários
ingressaram por concurso público e ainda são eles que tentam desesperadamente
segurar a barra de uma empresa destroçada pelo achincalhe e pela vergonha.
Somente o governo
federal tem: 39 Ministérios; 128 autarquias; 34 fundações; e 140 empresas
estatais. Sem falar nos governos estaduais e municipais. Apenas para exemplo, a
Prefeitura da Cidade de São Paulo tem 26 secretarias e 31 subprefeituras, além
das suas autarquias, empresas públicas, conselhos e comissões especiais. Emprego
com folga para todos os amigos do rei ou da rainha!